Descrição de chapéu Governo Biden

EUA e Irã concordam em realizar diálogos indiretos para reviver pacto nuclear

Países que assinaram acordo em 2015 vão se encontrar em Viena na próxima semana

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Bruxelas e Paris | Reuters

Autoridades do Irã e dos EUA viajarão a Viena na próxima semana como parte dos esforços para reviver o pacto nuclear de 2015 entre Teerã e as maiores potências do mundo, embora os dois países não planejem negociar diretamente, confirmou o Departamento de Estado americano nesta sexta-feira (2).

Mesmo sem diálogos cara a cara, a presença de Teerã e Washington na capital austríaca a partir do dia 6 marcará uma importante etapa para trazer todos os lados do acordo de volta à discussão. O objetivo é chegar a um novo trato dentro de dois meses, afirmou uma autoridade da União Europeia (UE).

O ex-presidente Donald Trump tirou os EUA do acordo em 2018 e reimpôs sanções ao Irã, provocando a violação, por parte de Teerã, de algumas das restrições nucleares acordadas anteriormente.

O sucessor do republicano, Joe Biden, por sua vez, quer reviver o trato, mas os dois países discordam sobre quem deve dar o primeiro passo para retomar as negociações. O democrata era vice-presidente dos EUA, durante a gestão de Barack Obama, à época da assinatura do acordo.

O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, durante entrevista coletiva em Washington
O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, durante entrevista coletiva em Washington - Carolyn Kaster - 31.mar.21/AFP

O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, confirmou que Washington se reunirá com parceiros europeus, além da Rússia e da China, para identificar temas relativos ao retorno ao pacto nuclear.

"Ainda estamos no começo e não prevemos um avanço imediato, pois haverá discussões difíceis pela frente. Mas este é um passo saudável", afirmou Price em um comunicado. "Não prevemos conversas diretas com o Irã por meio desse processo, embora os EUA permaneçam abertos a elas."

Para Abbas Araghchi, negociador iraniano para o pacto nuclear, o retorno dos EUA ao acordo dispensa conversas, e o caminho para tal decisão está livre, de acordo com a TV estatal do país persa. Teerã insiste que, desde que Washington foi a parte que deixou o trato, os americanos precisam retornar a ele antes do Irã, uma posição que põe obstáculos ao ambiente que os diálogos em Viena buscam oferecer.

Mikhail Ulyanov, embaixador russo para organizações internacionais em Viena, disse que, aparentemente, "estamos na rota certa, mas o caminho à frente não será fácil e vai pedir esforços intensos". "As partes interessadas parecem estar prontas para isso.”

As negociações buscarão formular uma lista de sanções que os americanos poderão retirar e, do outro lado, de compromissos que os iranianos podem cumprir em relação a seu programa nuclear, segundo um diplomata da UE. Alcançar um consenso, diz ele, deve levar mais de dois meses de diálogos. O funcionário afirma que, caso as negociações fracassem após esse período, "definitivamente seriam más notícias".

Nesta sexta, Irã, China, Rússia, França, Alemanha e Reino Unido, todos membros signatários do acordo de 2015, realizaram encontros virtuais para detectar onde é possível progredir para a retomada do trato.

No Twitter, o chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, escreveu que o objetivo é finalizar rapidamente a retirada de sanções, o que, segundo ele, será seguido por "medidas corretivas" de Teerã. "Sem reuniões entre Irã e Estados Unidos. Desnecessário", acrescentou o ministro das Relações Exteriores do país persa.

Uma autoridade iraniana disse que o enviado dos EUA ao Irã Rob Malley e o Conselheiro de Segurança Nacional Jake Sullivan devem ir a Viena, mas voltou a descartar quaisquer reuniões diretas ou indiretas entre funcionários dos dois países na capital austríaca.

Segundo a estatal Press TV, citando uma fonte não identificada, o Irã rejeitará uma retirada passo a passo das sanções na reunião da próxima semana. “Em linha com a orientação imutável do líder [supremo] do Irã [o aiatolá Ali Khamenei], qualquer resultado que se baseie em uma remoção passo a passo das sanções ou em negociações indiretas com os EUA será inaceitável ", disse a fonte, de acordo com a Press TV.

De acordo com o New York Times, a partir de um funcionário do governo americano que falou sob condição de anonimato, os Estados Unidos não buscarão reter algumas das sanções para obter vantagens futuras, já que a campanha de "pressão máxima" promovida por Trump, afirma ele, fracassou.

Ainda segundo o funcionário do governo americano, uma vez que Teerã e os outros participantes do pacto cheguem a um consenso geral, Irã e EUA idealmente se sentariam para finalizar os detalhes da coreografia: sanções retiradas de um lado, restrições ao programa nuclear do outro.

​Sob o acordo nuclear, os Estados Unidos haviam concordado em retirar punições a Teerã em troca da contenção do programa nuclear iraniano, fazendo com que seja mais difícil ao país persa produzir armas nucleares, uma ambição que ele nega ter. O Irã, no entanto, está a apenas poucos meses de acumular urânio altamente enriquecido suficiente para criar ao menos uma arma nuclear.

Assim, tempo é um fator para Washington, aspecto que o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, corroborou. "Um acordo que seja outra vez totalmente respeitado seria uma vantagem para a segurança de toda a região e a melhor base para negociações sobre outras questões importantes de estabilidade regional", afirmou ele em um comunicado.

Do lado iraniano, o país realizará eleições presidenciais em junho, e o governo claramente quer mostrar progressos nas conversas para retirar as punições estrangeiras à economia local.

Com informações do New York Times

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