Última bruxa de Salém é inocentada depois de 329 anos nos EUA

Após lobby feito por estudantes, Elizabeth Johnson Jr. foi absolvida

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Vimal Patel
The New York Times

Agora é oficial: Elizabeth Johnson Jr. não foi uma bruxa.

Até a semana passada, a moradora de Andover, Massachusetts, que durante os julgamentos das bruxas de Salém confessou ter praticado bruxaria, era a única pessoa condenada nos julgamentos que ainda não havia sido absolvida.

Ela foi inocentada na última quinta-feira (28), 329 anos depois de ser condenada, num ato incluído no texto do Orçamento estadual (de US$ 53 bilhões), assinado pelo governador Charlie Baker. Sua absolvição foi fruto de um esforço de três anos de uma professora de educação cívica e sua turma de alunos do oitavo ano, além de uma senadora estadual que ajudou a defender a causa.

Mulher participa de parada das bruxas, em Salem, Massachusetts - Joseph Prezioso - 4.out.2018/AFP

"Estou emocionada e aliviada", disse Carrie LaPierre, professora do colégio North Andover, "mas decepcionada porque não pude conversar com os alunos sobre isso", porque eles estão em férias. "Foi um projeto importante. Nós a chamamos de E.J.J. e ela passou a fazer parte de nosso mundo, de certo modo."

São conhecidos apenas os fatos mais gerais da vida de Elizabeth Johnson. Ela tinha 22 anos quando foi acusada, é possível que tivesse deficiência mental e nunca se casou ou teve filhos, fatores que podiam converter uma mulher em alvo nos julgamentos, segundo LaPierre.

O governador do Massachusetts na época concedeu indulto a Johnson, livrando-a da pena de morte, e ela morreu em 1747 aos 77 anos. Mas, diferentemente de outras condenadas, não teve descendentes conhecidos que pudessem ter procurado limpar seu nome. Esforços anteriores desse tipo não incluíram Johnson e, segundo historiadores, a omissão pode se dever a uma confusão administrativa: sua mãe, de mesmo nome, também foi condenada, mas absolvida antes.

O esforço para inocentar Johnson foi um projeto dos sonhos para a turma de educação cívica, segundo LaPierre. Isso lhe permitiu ensinar aos alunos sobre métodos de pesquisa, incluindo o uso de fontes primárias; sobre o processo pelo qual um projeto se converte em lei; e sobre maneiras de entrar em contato com legisladores.

O projeto também ensinou o valor da persistência: após uma campanha intensiva de envio de cartas, o projeto de lei para exonerar Johnson havia basicamente atolado. Quando os estudantes passaram a fazer lobby junto ao governador, a senadora estadual Diana DiZoglio acrescentou uma emenda ao projeto de lei do Orçamento, e com isso injetou vida nova aos esforços.

"Esses estudantes deram um exemplo impressionante do poder do ‘advocacy’ e de falar por outros que não têm voz", disse DiZoglio, democrata cujo distrito abrange North Andover.

Pelo menos 172 pessoas de Salém e das cidades em volta, que incluem a atual North Andover, foram acusadas de bruxaria em 1692, como parte de uma inquisição de puritanos que, segundo historiadores, foi provocada por paranoia.

Emerson Baker, autor de "A Storm of Witchcraft: The Salem Trials and the American Experience" (uma tempestade de bruxaria: julgamentos de Salém e a experiência americana), disse que havia muitas razões pelas quais pessoas inocentes poderiam se confessar culpadas de bruxaria. Muitas queriam evitar ser torturadas ou pensavam que talvez fossem bruxas sem sabê-lo. Tudo isso teria sido resultado de uma campanha de pressão movida por clérigos e até familiares dos acusados.

Fachada do Museu das Bruxas de Salem - Lia Regina Abbud -19.nov.2010/Folhapress

Outra razão comum para as confissões, segundo Baker, foi a sobrevivência. No verão de 1692 ficou claro que os acusados que se declararam inocentes foram levados a julgamento prontamente, condenados e enforcados, enquanto os que se confessaram culpados pareciam escapar desse final macabro: as 19 pessoas executadas em Salém haviam se declarado inocentes, sendo que nenhuma das 55 que se confessaram culpadas foi executada.

Baker se disse satisfeito por ver Elizabeth Johnson Jr inocentada, já que as acusações feitas a ela e sua família devem ter arruinado sua vida e reputação. "Depois de tudo que o governo e o povo fizeram Elizabeth e sua família passar, inocentá-la é o mínimo que podemos fazer."

Tradução de Clara Allain

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.