Protestos pró-Palestina se fortalecem em universidades nos EUA; mais de cem são detidos em Boston

Repressão de gestões universitárias, que já prendeu cerca de 600, não conseguiu desmantelar acampamentos pelo país

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Boa Vista

Cerca de cem manifestantes pró-Palestina foram detidos na manhã deste sábado (27) no campus da Universidade Northeastern, na cidade de Boston, nos Estados Unidos, em mais um episódio de prisões em meio ao aumento de protestos contra a guerra de Israel na Faixa de Gaza em dezenas de campi no país.

"Quase cem pessoas foram detidas pela polícia. Os estudantes que apresentaram o documento de identificação da Universidade Northeastern foram liberados. Aqueles que se negaram a comprovar o vínculo foram detidos", afirmou a instituição na rede social X. O acampamento onde estavam os manifestantes foi esvaziado pela polícia.

Manifestantes pró-Palestina em frente a policiais na Universidade Northeastern, em Boston, nos EUA
Manifestantes pró-Palestina em frente a policiais na Universidade Northeastern, em Boston, nos EUA - Joseph Prezioso - 27.abr.24/AFP

A universidade destacou que, durante a noite de sexta-feira (26), os manifestantes proferiram "violentos insultos antissemitas, incluindo gritos de morte aos judeus". Organizadores negaram e disseram que insultos não foram proferidos e que o grito e "morte aos judeus" foi obra de um infiltrado.

Já na Universidade de Indiana, em Bloomington, 23 manifestantes foram detidos após montarem barracas no local, informou a polícia. Os detidos foram acusados de invasão criminosa e resistência à prisão.

"O Departamento de Polícia da Universidade de Indiana continua a apoiar protestos pacíficos no campus que seguem as regras da universidade", diz o comunicado da polícia.

Fortalecidas após repressão a um acampamento na semana passada na Universidade Columbia, em Nova York, quando mais de cem foram presos, as manifestações de apoio aos palestinos e contra a guerra travada por Israel contra o Hamas se propagaram por vários campi americanos, de costa a costa.

De acordo com o site Axios, cerca de 600 pessoas foram detidas em protestos do tipo em ao menos 15 instituições por todo o país. A pressão tem recaído principalmente sobre os reitores das instituições, de um lado criticados por reprimir os protestos e não condenar formalmente o apoio da Casa Branca a Tel Aviv e, de outro, por permitir atos vistos como antissemitas e agressivos contra estudantes e professores judeus.

"O que começou há dois dias como um protesto estudantil foi infiltrado por organizadores profissionais sem ligação com a Universidade Northeastern", denunciou o centro de ensino de Boston. Os detidos no campus serão submetidos a "procedimentos disciplinares", mas "não a medidas jurídicas", segundo o comunicado da universidade.

A polícia do estado de Massachusetts foi chamada pela segurança do campus no sábado de manhã para auxílio em remover manifestantes que se recusavam a deixar o local. A ação policial durou cerca de duas horas.

"Após chamar a polícia do campus, a polícia da cidade e a polícia estadual contra estudantes ativistas pacíficos, a reitoria publicou uma narrativa totalmente falsa e fabricada de que membros de nosso acampamento se envolveram em discurso de ódio no início desta manhã", disse o grupo de estudantes ativistas Huskies por uma Palestina Livre em um comunicado após as prisões, que negou a presença de infiltrados, segundo o jornal The Boston Globe.

O acampamento na Universidade Northeastern não é o único em Boston e regiões próximas da cidade. Há também manifestações semelhantes na Universidade Harvard, no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e na Universidade Tufts.

A reitoria da Universidade Columbia, epicentro do movimento, anunciou que desistiu de recorrer à polícia de Nova York para esvaziar o acampamento instalado em seu campus, que não deixou de existir após as prisões da semana passada. As aulas presenciais também foram canceladas.

Nesta sexta, um estudante e líder dos protestos na instituição pediu desculpas após um vídeo gravado em janeiro que se tornou público mostrar ele afirmando que "sionistas não merecem viver" —a universidade barrou a entrada dele no campus, mas não deixou claro se o suspendeu ou o expulsou.

A reitora de Columbia, Minouche Shafik, tem sido ainda mais pressionada desde a repressão da semana passada. Na noite de sexta, um painel de supervisão do campus criticou sua gestão por reprimir o protesto.

Após uma reunião de duas horas, o Senado da instituição aprovou resolução afirmando que a administração minou a liberdade acadêmica e desconsiderou os direitos de privacidade e devido processo dos estudantes e membros do corpo docente ao chamar a polícia para encerrar o protesto.

"A decisão levantou sérias preocupações sobre o respeito da gestão pelo governo compartilhado e transparência no processo de tomada de decisão da universidade", diz o texto.

O Senado, composto principalmente por membros do corpo docente e outros funcionários, além de alguns estudantes, no entanto, não mencionou Shafik em sua resolução e evitou uma linguagem mais dura contra a reitora.

A resolução estabeleceu um grupo de trabalho que, segundo o texto, monitoraria as "ações corretivas" que o Senado pediu à reitoria para lidar com os protestos.

Não houve resposta imediata à resolução por parte de Shafik, que é integrante do órgão, mas não compareceu à reunião de sexta. O porta-voz de Columbia, Ben Chang, disse que a administração compartilhava o mesmo objetivo do senado de restaurar a calma no campus e estava comprometida com "um diálogo contínuo".

Com Reuters

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