Governo envia primeiros aviões à China para buscar máscaras e desviará de EUA e Europa

Ideia é evitar confisco de mercadorias por países mais atingidos por pandemia

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Brasília

O governo brasileiro vai enviar nesta quarta (15) à China aviões que buscarão a primeira parte dos 240 milhões de equipamentos de proteção individual adquiridos pelo Ministério da Saúde em meio à pandemia do coronavírus.

A definição desta rota e das próximas adotadas pelo governo leva em consideração fatores geopolíticos e evita países da Europa e os Estados Unidos, onde há maior chance de confisco de carga.

Segundo o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, dois aviões da Latam sairão de Abu Dhabi nesta quarta com destino a Xiamen, na China, onde buscarão 15 milhões de máscaras, equivalentes a cerca de 53 toneladas de equipamentos.

Na volta, as aeronaves farão uma parada em Doha, no Qatar, para abastecimento, e em seguida se dirigirão ao aeroporto de Guarulhos. Serão voos de Estado, o que garante prioridade em pousos e decolagens.

Avião com carga de suprimentos médicos que parte da China para o Japão - Zhang Haobo -14.abr.2020/Xinhua

No primeiro deslocamento, o ponto de partida será Abu Dhabi, porque as aeronaves estão em manutenção na cidade. A escolha foi uma questão de oportunidade, já que o local é mais próximo da China.

De acordo com Freitas, os aviões devem desembarcar em Xiamen até quinta (16) e chegarão ao Brasil até a próxima terça (21). O deslocamento leva cerca de 20 horas. A demora se deve à negociação do Ministério das Relações Exteriores com os chineses para a liberação da carga.

O modelo dessas aeronaves é o 777, da Boeing. Como são aviões de passageiros e não cargueiros, o Ministério da Infraestrutura trabalhou junto à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para que ela autorize o carregamento dos produtos no porão e também na cabine dos aviões, otimizando espaço.

Segundo o ministro, esse deslocamento específico será custeado pelas Lojas Americanas, que ofereceram uma doação ao governo. O custo é de US$ 13 (R$ 67) por quilo.

Depois que chegarem ao Brasil, a carga deve ser distribuída aos estados no dia seguinte. Aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) devem ser usados na logística.

A compra total feita pelo Ministério da Saúde soma 960 toneladas de equipamentos. Parte da carga será buscada em Xiamen, e outra, em Guangzhou. Serão necessários cerca de 40 voos para deslocar toda a carga.

O Ministério da Infraestrutura está fazendo cotações com empresas privadas para avaliar qual oferecerá a melhor opção de frete. A Latam é uma das fortes possibilidades, segundo Freitas.

"Espero trazer tudo em seis a nove semanas", acrescenta o ministro.

A rota que será adotada nos próximos voos ainda não está definida. A tendência é que se faça, para as aeronaves que saiam do Brasil, um deslocamento passando pelo Chile e pela Nova Zelândia para depois chegar à China, tanto na ida quanto na volta.

O governo também estuda rotas pela África e o Oriente Médio.

Testes foram feitos em voos para trazer cargas doadas pela Vale. Houve aviões que passaram pela Etiópia e outros que fizeram paradas em Abu Dhabi e Doha. Os estudos levam em conta questões geopolíticas.

À tarde, em entrevista coletiva, o ministro definiu duas opções de rotas. A primeira, via Oriente Médio, com possibilidade de paradas em Dubai, Doha e Tel Aviv. A outra, pela África, tem Etiópia e Togo no itinerário.

Segundo integrantes do governo, em nenhum desses locais se vislumbra a retenção de cargas.

O novo embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, disse à Folha que são fake news os relatos de que os EUA estão confiscando carregamentos de equipamentos médicos destinados ao Brasil.

De acordo com ele, muitos fornecedores estão dizendo que os carregamentos foram bloqueados pelos EUA como desculpa para poder vender os equipamentos a preços maiores para outros clientes.

Alemanha e França estão entre os países que reclamaram recentemente de que Washington está pagando valores muito acima do preço de mercado por máscaras vindas da China. O secretário do Interior de Berlim, Andreas Geisel, chegou a descrever o ocorrido como "pirataria moderna".

Colaborou Daniel Carvalho

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