Biden encontra presidente das Filipinas, filho de ditador, e fala em 'raízes da democracia'

Reunião se deu às margens de Assembleia da ONU; Manila é aliada de Washington em tensões com Pequim

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Nova York | Reuters

O presidente dos EUA, Joe Biden, se encontrou, nesta quinta-feira (22), com seu homólogo filipino, Ferdinand Marcos Jr., e disse que a aliança entre os dois países "está enraizada na democracia". O líder asiático é filho de um ditador que comandou o país por duas décadas. A reunião ocorreu às margens da 77ª Assembleia-Geral da ONU, em Nova York.

Em comunicado publicado em suas redes sociais, o americano mencionou os laços históricos entre os dois países e citou os "milhões de filipino-americanos que enriquecem" os EUA. "Nossa aliança é forte e duradoura", acrescentou.

Presidente dos EUA, Joe Biden, em reunião com seu homólogo filipino, Ferdinand Romualdez, em Nova York
Presidente dos EUA, Joe Biden, em reunião com seu homólogo filipino, Ferdinand Marcos Jr., em Nova York - Leah Millis -22.set.22/Reuters

A contradição tem razões geopolíticas: os filipinos são aliados dos americanos na disputa com os chineses por influência na Ásia. No encontro desta quinta, os dois líderes conversaram sobre a liberdade de navegação e sobrevoo no mar do Sul da China —estratégico corredor para a navegação internacional e cenário de exercícios militares da ditadura comunista.

Frequentemente, Washington acusa Pequim de aumentar as provocações na região. Os chineses, por sua vez, dizem que os americanos e outras potências ocidentais transformaram o cenário em arena de combate. Em 2016, no tribunal marítimo das Nações Unidas, as Filipinas conseguiram invalidar uma reivindicação chinesa de posse de pequenas ilhas, mas Pequim não reconhece a decisão.

"O papel dos EUA na manutenção da paz em nossa região é algo muito apreciado por todos os países —e especialmente pelas Filipinas", disse Marcos Jr., também conhecido como Bongbong, nesta quinta.

Para Biden, as palavras do filipino caem bem também quando são levadas em conta as tensões entre China e Taiwan, ilha que Pequim considera rebelde. Ainda que o presidente americano tenha dado declarações dúbias —depois corrigidas pela Casa Branca— sobre uma eventual ajuda militar a Taipé em caso de uma incursão de Pequim, os EUA sabem que ter acesso a bases nas Filipinas ajudaria a se preparar para uma situação de contingência.

Há poucas semanas, o embaixador de Manila nos EUA, José Manuel Romualdez, disse ao jornal japonês Nikkei que tal acordo só seria feito se as Filipinas considerassem que a presença de militares americanos na região é importante para a segurança do país asiático.

Segundo a Casa Branca, os dois líderes conversaram ainda sobre Covid-19 e energia renovável. Biden também teria agradecido a Marcos Jr. por se opor à Rússia na Guerra da Ucrânia.

O filipino está em sua primeira viagem aos EUA em 15 anos. Ele é alvo de uma ordem de desacato à Justiça americana por ter se recusado a cooperar em um processo que cobra de sua família a restituição de US$ 2 bilhões (R$ 10,2 bi) a famílias saqueadas na década de 1970.

O falecido ditador Ferdinand Marcos comandou as Filipinas por duas décadas, a partir de 1965 —quase metade desse período sob a famosa lei marcial de 1972. Essa espécie de AI-5 local, sob o pretexto de evitar uma revolta comunista, prendeu opositores, cometeu abusos de direitos humanos contra 11 mil pessoas e foi responsável pela morte de 2.326, além de 1.922 casos documentados de tortura, de acordo com um órgão do governo criado para apurar os crimes do período.

Sob o ditador, o nome da família tornou-se sinônimo de clientelismo, extravagância e roubo de bilhões de dólares de dinheiro público. A família Marcos nega peculato.

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