Descrição de chapéu União Europeia

Governo nacionalista da Hungria demite meteorologistas após previsão cancelar show

Risco de tempestades não se confirmou, e mídia ligada a Orbán liderou críticas a agência

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São Paulo

Dirigentes do Serviço Nacional de Meteorologia da Hungria foram demitidas depois de uma previsão de chuvas fortes levar o governo nacionalista de Viktor Orbán a cancelar um tradicional show de fogos de artifício em Budapeste no último fim de semana.

As informações são da agência de notícias Associated Press. O espetáculo, realizado anualmente em homenagem ao Dia de Santo Estevão, estava marcado para a noite do sábado (20). O show húngaro nessa data é tido como um dos maiores da Europa, o que explica o apreço do premiê pelo evento.

Naquela tarde, no entanto, o governo anunciou o cancelamento da festividade por orientação do serviço de meteorologia, que previa "condições climáticas extremas" para cerca de 21h.

Fogos de artifício explodem sobre o rio Danúbio no Dia de Santo Estevão em Budapeste - Bernadett Szabo - 20.ago.2019/Reuters

Em vez de avançar sobre a capital como previsto, porém, a tempestade mudou de direção, restringindo-se ao leste da Hungria. Budapeste continuou seca.

O Serviço Nacional de Meteorologia publicou um pedido de desculpas nas redes sociais no domingo (21), afirmando que certo nível de incerteza faz parte da meteorologia, mas na segunda (22) o ministro de Inovação de Orbán, Laszlo Palkovics, demitiu a chefe e a vice da agência. Kornelia Radics dirigia o serviço desde 2013, e tinha Gyula Horvath como braço direito desde 2016.

Embora Palkovics não tenha dado uma razão oficial para as demissões, a agência meteorológica foi duramente criticada por meios de comunicação alinhados a Orbán. Eles afirmam que o "grave erro" do serviço causou um adiamento desnecessário.

Agências de notícias destacaram, porém, que parcela considerável de húngaros se opunha à escala e ao custo da explosão dos fogos, em especial num momento delicado como o atual, de crise econômica e Guerra da Ucrânia. Uma petição pedindo o cancelamento do espetáculo e um uso mais pragmático de sua verba reuniu quase 200 mil assinaturas.

Ainda segundo a Associated Press, o espetáculo buscaria mostrar de forma resumida os mil anos desde o nascimento da Hungria cristã até os dias de hoje, focando valores nacionais caros à plataforma de Orbán. O lançamento dos fogos foi remarcado para o próximo sábado (27).

Nesta terça (23), a agência de meteorologia publicou uma nota exigindo a readmissão das chefes demitidas. O órgão afirma que está sob "pressão política" no que se refere aos modelos usados para a previsão do tempo no feriado e que os responsáveis por pressioná-los "ignoram incertezas cientificamente aceitas inerentes à previsão do tempo".

Orbán, que em abril conquistou seu quinto mandato como premiê —o quarto consecutivo—, lidera o que chama de projeto de "democracia iliberal", com medidas anti-imigração, anti-LGBTQIA+ e contra a liberdade de imprensa. A postura rende uma série de atritos com a União Europeia, bloco do qual a Hungria faz parte.

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