Premiê do Reino Unido admite uso de rede privada em meio a greves e crises no 'SUS' britânico

Governo de Rishi Sunak é acusado de sabotar negociações com sindicatos para achatar salários de trabalhadores

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São Paulo

O premiê britânico, Rishi Sunak, admitiu nesta quarta (11) ter usado a rede privada de saúde do país no passado, mas afirmou estar registrado num centro de saúde do NHS (Serviço Nacional de Saúde), sistema público semelhante ao SUS (Sistema Único de Saúde) brasileiro.

A declaração foi dada em meio a uma onda de greves no Reino Unido que se estende há sete meses, ainda que com intervalos —nesta quarta, equipes de ambulâncias, motoristas e paramédicos estão paralisados.

Os trabalhadores pedem melhores salários, defasados devido à inflação que chegou a 11,1% em outubro, a maior em 41 anos. As paralisações deixaram o sistema de saúde à beira do colapso no final de 2022.

Sunak a caminho de sessão na Câmara dos Comuns, em Londres
Sunak a caminho de sessão na Câmara dos Comuns, em Londres - Isabel Infantes - 11.jan.23/AFP

O jornal The Guardian já havia revelado que o premiê tinha registro em uma clínica particular cujas consultas custavam £ 250 (R$ 1.600). Sunak, porém, ainda não tinha comentado o assunto publicamente.

Ele confirmou o uso da rede privada ao responder a um questionamento de uma parlamentar da oposição, a trabalhista Cat Smith, durante a primeira sessão do ano no Parlamento britânico. Após descrever a suposta ausência de dentistas no sistema público de duas cidades inglesas, Smith perguntou por quanto tempo o premiê esperou para ter a sua última consulta.

"Sou registrado com um médico do NHS. Usei o sistema de saúde privado no passado e sou grato ao hospital de Friarage pelo fantástico cuidado que deram à minha família ao longo dos anos. A verdade é que tenho orgulho de vir de uma família do NHS", afirmou Sunak, filho de um médico do sistema público e de uma farmacêutica e dono de uma fortuna pessoal superior a de membros da família real.

Em um post no Twitter, a parlamentar afirmou que Sunak se esquivou da pergunta ao mencionar o registro com um médico do NHS. "Algo que a maioria de nós faz quando nasce e usa por toda a vida", escreveu.

Na sessão, o premiê afirmou que a greve desta quarta é aterrorizante para os pacientes que precisam de cuidados urgentes. "O assustador é que agora as pessoas não sabem se, ao ligarem para o 999, receberão o tratamento que precisam", disse ele aos parlamentares, referindo-se ao número de emergência.

Durante a paralisação desta quarta, os trabalhadores de ambulâncias só atenderão casos urgentes. A primeira greve da categoria ocorreu em dezembro, e outros atos estão programados até o fim do mês.

Na segunda-feira (9), Sunak se reuniu com sindicatos do Transporte, da Saúde e da Educação para tentar encontrar uma saída, mas não conseguiu avanços concretos. No dia seguinte, então, apresentou um projeto de lei para decretar "serviços mínimos" em setores essenciais.

"Obrigar os trabalhadores a trabalhar contra a sua vontade é um escândalo", afirmou Mick Lynch, porta-voz do sindicato ferroviário RMT. O governo britânico, diz ele, aposta no fracasso das negociações com os sindicatos para prolongar as greves e empobrecer os trabalhadores. "Para mim, isso é sabotagem. Eles queriam essas greves", disse a uma comissão do Parlamento nesta quarta. "É uma política deliberada para achatar os salários de trabalhadores de todos os setores e torná-los mais pobres do que eram."

Aos parlamentares o ministro da Saúde, Steve Barclay, disse que as greves das ambulâncias são lamentáveis e afirmou estar preocupado com o impacto na segurança dos pacientes, apesar dos acordos com a equipe da ambulância para responder a casos mais graves.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, criticou o governo durante a sessão e o acusou de não negociar com os trabalhadores. "Nos 13 anos do último governo trabalhista, não houve nenhuma greve nacional do NHS", afirmou. "Se o premiê tivesse negociado com os enfermeiros antes do Natal, eles não estariam em greve. Se tivesse negociado com os socorristas, eles também não estariam em greve. Por que está escolhendo prolongar a miséria em vez de encerrar as paralisações?"

Sunak insistiu que deseja um "diálogo construtivo" com os sindicatos, mas afirmou que os acordos salariais podem aumentar a inflação. "Ninguém está negando a liberdade de greve dos sindicatos", disse ele sobre a nova lei apresentada na terça, "mas também é importante equilibrá-la com o direito das pessoas de terem acesso a serviços essenciais".

Com Reuters e AFP

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