Descrição de chapéu África

Antes de encontrar Bolsonaro, líder da Guiné-Bissau negou extraditar militar acusado de narcoterrorismo

Umaro Sissoco Embaló veio ao Brasil para visita oficial em jato da FAB, prática incomum

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Brasília

Antes de embarcar ao Brasil para um encontro com Jair Bolsonaro, o presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, negou a extradição de um militar de seu país acusado pelos EUA de narcoterrorismo.

Na semana passada, o Departamento de Estado dos EUA anunciou recompensa de US$ 5 milhões por informação que "leve à prisão e condenação de António Indjai", ex-chefe das Forças Armadas guineenses.

Segundo informou em nota o órgão responsável pela diplomacia americana, Indjai "liderou uma organização criminosa que teve papel de destaque no tráfico de drogas na Guiné-Bissau e na região por muitos anos, mesmo enquanto serviu como chefe das Forças Armadas".

A Casa Branca diz, ainda, que o ex-chefe militar usava "recursos ilegais para corromper e desestabilizar outros governos estrangeiros".

O presidente da Guiné-Bissau, o general Umaro Sissoco Embaló, durante visita de Estado, em Brasília
O presidente da Guiné-Bissau, o general Umaro Sissoco Embaló, durante visita de Estado, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

Na segunda-feira (23), antes de sair de sair da capital Bissau em voo da FAB (Força Aérea Brasileira) para o Brasil, Embaló afirmou, em fala transmitida por uma TV local, que seu governo não pretende entregar Indjai aos americanos e que eventuais crimes devem ser analisados pela Justiça do país africano.

"Se António [Indjai] fez o que disseram que fez, se o provarem, podemos julgá-lo aqui. Ele é livre para se movimentar em todo o território nacional. O que os americanos disseram tem validade na América, mas não aqui", disse o líder africano, segundo a Deutsche Welle, empresa pública alemã de comunicação. "E não é só António Indjai. Nenhum cidadão será capturado aqui para ser julgado noutro país."

De acordo com o anúncio de recompensa do Departamento de Estado dos EUA, Indjai é alvo de duas acusações formais na Justiça americana. Em uma delas, agentes disfarçados da DEA (Drug Enforcement Administration, a agência americana antidrogas) atuaram como representantes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e iniciaram negociações com Indjai e auxiliares na Guiné-Bissau.

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"Entre junho e novembro de 2012, Indjai concordou em receber e armazenar toneladas de cocaína supostamente de propriedade das Farc, quantidade que ele entendia que seria vendida para o benefício das Farc. Indjai e outros conspiradores concordaram em comprar armas, inclusive mísseis antiaéreos, para as Farc, usando para tanto recursos da venda de drogas e estabelecendo uma empresa de fachada na Guiné-Bissau para completar a transação ilícita de armas", afirmam as autoridades americanas.

O militar foi acusado nos EUA de conspiração para o narcoterrorismo; conspiração para importação de cocaína; conspiração para fornecer apoio material a organização terrorista estrangeira; e conspiração para compra de mísseis antiaéreos. No aeroporto na Guiné, Embaló afirmou ainda, segundo a agência Lusa, que os EUA "não têm o direito de colocar a cabeça de Indjai a prêmio, porque ele não é terrorista".

O presidente africano deve permanecer uma semana no Brasil. Nesta terça (24), encontrou-se com Bolsonaro —de quem é admirador declarado— e participou de almoço no Itamaraty. Ele tenta também ser recebido pelos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

Devido à admiração pelo presidente brasileiro, Embaló, que também é militar, foi apelidado de "Bolsonaro da África". O próprio Bolsonaro usou o apelido para anunciar a visita oficial de Embaló, em conversa com apoiadores no mês passado. Na ocasião, ele não se lembrou do nome do convidado nem de seu país.

Na Guiné-Bissau, Embaló, 48, é criticado devido à indicação de militares para postos-chave da estrutura do Estado, em detrimento de servidores civis, e por apoiar a repressão policial contra uma greve de professores e profissionais de saúde. O africano também defende uma reforma da Constituição, que, segundo opositores, tem como objetivo a concentração de poderes nas mãos do presidente.

O autoritarismo do líder guineense faz com ele seja acusado de tentar implementar uma ditadura.

Embaló também deve passar por São Paulo e pelo Rio de Janeiro. Na capital paulista, ele tem encontro programado com o governador João Doria (PSDB) e uma visita ao Museu da Língua Portuguesa. No Rio, deve realizar reuniões com altos funcionários da Marinha.

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