Justiça indicia premiê e 3 ex-ministros por negligência em explosão no porto de Beirute

Relatório mostra que Hassan Diab sabia do potencial explosivo de carga; ele nega

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Beirute | Reuters

Fadi Sawan, juiz responsável pela investigação da explosão no porto de Beirute, acusou o primeiro-ministro interino, Hassan Diab, e três ex-ministros de negligência no episódio que, em 4 de agosto, causou mais de 200 mortes e deixou em ruínas a região portuária da capital.

Além do premiê, os ex-ministros Ali Hassan Khalil (Finanças), Ghazi Zeaiter e Youssef Finianos (ambos de obras públicas) também foram indiciados, informou a agência de notícias estatal NNA nesta quinta (10).

Em um comunicado, o primeiro-ministro disse que suas mãos estão limpas, que lidou de forma transparente com a investigação e que ficou surpreso por ter sido acusado pelo juiz.

Em julho, Diab e o presidente do país, Michel Aoun, haviam sido alertados por autoridades sobre o risco de uma explosão no porto de Beirute, segundo relatório produzido pela Direção Geral de Segurança do Estado, órgão responsável pela supervisão da segurança portuária.

O primeiro-ministro Hassan Diab ao anunciar renúncia após explosão em Beirute
O primeiro-ministro Hassan Diab ao anunciar renúncia após explosão em Beirute - 10.ago.20/Dalati e Nohra/Governo do Líbano via AFP

Além de deixar ao menos 6.000 pessoas feridas, a tragédia desencadeou uma onda de protestos contra o governo libanês, aprofundando as crises política e econômica no país.

A explosão foi causada por uma carga de 2.750 toneladas de nitrato de amônia, produto químico altamente explosivo, armazenada de forma inapropriada durante seis anos no porto da cidade.

Zeaiter assumiu o ministério de obras públicas e transportes em 2014, logo após a chegada do navio Rhosus que trouxe o estoque de nitrato de amônio para o porto da capital libanesa. Ele disse à agência de notícias Reuters que se pronunciaria assim que fosse oficialmente informado das acusações.

Finianos e Khalil, um dos principais assessores do influente presidente do Parlamento do Líbano, Nabih Berri, não foram encontrados para comentar as acusações.

A investigação foi aberta há quatro meses. Quando a explosão aconteceu, as autoridades prometeram que os responsáveis seriam apontados em poucos dias.

Não há consenso entre advogados se a lei local torna ex-ministros ou atuais imunes nessa investigação.

Para Nizar Saghieh, chefe da Agenda Legal, organização de pesquisa e advocacy (articulação política e social), a ação desta quinta mostra que o juiz Sawan acredita que a imunidade não se aplica neste caso. "Isso é uma coisa positiva. Significa que abriu a porta para que os ministros prestem contas", disse.

Uma importante fonte na área jurídica, no entanto, afirmou à agência de notícias Reuters que o juiz não tinha o poder de indiciar parlamentares e ministros. Esse tipo de ação caberia a um tribunal especial, formado por sete legisladores e oito magistrados.

No mês passado, Sawan enviou uma carta pedindo ao Parlamento que investigasse dez ex-ministros. Quando questionado sobre o documento, o presidente da Casa disse apenas que "nós fizemos o que precisava ser feito e respondemos a ele", sem oferecer detalhes.

Diversas autoridades foram detidas após a explosão, incluindo os chefes do porto e da alfândega. Dezenas de outras foram convocadas a testemunhar, incluindo Diab e seus ex-ministros.

O cenário político no Líbano é tenso desde o ano passado, quando uma onda de protestos levou à renúncia do primeiro-ministro Saad Hariri, em outubro.

Hassan Diab assumiu em janeiro deste ano, mas anunciou sua renúncia seis dias após a explosão. Ele, porém, continuou como premiê interino até que um novo governo fosse formado no país.

Um mês após a tragédia, o presidente nomeou o embaixador Mustapha Adib, que tinha o apoio da França, para a função. Adib, no entanto, não conseguiu formar maioria legislativa e também deixou o cargo menos de um mês após ter sido escolhido.

Em outubro deste ano, Hariri voltou a ser escolhido para ser primeiro-ministro após obter maioria apertada no Parlamento: 65 votos dentre os 120 congressistas. Como ainda não conseguiu formar seu gabinete, Diab continua na posição de maneira provisória.

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