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Sistema de vistos para o México emperra, e brasileiros perdem viagens

Viajantes se mobilizam em mutirões com 40 janelas de navegador abertas para conseguir autorização

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São Paulo

Era para o engenheiro Yuri Farias, 28, ter embarcado nesta terça-feira (14) para a lua de mel no México. Mas uma falha no sistema de emissão de vistos online do governo mexicano fez com que ele adiasse o sonho de conhecer o país. "A sensação é de desânimo, raiva, decepção. A gente planejou há muito tempo, juntou dinheiro, chega na hora e por um erro que ninguém explica a gente não pode viajar. É só frustração."

Assim como Yuri, milhares de brasileiros estão sem conseguir emitir vistos eletrônicos para viajar ao México desde 30 de maio, o que tem acarretado perdas de viagens, protestos na porta de consulados e na internet e mutirões para ajudar desconhecidos.

Passageiros no Aeroporto Internacional da Cidade do México - Montserrat López/Xinhua

O visto para entrar no país voltou a ser exigido em dezembro do ano passado, após pressão dos Estados Unidos, como forma de tentar reduzir o número de imigrantes brasileiros que buscam atravessar a fronteira terrestre com o México de forma irregular.

O procedimento, no entanto, deveria ser simples. Bastava preencher os dados do passaporte e informações básicas sobre a viagem para em poucos minutos o portal gerar uma autorização eletrônica —a ser validada por agentes de imigração no aeroporto. Mas, desde maio, depois que o formulário é preenchido, o sistema avisa: pedido não processado. Em um teste, a reportagem recebeu a mesma mensagem de erro que outros viajantes relatam.

Melissa Jung, 32, tem viagem marcada para 13 de julho e também não conseguiu a autorização. "Só hoje tentei pelo menos 200 vezes e não deu certo. É muito na sorte. Na segunda-feira [13], várias pessoas disseram que conseguiram. Na terça, quase ninguém", diz ela, que criou uma página no Instagram, a @mexico.umpesadelo, para reunir relatos de quem tem o mesmo problema.

Em um grupo de WhatsApp, Melissa e outros quase 300 viajantes se juntaram e criaram um sistema para ajudar pessoas com viagem próxima. Com base na data dos voos, compilados em uma lista, dezenas de pessoas tentam conseguir autorizações para outras que nem conhecem e que têm passagem para dali a alguns dias —ou horas, em alguns casos.

Para isso, traçam estratégias, como tentar obter a autorização em "horas cheias" —14h, 15h, 16h, por exemplo. Às vezes, alguém avisa que conseguiu, para alívio de muitos participantes, mas nunca é simples. "Foram duas semanas tentando, pessoal. Abri 25 janelas do navegador", disse uma pessoa no grupo. "Abri 40 abas. Na penúltima, funcionou", relatou outra.

Na última semana, o Itamaraty afirmou que "tem acompanhado com preocupação relatos de centenas de brasileiros" e que "solicitou, em alto nível, providências urgentes ao governo mexicano". A reportagem questionou se as autoridades brasileiras tiveram retorno, mas não obteve resposta até a conclusão deste texto.

O Consulado do México em São Paulo orienta a quem não conseguir uma autorização eletrônica que busque um visto físico nos postos consulares —esse documento, que custa US$ 48 (R$ 245), tem uma série de exigências, que incluem renda líquida superior a R$ 4.500, saldo bancário médio de pelo menos R$ 13 mil por mês nos últimos seis meses e vínculos com o Brasil.

O problema é que esse caminho também tem se mostrado difícil. Os turistas relatam que a representação parou de atender o telefone e de responder emails diante da alta procura. Na porta, um aviso informa que só há atendimento com horário agendado.

A reportagem não conseguiu falar por telefone nem por email nos canais de atendimento ao público. O Consulado em São Paulo enviou uma resposta automática, avisando que não tem paticipação no processo de emissão de autorização eletrônica, que só pode ser emitida pelo Instituto Nacional de Migração do México.

"Leve em conta que o sistema de autorizações eletrônicas do INM continua com problemas. Até o momento, não há nenhuma estimativa de quando retornará à normalidade", diz o texto enviado nesta terça. "O consulado reitera que não tem nenhum controle sobre o sistema de autorizações eletrônicas e que não assume nenhuma responsabilidade pelas perdas de reservas de passagens de avião, hotéis nem quaisquer outros prejuízos."

O órgão ainda lembra que brasileiros que já tenham vistos válidos para viajar a Canadá, Estados Unidos, Japão, Reino Unido ou países do espaço Schenguen (que compreendem a maior parte da União Europeia) não precisam de autorização eletrônica ou visto mexicano.

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