Renunciei devido à insônia, disse Bento 16 em carta a biógrafo

Documento atribuído ao papa emérito, morto em dezembro, foi divulgado pela revista alemã Focus

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Berlim | AFP

A privação de sono foi um elemento central para que um tabu de quase 600 anos tenha sido quebrado em 2013. Uma carta escrita pelo papa emérito Bento 16 a seu biógrafo, cujo teor foi divulgado nesta sexta-feira (27) pela revista alemã Focus, revela que a insônia que afligia o líder religioso esteve entre os principais motivos que levaram à sua renúncia ao pontificado, quase dez anos atrás.

Bento 16 enviou a mensagem ao alemão Peter Seewald em 28 de outubro, semanas antes de morrer, portanto —ele faleceu em 31 de dezembro, aos 95 anos. No texto, Joseph Ratzinger, nome original do pontífice emérito, afirma que a insônia o acompanhava "sem interrupções" desde a Jornada Mundial da Juventude de Colônia, em agosto de 2005, meses depois de ter sido eleito o sucessor de João Paulo 2º.

Papa Bento 16 acena a fiéis na Praça São Pedro, no Vaticano - Vincenzo Pinto - 11.fev.2012/AFP

Seu médico particular receitou na ocasião "remédios potentes", que permitiram a manutenção da carga de trabalho num primeiro momento, mas o efeito teria atingido um limite com o tempo, segundo o relato.

A revelação em certa medida referenda a tese de que Ratzinger renunciou porque se encontrava enfermo e debilitado pela rotina de quase oito anos de papado, nos quais liderou três encíclicas —à época, jornais italianos disseram inicialmente que ele estava enojado com escândalos sexuais e financeiros na alta hierarquia do Vaticano, versão que acabou não se confirmando.

O uso de remédios para dormir também teria provocado um incidente durante uma ida ao México e a Cuba que Bento 16 fez, ainda como papa, em março de 2012.

Na primeira manhã da viagem, o religioso encontrou os lençóis "totalmente encharcados de sangue", segundo a carta citada pela revista. "Devo ter batido em alguma coisa no banheiro e caído", escreveu. Depois de passar por um atendimento médico, ele não ficou com ferimentos visíveis.

O caso, porém, fez um novo médico do então pontífice insistir na redução do uso das pílulas e recomendar que ele só participasse de eventos matinais durante as viagens ao exterior. Na carta, Ratzinger afirma que tinha consciência de que as restrições médicas seriam possíveis "apenas por um curto período de tempo".

A constatação, então, aliada ao desgaste, o levou a renunciar em fevereiro de 2013, poucos meses antes da Jornada Mundial da Juventude no Rio, que ele não se considerava capaz de enfrentar. Bento 16 saiu do posto com antecedência suficiente para permitir que o sucessor, o papa Francisco, cumprisse a agenda.

Quase dez anos depois de deixar o cargo, o papa emérito morreu em dezembro, no mosteiro dos jardins do Vaticano, onde passou os anos de sua aposentadoria. Seu pontificado foi marcado por crises, como o escândalo Vatileaks, em 2012, que revelou uma ampla rede de corrupção no Vaticano, e os casos de abusos sexuais contra menores de idade cometidos por religiosos em vários países.

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