Após invasão, Congresso confirma vitória de Biden, e Trump promete 'transição ordeira'

Republicano desiste de reverter resultado das urnas um dia depois de insuflar apoiadores a invadir Capitólio

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São Paulo

​Após o Congresso dos EUA confirmar a vitória de Joe Biden nas eleições em uma sessão histórica marcada por cenas de violência em Washington e que terminou na madrugada desta quinta (7), Donald Trump prometeu que "haverá uma transição ordeira em 20 de janeiro", dia em que deixará a Casa Branca.

Assim, o republicano indicou ter desistido de reverter o resultado das urnas. A decisão aconteceu horas depois de ele insuflar uma multidão de apoiadores a invadir o Capitólio, a sede do Legislativo americano, em um ataque à democracia dos EUA.

"Embora eu discorde totalmente do resultado das eleições, e os fatos estão do meu lado, ainda assim haverá uma transição ordeira em 20 de janeiro", disse Trump em um comunicado publicado no Twitter de seu diretor de redes sociais, Dan Scavino, uma vez que diversas plataformas de internet bloquearam temporariamente a conta do presidente após os episódios de violência registrados nesta quarta (6).

O presidente dos EUA, Donald Trump, durante comício em Dalton, na Geórgia - Mandel Ngan - 4.jan.21/AFP

"Sempre disse que seguiríamos nossa luta para garantir que apenas os votos legais fossem contados. Ainda que isto represente o fim do maior primeiro mandato na história presidencial, é apenas o começo da nossa luta para fazer a América grande outra vez", escreveu Trump, mencionando o slogan de campanha.

A confirmação dos votos do Colégio Eleitoral pelo Congresso era a última etapa processual antes da posse de Biden. No entanto, o ritual de transição pacífica de poder, geralmente protocolar, foi ameaçado quando extremistas interromperam a sessão e forçaram os legisladores a procurar abrigo.

A invasão aconteceu poucos minutos depois de o próprio presidente americano, durante manifestação na capital do país, Washington, insuflar ativistas a se dirigirem até a sede do Legislativo.

O Capitólio viu um cenário de caos. Ao menos quatro pessoas morreram na região próxima à sede do Congresso durante os enfrentamentos, entre as quais uma mulher baleada por um agente de segurança. Outros três óbitos foram registrados em decorrência de “emergências médicas”, segundo a polícia.

Mais de 50 policiais ficaram feridos, vários em estado grave, e 68 pessoas foram presas, 61 das quais por desrespeitar o toque de recolher imposto pela prefeita de Washington, e 7, por posse ilegal de armas.

Os congressistas retomaram os trabalhos por volta de 20h (22h em Brasília), após as forças de segurança retirarem os invasores do local.

A sessão seguiu durante a madrugada, pois aliados de Trump no Congresso apresentaram objeções em uma tentativa de invalidar o resultado das urnas nos estados de Arizona e Pensilvânia.

Nas duas Casas, o placar das votações arruinou qualquer esperança de que as contestações provocassem alguma mudança na vitória de Biden. O questionamento ao resultado do Arizona foi rejeitado com placar de 303 a 121 na Câmara e 93 a 6 no Senado. A objeção aos votos do delegados da Pensilvânia perdeu por 282 a 138 entre os deputados, e 92 a 7 entre os senadores.

Na tarde desta quinta, Biden culpou Trump pela invasão do Congresso e afirmou que o republicano insuflou "uma multidão a atacar o Capitólio". "Isso não foi dissidência, não foi desordem, não foi protesto”, disse ele. “Foi um caos. Não se atrevam a chamá-los de manifestantes. Eles eram uma turba violenta. Uma insurreição. Terroristas domésticos”, completou o presidente eleito.

A escalada da violência também isolou Trump dentro de seu partido. Membros de seu governo, bem como congressistas da oposição e organizações empresariais, chegaram a discutir medidas para retirar Trump do poder antes dos 13 dias que faltam para o término de seu mandato.​

Os democratas do Comitê Judiciário da Câmara enviaram uma carta ao vice-presidente Mike Pence argumentando que a conduta recente do presidente se enquadra na hipótese prevista na 25ª Emenda da Constituição dos EUA, que permite que um presidente seja removido caso seja considerado incapaz de seguir no cargo pelo vice-presidente e pela maioria de seu gabinete.

Tanto a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, quanto o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, fizeram coro aos pedidos para Trump ser afastado do cargo. A deputada ameaçou inclusive dar início a um processo de impeachment caso Pence não invoque a 25º Emenda.

Pouco antes da invasão, o próprio Pence, assim como líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, romperam publicamente com Trump por rejeitarem a tentativa de impedir a confirmação do resultado das eleições. "Àqueles que criaram caos na nossa capital hoje: vocês não venceram. A violência nunca ganha", disse o vice ao retomar a sessão de certificação, referindo-se aos extremistas.

Os três últimos antecessores de Trump na Casa Branca também condenaram o que se viu na capital americana nesta quarta. "Momento de grande desonra e vergonha ao nosso país", escreveu o democrata Barack Obama em um comunicado publicado no Twitter.

O republicano George W. Bush, referindo-se à invasão do Congresso, disse que "é assim que os resultados são disputados em uma república de bananas" e, sem mencionar Trump, afirmou estar "chocado com o comportamento imprudente de alguns líderes políticos desde as eleições" de 3 de novembro.

O ex-presidente democrata Bill Clinton também se manifestou sobre o ocorrido, chamando a invasão do Capitólio de um "ataque sem precedentes ao país". "O ataque foi incentivado por mais de quatro anos de política venenosa espalhando informações falsas, semeando desconfiança em nossos sistema e colocando americanos uns contra os outros", escreveu.

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