Descrição de chapéu China

Biden diz estar disposto a enfrentar China em caso de invasão a Taiwan

Leia esse e outros destaques na edição da newsletter China, terra do meio

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Igor Patrick

Esta é a edição da newsletter China, terra do meio. Quer recebê-la todas as sextas no seu email? Inscreva-se abaixo.

Falando ao tradicional programa de entrevistas "60 Minutes", o presidente Joe Biden disse abertamente que tropas americanas defenderão Taiwan em caso de um ataque iniciado pela China continental. É a primeira vez que um presidente americano fala abertamente sobre o emprego de tropas no estreito, abandonando a tradicional "ambiguidade estratégica" dos EUA (que pressupõe deixar em aberto uma possível ajuda militar).

Biden também esticou a corda ao dizer que "Taiwan faz seus próprios julgamentos sobre sua independência... Essa decisão é deles", deixando claro mais uma vez que intervirá militarmente se a ilha tomar essa decisão e Pequim resolver retomar a soberania à força.

Logo depois de a entrevista ir ao ar, a Casa Branca correu para esclarecer que a política americana relativa a Taiwan não mudou e que os Estados Unidos não apoiam a independência taiwanesa. A entrevista, porém, serviu para reforçar a impressão entre chineses, jornalistas e acadêmicos de que as falas de Biden sobre o tema não podem ser mais interpretadas como "gafe" –como vinha acontecendo até então.

Surpreendentemente, a declaração não repercutiu muito internamente na China e tudo indica que o tópico foi censurado nas redes sociais. Questionada sobre o que Pequim tinha a dizer, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, deu uma resposta padrão.

  • "Estamos dispostos a fazer o nosso melhor para lutar pela reunificação pacífica. Ao mesmo tempo, não vamos tolerar nenhuma atividade que vise a secessão."

Por que importa: É difícil entender, porém, o que Biden ou os Estados Unidos têm a ganhar com uma fala do tipo.

  • Historicamente, os americanos conscientemente não falavam em uma intervenção militar porque as reticências funcionavam: a China não atacava e Taiwan mantinha seu status quo. Assumir que este não é mais o caso só serve de combustível para que movimentos separatistas cresçam na ilha —a linha vermelha para Pequim;
  • Alguns conjecturam que a fala pode ter motivação eleitoral, já que as eleições de meio de mandato se aproximam e Biden estaria tentando mostrar serviço ao mostrar que não tem medo de Pequim. Provavelmente não é o caso, já que ele se manifestou da mesma forma anteriormente e temas internacionais costumam não importar tanto nas eleições legislativas (e a maioria dos americanos comuns nem sequer sabe onde fica Taiwan). Ao que tudo indica, o presidente americano está convencido de que a ambiguidade sobre o tema já não funciona com a China.
O presidente dos Estados Unidos Joe Biden - Evelyn Hockstein - 16.set.2022/Reuters

O que também importa

Após a China registrar seu primeiro caso de varíola dos macacos na última sexta (16), autoridades sanitárias fizeram uma recomendação controversa à população: não encoste em estrangeiros.

A doença foi diagnosticada em um viajante que retornava de uma viagem internacional rumo a Chongqing, no sudoeste do país. Diante do burburinho online, o epidemiologista-chefe do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China, Wu Zunyou, postou na sua conta no Weibo (espécie de Twitter local) algumas recomendações:

  • "Para evitar uma possível infecção por varíola e como parte de nosso estilo de vida saudável, é recomendado que você 1) não tenha contato direto com estrangeiros; 2) não tenha contato com quem retornou a menos de três semanas do exterior; 3) não tenha contato próximo com desconhecidos; 4) preste atenção à higienização das mãos e 5) utilize protetores ou papel higiênico para forrar vasos sanitários", escreveu.

A declaração foi bastante criticada em fóruns de expatriados vivendo na China, com muitos interpretando-a como xenofobia.

Desde o fechamento das fronteiras em 2020, estrangeiros têm sido alvo de preconceito em alguns estabelecimentos comerciais por supostamente "espalharem o vírus". O temor da comunidade é que declarações oficiais como esta ampliem reações impensadas entre os chineses.

De passagem por Nova York para participar da Assembleia Geral da ONU, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, se encontrou com o ex-secretário de Estado dos Estados Unidos Henry Kissinger, na segunda (19).

Oficialmente, a visita de Wang Yi foi uma cortesia pela celebração do 100º aniversário de Kissinger, a ser comemorado no próximo mês de maio. Nas entrelinhas, porém, ficou claro que Wang esperava usar a credibilidade do ex-secretário na mediação de um momento tenso nas relações com os EUA.

Creditado como um dos principais responsáveis pela reaproximação entre os dois países há 50 anos, Kissinger vem criticando o estado das relações sino-americanas. Em julho, ele criticou Biden e os governos anteriores por serem "muito influenciados pelos aspectos domésticos na visão sobre a China" e alertou para os riscos de "um confronto interminável."

Wang pegou carona durante o encontro para dizer que "por uma percepção errada, os Estados Unidos insistem em ver a China como seu principal rival e um desafio de longo prazo. Algumas pessoas até descreveram o sucesso das trocas China-EUA como um fracasso, o que demonstra desrespeito não só com a história como a si mesmos."

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, e o ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, Henry Kissinger - Wang Ying - 20.set.2022/Xinhua

Fique de olho

Oficiais do alto escalão da Comissão Militar Central (CMC) se reuniram nesta quarta (21) em um seminário para discutir a reforma das Forças Armadas chinesas e os próximos passos na definição de estratégias de defesa nacional.

Presidente do órgão, Xi não compareceu à reunião (possivelmente por estar em quarentena), mas orientou os membros do Exército de Libertação Popular a estarem "prontos para o combate e se fortalecerem ao seguir as reformas". Ele também disse que os militares precisam "se concentrar na preparação para a guerra."

Por que importa: Não há indícios de que a China tem intenção de ir à guerra em um futuro próximo, mas o xadrez geopolítico na vizinhança de suas fronteiras justifica a ordem. A China teve problemas na fronteira com a Índia recentemente, movimentou-se militarmente em torno de Taiwan e está de olho no Afeganistão após o retorno do Talibã.

Para um exército que não participou de nenhum conflito real desde 1979, quando invadiu o Vietnã, assegurar-se do preparo das tropas deve ser prioridade da elite política chinesa nos próximos anos.

Para ir a fundo

  • A Freedom House lançou um relatório inédito analisando a influência da imprensa chinesa em várias partes do mundo, incluindo o Brasil. (gratuito, em português)
  • A Embaixada da China está preparando uma grande celebração em virtude do 73º Aniversário da República Popular no domingo (25) às 11h. O evento, todo transmitido pelo YouTube, terá performances com auxílio do 5G e realidade aumentada. (gratuito, em português)
  • A Universidade de Stanford realiza no próximo dia 11 um debate online sobre o estado da cobertura midiática independente na China. Participam Emily Feng (correspondente da NPR em Pequim), Louisa Lim (ex-correspondente da BBC) e Jennifer Pan (pesquisadora sênior do Instituto Freeman Spogli). Inscrições aqui. (gratuito, em inglês)
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.