Papa aceita renúncia de influente cardeal após acusações de assédio sexual

Canadense Marc Ouellet foi responsável pelos bispos de todo o mundo por quase uma década

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São Paulo

O papa Francisco aceitou nesta segunda (30) a renúncia do cardeal canadense Marc Ouellet, que por uma década foi responsável pelos bispos de todo o mundo, após ele ter sido acusado de abusos sexuais.

A justificativa foi a de que o religioso de 78 anos atingiu o limite de idade para aposentadoria. Prefeito da Congregação para os Bispos e presidente da Pontifícia Comissão para América Latina, ele será substituído pelo americano Robert Francis Prevost, hoje bispo de Chiclayo, no Peru —a posse está prevista para abril.

O cardeal Marc Ouellet celebra missa na igreja de Santa Maria em Transpontina, em Roma, na Itália
O cardeal Marc Ouellet celebra missa na igreja de Santa Maria em Transpontina, em Roma, na Itália - Filippo Monteforte - 10.mar.13/AFP

O canadense teve a reputação abalada em agosto passado, quando foi acusado de ter "tocado indevidamente" uma mulher de 23 anos que fazia estágio como agente pastoral, entre 2008 e 2010. À época, o religioso era arcebispo de Québec, no Canadá.

A mulher, identificada apenas pela letra "F", contou em um programa investigativo da Radio-Canada que o cardeal a beijou e deslizou a mão pelas costas dela até tocar suas nádegas. Durante o encontro, o religioso canadense teria dito a ela que era a segunda vez que eles se viam na semana e que, por isso, poderia beijá-la novamente. "Isso me deixou muito desconfortável", disse ela.

Em outra ocasião, Ouellet teria segurado a mulher contra seu corpo e massageado seus ombros e suas costas "até o ponto onde as nádegas começam". Os relatos da vítima também foram transcritos pela Canadian Radio Broadcasting Commission (CBC).

Ouellet nega veementemente as acusações e diz ser alvo de difamação. Ele se colocou à disposição da Justiça e disse que aceitaria participar de um julgamento para que sua "inocência fique provada".

Em um primeiro momento, Francisco considerou que a acusação não tinha elementos suficientes para a abertura de uma investigação canônica, e o cardeal permaneceu no cargo. Nesta segunda, porém, veio à tona a existência de uma segunda denúncia contra o canadense, apresentada em 2020 por outra mulher.

Ouellet é visto como um forte crítico do papa. Ele é contra a ordenação de mulheres ao sacerdócio e defende posturas conservadoras sobre casamento homoafetivo, aborto e outros temas sensíveis.

Influente, Ouellet foi apontado como um dos favoritos no último conclave, em 2013, no qual o então cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio foi eleito papa. Ele também era aventado como um dos possíveis sucessores do atual pontífice no posto de líder da Igreja Católica.

Em 2021, diante de denúncias contra membros da igreja, Francisco chegou a afirmar que os escândalos de abusos sexuais eram uma catástrofe mundial. À época, o Vaticano divulgou a revisão mais abrangente das leis da instituição nos últimos 40 anos, endurecendo as regras contra violência sexual.

Segundo o regramento, o abuso de menores deve ser punido com a suspensão ou a destituição do cargo clerical, já que representa uma ofensa contra o sexto mandamento do Decálogo, que prega castidade nas palavras e nas obras, com um menor ou pessoa "habitualmente imperfeita no uso da razão".

Desde que foi eleito, em 2013, Francisco tomou medidas para tentar erradicar abusos sexuais cometidos por clérigos. Em 2019, emitiu um decreto que tornou obrigatório que bispos e padres informem suspeitas de abusos sexuais e permitiu a qualquer pessoa enviar denúncias ao Vaticano. Caso os bispos não informem os casos de abuso, podem ser considerados corresponsáveis pelo crime que ocultaram.

Mas os críticos acusam o pontífice de responder muito lentamente aos escândalos, de não ter empatia com as vítimas e de acreditar cegamente na palavra de seus colegas clérigos.

Com AFP

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