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LGBTs cubanos aguardam discussão sobre casamento igualitário para viver sonho

Diário oficial cubano anunciou no começo de maio a criação de comissão para redigir um novo Código de Família

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O ator do projeto 'Las Hermanas Algo', Alfredo de Armas, anda de carro conversível durante a execução de seu mais recente esquete sobre casamento igualitário em Havana, em 10 de maio de 2021

O ator do projeto 'Las Hermanas Algo' Alfredo de Armas anda de carro conversível durante a execução de seu mais recente esquete sobre casamento igualitário em Havana, Yamil Lage/AFP

Leticia Pineda
Havana | AFP

O sonho de Alfredo, um cabeleireiro cubano de 31 anos de idade, é chegar vestido de branco, em um velho conversível vermelho, a uma igreja de Havana. Com um grupo de atores, ele recriou a cena em um projeto original para a internet, enquanto Cuba discute o casamento igualitário.

Quando começou a pandemia, no ano passado, Alfredo de Armas fechou seu salão de beleza e começou a atender clientes em seu pequeno apartamento no último andar de um edifício na Cidade Velha de Havana.
Seu namorado, o ator Fernando Conde, 39, e o diretor de teatro Yasmany Colina, 33, perderam seus empregos, e o tédio os levou a criar “Las Hermanas Algo”. Os curta-metragens, protagonizados por Alfredo e Yasmany vestidos como duas amigas —uma rica e uma pobre—, são pequenos contos cômicos veiculados no YouTube e Facebook.

No último episódio, a amiga malvada chega triunfantemente ao casamento em um conversível, enquanto a amiga boa só consegue um bici-táxi. “A ideia era transmitir uma mensagem muito específica, porque está chegando o dia de luta contra a homofobia”, disse Fernando, que serve como produtor dos curtas.

“[Os filmes] refletem um problema para nós, os gays, que desejamos há muito tempo o casamento igualitário”, explica Alfredo em uma pausa das gravações, com seu vestido, em uma rua turística de Havana, cercado de crianças curiosas e de transeuntes brincalhões.

“Decidimos fazer a cena como um casamento gay, simulando como ele seria de nossa perspectiva, o transformismo, e nos pareceu genial [que fosse possível] realizar esse sonho de nos casarmos.”

A comunidade LGBT esteve esperançosa de que esse objetivo estivesse próximo de ser atingido, quando a medida foi incluída em um anteprojeto da nova constituição, antes de sua aprovação em 2019. Havia um artigo que definia casamento como “união entre duas pessoas”, substituindo a fórmula anterior que falava em “união entre um homem e uma mulher”.

Mas o artigo foi eliminado e as autoridades declararam que ele seria incorporado à reforma do Código de Família, que será colocada em referendo.

Mas a resistência continua. Um porta-voz da Conferência Nacional de Bispos Católicos de Cuba disse que a instituição religiosa mantém sua oposição à modificação.

Angel Toledo, vice-reitor da Universidade Teológica Pentecostal de Cuba, uma instituição evangélica, indicou que sua igreja “não está de maneira nenhuma de acordo com isso”, e recordou que o governo conhece a posição de sua organização, baseada em princípios bíblicos que ela pretende defender “a qualquer preço”.

O diário oficial cubano anunciou no começo de maio a criação de uma comissão oficial para redigir um novo Código de Família.

Yasmany considera que nenhum dos 31 deputados que integram a comissão seja homossexual. “Deveria haver quem se identificasse.”

“A modificação do Código de Família em vigor é iminente [...] e portanto é imperativo sensibilizar e educar a população cubana”, afirmou o Cenesex (Centro Nacional de Educação Sexual), dirigido por Mariela Castro, filha do ex-ditador e ex-líder do Partido Comunista Raúl Castro.

Yasmany reconhece ter sofrido ofensas ao interpretar papéis de homossexual, mas Fernando afirma que o teatro “não é um meio complicado em termos de aceitação”.

As histórias deles não foram fáceis, mas os três agradecem por suas famílias os terem tratado com aceitação e amor quando assumiram plenamente sua sexualidade, e por terem podido se desenvolver profissionalmente.

Eles tampouco tiveram de enfrentar a marginalização que os homossexuais encararam nas décadas de 1960 e 1970, quando uma política dura foi adotada contra eles, que culminou com a criação das Umap (Unidades Militares de Ajuda à Produção), nas quais eles eram condenados a realizar trabalhos forçados.

Agora, muitos homossexuais fazem o serviço militar regularmente, há bares gays, e alguns dos cubanos “se atrevem a sair de mãos dadas com seus namorados”, disse Yasmany, que tem uma tatuagem que mostra um casal sob um guarda-chuva do qual despenca uma chuva de cores, com a frase “se você é diferente, resista”.
Tradução de Paulo Migliacci

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