Oposição elogia viagem de Pelosi a Taiwan, enquanto governo Biden tenta conter danos

Parlamentares republicanos manifestam apoio em bloco a presidente democrata da Câmara

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Washington

A visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan provocou mais apoio da oposição até agora do que do seu próprio Partido Democrata.

Enquanto o governo do presidente e correligionário Joe Biden faz uma operação de contenção de danos e tenta deixar claro que a viagem não é uma visita de Estado e foi decidida individualmente por Pelosi, parlamentares do Partido Republicano manifestaram apoio à presidente da Casa, que chegou à ilha do leste asiático nesta terça-feira (2) sob ameaças de escalada militar da China.

A presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi (ao centro, de rosa) na pista do aeroporto de Taiwan, em recepção promovida por autoridades da ilha - Divulgação Chancelaria de Taiwan/Reuters

Pela manhã, um grupo de 26 senadores republicanos, inclusive o líder da minoria, Mitch McConnell (Kentucky), divulgou comunicado apoiando Pelosi. "Por décadas, membros do Congresso dos EUA, incluindo ex-presidentes da Câmara, viajaram a Taiwan. Essa viagem é consistente com a política de ‘uma só China’ dos EUA, com a qual estamos comprometidos. Também estamos comprometidos agora, mais do que nunca, com a Lei de Relações com Taiwan", disse o grupo.

A lei citada, quando os EUA reconheceram o governo comunista da China em 1979, estabelece relações não diplomáticas com a ilha e diz que o país deve "manter a capacidade de resistir a qualquer uso da força ou outras formas de coerção que coloquem em risco a segurança ou o sistema social ou econômico do povo de Taiwan".

Uma série de deputados republicanos também manifestou apoio de maneira descentralizada, nas redes sociais e em pronunciamentos.

Ainda que a reaproximação da China comunista com os EUA tenha se iniciado em 1972 durante um governo republicano, na gestão Richard Nixon, o partido é historicamente mais combativo em relação ao regime comunista de Pequim. Pesquisa deste ano do Pew Research Center apontou que 89% dos americanos identificados com o partido têm visão negativa do país asiático.

Este, no entanto, é um dos temas que costuma unir os dois lados da política americana. Ainda que em menor proporção, a mesma pesquisa apontou que 79% dos democratas têm opiniões desfavoráveis em relação à China.

De forma menos organizada do que no caso dos adversários, Pelosi também recebeu apoios isolados de parlamentares de seu partido —mas uma reação distinta da do próprio presidente, que há duas semanas disse que os militares não achavam ser uma boa ideia visitar Taiwan.

Como demover Pelosi da ideia já parecia impossível, assessores e conselheiros correram para dizer ao público e às suas contrapartes chinesas que a viagem era uma decisão independente e que não significava endosso do governo americano.

O próprio Biden afirmou isso a Xi Jinping, líder do regime chinês, quando "deixou claro que o Congresso é um ramo independente do governo e que Pelosi toma suas próprias decisões, assim como outros membros do Congresso, sobre suas viagens ao exterior", segundo o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, em conversa com jornalistas na segunda-feira (1º).

Nesta terça, ele reforçou que Washington "não se intimidará" por ameaças ou retórica belicosa de Pequim, mas que não há razão para a viagem precipitar uma crise. Segundo ele, as relações sino-americanas vão depender das ações chinesas nos próximos dias.

Para minimizar o assunto e evitar uma escalada de tensões, o governo tem dito ainda que viagens de parlamentares à ilha são comuns.

Ainda que nenhuma dessas recentes tenha o peso político de uma presidente da Câmara viajando em uma aeronave oficial para uma ilha que a segunda maior potência do mundo considera uma província rebelde, é fato que políticos americanos têm batido ponto em Taiwan. A viagem de Pelosi culmina um esforço bipartidário do Congresso de manifestar apoio à ilha em meio à crescente rivalidade dos EUA com a China.

Em abril, por exemplo, o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, o democrata Bob Menendez, foi junto do republicano Lindsey Graham, também senador, em uma viagem surpresa a Taipé. "Abandonar Taiwan seria abandonar a democracia e a liberdade", afirmou na ocasião.

Em junho, os dois apresentaram um projeto de lei para fornecer cerca de US$ 4,5 bilhões em assistência à ilha nos próximos quatro anos e designá-la como aliado extra-Otan (aliança militar ocidental).

"Muito feliz em ver que Pelosi chegou a Taiwan para reforçar nosso apoio ao povo taiwanês, amante da liberdade", escreveu Graham no Twitter nesta terça. "Aplaudo a decisão da presidente de viajar nesse momento crucial no relacionamento de nosso país com Taiwan e, com o tempo, espero um melhor relacionamento com a China continental."

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