Descrição de chapéu China universidade

Atos na China são sintoma de demandas reprimidas da população, diz universitária

Renomada Universidade Tsinghua, em que protestos são pouco comuns, somou-se à onda de manifestações contra Covid zero

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Igor Patrick
Washington

A Universidade Tsinghua, uma das melhores da China e na qual o líder do país, Xi Jinping, se formou, registrou neste domingo (27) um raríssimo protesto contra as medidas de controle à Covid.

Reunindo tradicionais programas nas áreas de engenharia, matemática e ciências, a Tsinghua sempre foi vista como obediente e um contraponto à Universidade de Pequim, em que protestos são mais comuns.

Pessoas seguram folhas de papel em branco durante protesto em Pequim, capital chinesa - Thomas Peter - 27.nov.22/Reuters

A manifestação espontânea começou quando uma estudante levantou um cartaz em branco, em silêncio, na frente do principal refeitório da instituição. Colegas se juntaram a ela, e o protesto atraiu ao menos 400 pessoas, segundo testemunhas. Muitos deixaram o refeitório, aberto para o almoço, para se juntar ao ato.

Os alunos cantaram o hino chinês e a Internacional Socialista, hino da União Soviética. Manifestantes gritaram palavras de ordem —em um dos vídeos que circularam pelas redes sociais antes de serem censurados, alguns são vistos dizendo "isso que está acontecendo na China não é normal, nós estamos cansados", enquanto outros diziam estar dispostos a "sacrificar tudo por mais liberdade política".

À Folha a estudante que iniciou o protesto diz que, quando pensou na manifestação, nem sequer compartilhou a ideia com os amigos, porque temia que eles pudessem sofrer consequências por seus atos. Mas ficou surpresa, positivamente, com a adesão dos colegas de universidade.

Ela, que pediu para que seu nome não fosse divulgado, afirma que nem todas as demandas do grupo são as mesmas, mas que há muitas exigências reprimidas que devem ser manifestadas em conjunto.

O gesto na Tsinghua repetiu outros atos vistos pelo país neste fim de semana, após um incêndio matar ao menos dez pessoas em Urumqi, uma das maiores cidades da província de Xinjiang, no oeste da China. Elas teriam ficado presas no prédio tomado pelas chamas devido a barreiras instaladas por agentes sanitários para isolar a unidade e impedir moradores de deixarem suas casas durante a quarentena.

Por volta das 13h do horário local, a Tsinghua enviou o vice-secretário do Comitê do Partido Comunista na instituição, Guo Yong, para conversar com os manifestantes. Ele pediu que os alunos com cartazes fossem embora, mas eles se recusaram. A universidade só conseguiu dispersar o protesto duas horas depois, prometendo organizar um seminário para ouvir as demandas dos estudantes e não perseguir administrativamente quem participou do ato.

A universitária, porém, duvida que isso vá acontecer. Ela diz acreditar que, mesmo que prometam por escrito não perseguir estudantes, autoridades acabarão fazendo isso. Segundo outros estudantes, há viaturas patrulhando o campus, e seguranças têm feito hora extra, aumentando em pelo menos três vezes o contingente usual. Alunos que foram ao protesto também relataram à Folha terem sido chamados por seus tutores para "tomar um chá", eufemismo usado por autoridades policiais para interrogatórios.

A estudante, porém, afirma estar preparada para as possíveis consequências. Ela diz que se sente na obrigação de agir por observar o que descreve como sofrimento em seu país e que se inspira na responsabilidade de homenagear, de algum modo, os mortos no incêndio em Xinjiang.

Na manhã de segunda (28), no horário local, um grupo de ex-alunos da Tsinghua divulgou uma carta aberta cobrando que professores assumam "um compromisso claro por escrito em nome da universidade de que não farão nenhuma acusação contra os alunos que participaram desta manifestação".

Eles também pedem que a aluna não tenha o ensino penalizado nem seja alvo de "tratamento irracional dentro ou fora da universidade". Alunos da Universidade de Pequim também divulgaram um manifesto pedindo o imediato fim do monitoramento de celulares, testes em massa e censura nas redes sociais. Eles cobraram, ainda, a criação de um plano de coexistência com o coronavírus que garanta a ordem social e minimize o impacto econômico na sociedade.

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