Geórgia detém dezenas de manifestantes em ato contra lei de 'agentes estrangeiros'

Proposta pode abrir brecha para reprimir imprensa e ONGs e dificultaria caminho do país para integrar a UE

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Belo Horizonte

Após dois dias de protestos em Tbilisi, capital da Geórgia, ao menos 77 pessoas foram detidas por confrontos com a polícia até esta quarta-feira (8). Os manifestantes questionam um controverso projeto de lei em torno da definição de "agentes estrangeiros" que, segundo críticos, pode promover uma guinada autoritária.

O texto, aprovado em primeira votação, obriga organizações da ex-república soviética que recebem mais de 20% de suas receitas do exterior a se registrarem como "agentes estrangeiros". A medida se assemelha a uma lei aprovada na Rússia em 2012 e poderia ser usada contra a imprensa e ONGs.

a foto, tirada à noite, mostra manifestantes segurando uma bandeira da União Europeia, formada por um tecido azul com estrelas amarelas dispostas em círculo, sendo dispersados com jatos de água
Polícia dispersa com jatos de água manifestantes com bandeira da União Europeia nas imediações do Parlamento da Geórgia, em Tbilisi - AFP

O Ministério do Interior chamou o protesto de "ataque organizado" contra o Parlamento, e na avenida Rustaveli, principal via que atravessa o centro da capital, houve confrontos com pedras e coquetéis molotov por parte dos ativistas, e gás lacrimogêneo e jatos de água por parte das forças de segurança.

Segundo a pasta, em nota, quase 50 policiais ficaram feridos, assim como alguns civis, classificados pelo governo de "violentos". Neste caso, porém, números específicos não foram divulgados. Os atos começaram na terça-feira (7) e ganharam novo impulso nesta quarta com uma passeata pela Rustaveli para marcar o Dia Internacional da Mulher.

A polícia de Tbilisi usou gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral e jatos d'água para tentar dispersar os manifestantes. Algumas pessoas chegaram a romper uma barreira de metal que separava o público do Parlamento, mas não deram indícios de que entrariam no prédio. Ao menos uma janela foi quebrada.

"Agora é um momento em que estamos sob ataque direto do governo", disse à agência de notícia Reuters o jornalista Mikheil Gvadzabia, 24. "Está muito claro que mais e mais pessoas percebem que isso é assustador e que devem lutar por seu futuro."

manifestantes, em sua maioria mulheres, são fotografadas enquanto marcham em via pública carregando cartazes e bandeiras. uma delas, ao centro, fala ao megafone
Atos do Dia Internacional da Mulher também protestaram contra o projeto de lei - Irakli Gedenidze/Reuters

Na terça, o premiê da Geórgia, Irakli Garibashvili, que está em Berlim, reafirmou seu apoio à proposta, defendendo que as medidas atendem aos "padrões europeus e globais". Mas a presidente Salome Zourabichvili, que tem poder de veto, declarou estar do lado dos manifestantes.

"Vocês representam uma Geórgia livre, uma Geórgia que vê seu futuro no Ocidente e não permite que ninguém tire esse futuro", disse ela, em discurso gravado nos Estados Unidos, onde está em visita oficial.

Embora mantenha um acordo de livre comércio com a União Europeia (UE), em vigor desde julho de 2016, a Geórgia não faz parte do bloco e mantém relação complexa, permeada por conflitos, com a Rússia. Sua população, entretanto, é fortemente anti-Moscou.

Nos atos, ativistas gritavam "não à lei russa" e "vocês são russos" para os políticos no Parlamento. Josep Borrell, chefe da diplomacia da UE, afirmou que a lei é "incompatível com os valores e padrões do bloco" e alertou que sua "aprovação definitiva pode ter graves consequências" para os elos com o país.

Em 2022, a UE rejeitou as tentativas do país de se candidatar à adesão, ressaltando que seriam necessárias mudanças em áreas como o estado de direito, a independência da justiça e a liberdade de imprensa.

"Não podemos deixar nosso país se tornar pró-russo ou um estado russo, ou antidemocrático. Não temos outra escolha: a Geórgia é democrática ou não há Geórgia. Vamos vencer", disse à Reuters nesta quarta o engenheiro de software Vakhtang Berikashvili, de 33 anos, que participou das manifestações em Tbilisi.

Com Reuters e AFP

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