Vídeos registram resgates dramáticos de crianças após terremoto na Turquia e na Síria

Tremores desta segunda-feira (6) atingiram áreas remotas, e há dificuldades para salvar sobreviventes

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São Paulo

Vídeos de canais de televisão e publicados em redes sociais mostram os resgates dramáticos de ao menos três crianças em meio aos escombros gerados pelo terremoto de magnitude 7,8 que atingiu a Turquia e a Síria na madrugada desta segunda-feira (6), noite de domingo (5) no Brasil.

Em um prédio em Yurt Mahallesi, na cidade de Adana, no sul da Turquia, um menino foi retirado dos destroços sob aplausos e colocado em uma maca, aparentemente com um acesso venoso. "Vamos sair daqui, seu chocolate é por minha conta", disse um socorrista à criança, segundo o canal de TV Haber.

Em transmissão da mesma emissora, um repórter correu até uma mulher que já carregava uma criança e pegou uma menina no colo para tirá-la dali, logo após registrar um tremor secundário ao vivo. Pelo vídeo é possível ver que o local estava sob uma névoa de poeira, e a família levava o que pareciam ser cobertores.

O segundo grande tremor ocorreu enquanto sobreviventes voltavam às suas casas para pegar pertences que podiam ajudá-los a enfrentar a noite fria. A maior parte da região ficou sem gás e sem eletricidade, e o serviço meteorológico prevê chuva e granizo no sudeste da Turquia durante a semana.

Na província de Sanliurfa, uma criança foi resgatada de um buraco no meio dos escombros de um prédio de sete andares. Diversas pessoas cercavam o local quando a menina, coberta de poeira, foi puxada.

Apesar dos seguidos tremores, as equipes seguem buscando vítimas, muitas vezes com a ajuda da população. "Salvei três pessoas, mas também encontrei dois corpos. Não posso voltar para casa. Fico se precisarem de mim", disse um homem de 35 anos que ajudou no resgate em um edifício em Diyarbakir.

Em outra demonstração de solidariedade na região, que acolhe milhões que fogem da guerra na Síria, estabelecimentos como academias de ginástica e salas de eventos acolhem quem não pode voltar para casa. O terremoto atingiu áreas remotas na Turquia e na Síria, e as dificuldades de resgate são grandes. As autoridades registraram mais de 50 tremores secundários nas dez horas seguintes ao primeiro sismo.

Moradores resgatam uma menina ferida dos escombros de um prédio que desabou após um terremoto na cidade de Jandaris, na Síria - Rami al Sayed - 6.fev.2023/AFP

A dona de casa Tulin Akkayaafi, 30, contou que estava acordando quando sentiu o tremor e correu para a rua. "Estou muito assustada. Senti bastante o terremoto porque vivo no último andar", disse. "Saímos correndo em pânico. Agora não posso voltar para o meu apartamento e não sei o que vai acontecer."

A repórter Melisa Salman, 23, que vive em Kahramanmaras, epicentro do tremor, a 60 km da fronteira síria, disse que, mesmo acostumada aos sismos, por ser uma região em que fenômenos do tipo acontecem com certa frequência, nunca viu algo parecido. "Pensamos que era o apocalipse."

Em Iskenderun, também na Turquia, equipes de resgate vasculharam ao longo do dia os destroços do hospital estadual, parcialmente destruído pelo terremoto, e encontraram um sobrevivente quando já anoitecia. Os socorristas esperavam encontrar mais pessoas com vida dos escombros que eram, um dia antes, a ala de cuidados intensivos do serviço de saúde. Geradores ainda garantiam a iluminação do local, onde dezenas de pessoas estavam em colchonetes no chão.

Em frente ao hospital, familiares de desaparecidos se reuniam para conseguir informações. "Temos um parente que havia sido levado para fazer uma cirurgia e não sabemos o que aconteceu", disse Tulin, uma mulher que rezava e chorava em frente à construção. "Deus nos ajude. Já perdemos três parentes hoje, incluindo meu sobrinho. Meu tio está aí. Deus nos livre de perdê-lo também."

Quando o tremor começou, a enfermeira de cuidados intensivos Merve conta que estava no hospital. "De repente, o prédio começou a chacoalhar. Eu e meus amigos não tentamos sair, não abandonamos nossos pacientes. Então ouvimos um barulho terrível e o hospital começou a colapsar", afirma. "Só soubemos que a maior parte do prédio estava destruída quando saímos." Merve ainda não conseguiu contato com seus colegas que estavam na parte que desabou.

Na parte preservada do hospital, médicos e enfermeiros trabalhavam para atender pessoas feridas, que muitas vezes chegavam em carros particulares, já que as ambulâncias foram insuficientes. Enquanto um correspondente da agência de notícias Reuters estava no local, uma ambulância chegou e os socorristas saíram do carro gritando que traziam uma criança.

Na Síria, o sobrevivente Usama Abdelhamid chorava após ter um ferimento na testa tratado num hospital de Darkush, cidade controlada por rebeldes a noroeste do país e na fronteira com a Turquia. Ele estava dentro do prédio em que vivia com sua família, na província de Idlib, quando a construção desmoronou.

"Estávamos dormindo quando sentimos um tremor forte", disse à AFP. "Com a minha mulher e os meus filhos, corremos para a porta do apartamento, que ficava no terceiro andar. Quando abrimos, todo o edifício desabou." Em segundos, Abdelhamid e sua família estavam sob os escombros do edifício.

"Os muros caíram por cima de nós, mas meu filho conseguiu sair e começou a gritar. Então as pessoas vieram e nos tiraram do entulho", conta, emocionado. Todos os seus vizinhos morreram.

O hospital Al Rahma, onde Abdelhamid foi atendido, estava lotado. As ambulâncias não paravam de trazer feridos —muitos dos quais crianças. Em uma das salas, uma menina chorava enquanto lhe aplicavam uma injeção, e um garoto, sentado perto dela, tinha a cabeça enfaixada. Outra sala abrigava diversos feridos em macas, alguns com fraturas e hematomas. Ao menos 30 corpos foram transportados para o centro.

Mohamed Barakat, 24, ocupava uma das camas para receber tratamento devido aos ferimentos decorrentes da queda de um muro. "Saímos de casa porque era uma construção baixa e antiga, e as paredes dos edifícios vizinhos começaram a cair quando estávamos na rua", disse.

"A situação é grave, muitas pessoas ainda estão sob os escombros", disse o cirurgião Majid Ibrahim. Houve ao menos 733 mortos relatados pelos Capacetes Brancos em áreas controladas por rebeldes —o país, em guerra civil há quase 12 anos, está dividido entre essas zonas e as controladas pelo governo.

Quando Anas Habache, 37, começou a sentir o tremor, buscou seu filho e gritou para que sua mulher, que está grávida, descesse correndo até a entrada do apartamento, no terceiro andar de um edifício de Aleppo. "Descemos as escadas como loucos, e, quando chegamos à rua, vimos dezenas de famílias assustadas."

Alguns estavam de joelhos rezando, outros choravam como se fosse o juízo final. "Não senti nada igual durante esses anos todos de guerra. Foi muito pior do que as bombas."

Com AFP

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