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Como um militar de baixa patente de 21 anos conseguiu acesso a documentos 'ultra-secretos' dos EUA

Jack Teixeira foi preso na sexta-feira (14) e agora enfrenta acusações de espionagem

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Bernd Debusmann Jr
Washington | BBC News Brasil

As acusações criminais apresentadas nesta sexta-feira (14) contra Jack Teixeira, o suposto autor do vazamento de documentos confidenciais do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, revelaram novas informações sobre o caso.

Há detalhes importantes sobre como Teixeira teve acesso a documentos confidenciais, sua carreira no Exército e a cronologia dos eventos que levaram à sua prisão na quinta-feira (13).

Desenho mostra Jack Teixeira, membro da Força Aérea da Guarda Nacional dos EUA suspeito de vazar documentos sigilosos, em audiência com juiz federal em Boston, Massachusetts - Margaret Small - 14.abr.23/Reuters

O jovem de 21 anos, membro da Guarda Aérea Nacional de Massachusetts, enfrenta acusações de "retenção e transmissão não autorizada de informações de Defesa nacional" e "remoção e retenção não autorizada de documentos ou materiais sigilosos". As acusações podem gerar pena de até 15 anos de prisão.

Os documentos —que o suspeito supostamente compartilhou em uma plataforma online— incluíam detalhes sobre operações de guerra na Ucrânia e inteligência dos EUA sobre aliados e adversários em todo o mundo.

Embora as autoridades americanas ainda não tenham fornecido detalhes sobre a investigação ou a extensão do vazamento, documentos judiciais fornecem informações sobre a vida de Teixeira e como o vazamento supostamente ocorreu.

Primeiros documentos vazaram em dezembro

A denúncia criminal contra Teixeira inclui uma declaração escrita por um agente especial do FBI —a polícia federal americana— especializado em contra espionagem e espionagem.

No texto, o agente afirma que um internauta —cujo usuário foi posteriormente associado a Teixeira por meio de registros de pagamento— começou a publicar o que aparentavam ser "informações confidenciais" em dezembro de 2022. O conteúdo teria sido postado em um servidor de bate-papo do Discord dedicado a discutir questões geopolíticas.

Em janeiro, prossegue o agente, foram publicadas fotografias de papéis com "o que pareciam ser selos de sigilo de documentos oficiais do governo dos Estados Unidos". Um usuário anônimo do Discord identificado como Usuário 1 disse ao FBI que um dos documentos inicialmente divulgados "descrevia a situação do conflito entre a Rússia e a Ucrânia", incluindo movimentos de tropas em um dia específico.

A declaração indica que o documento foi "baseado em informações confidenciais de inteligência dos EUA, obtidas por meio de fontes e métodos sigilosos". Classificado como "ultra-secreto", sua divulgação poderia causar "danos excepcionalmente sérios" à segurança nacional, segundo o depoimento.

O Usuário 1 também declarou ao FBI que Teixeira "teve medo que o flagrassem transcrevendo textos no seu local de trabalho, por isso começou a levar os documentos para casa e fotografá-los".

As fotografias de alguns dos documentos vazados, analisadas pela BBC, parecem ter sido tiradas em uma residência privada. Em várias das imagens, é possível ver claramente um balcão de cozinha e ladrilhos e objetos pessoais em cima de uma mesa.

Jack Teixeira, suspeito de ter vazado documentos sigilosos do Pentágono, é detido por agentes do FBI em North Dighton, no nordeste do estado de Massachusetts - WBZ - 13.abr.23/CBS/via AFP

'Sigilo absoluto'

Documentos judiciais mostram que Teixeira se alistou na Guarda Aérea Nacional em setembro de 2019. Ele atualmente ocupa o posto E-3 —uma patente relativamente baixa— e em fevereiro foi listado como "oficial de operações de defesa cibernética". Em 2021, recebeu uma autorização de segurança "ultra-secreta" e "acesso compartimentalizado confidencial" a outros programas sigilosos do governo dos EUA.

Para obter essa autorização, ele teria que assinar um acordo de confidencialidade vitalício, "no qual teria que concordar que a divulgação não autorizada de informações protegidas poderia resultar em acusações criminais".

Mark Zaid, advogado de segurança nacional que frequentemente trabalha em casos envolvendo informações sigilosas, disse à BBC que não é totalmente incomum alguém tão jovem quanto Teixeira ter acesso a documentos confidenciais como os que vazaram online.

"Muitas pessoas dessa idade têm acesso a informações sigilosas, especialmente na Guarda Nacional", pontuou. "A questão é, em vez disso, por que ele conseguiu acessar documentos sobre os quais provavelmente não precisava saber?"

Como aviador designado para Sistemas de Cibertransporte, Teixeira foi responsável por ajudar a operar a rede global de comunicações da Força Aérea. De acordo com Zaid, essa função lhe daria acesso à União Mundial de Sistemas de Comunicações de Inteligência (JWICS, na sigla em inglês), que ele descreveu como uma "biblioteca de informações" sobre a inteligência dos EUA.

Busca por 'vazamento'

A denúncia criminal também alega que Teixeira buscou em seu computador informações de inteligência com a palavra "vazamento" no dia 6 de abril, mesma data em que foram divulgadas as primeiras informações sobre a divulgação de documentos sigilosos.

"Consequentemente, há razões para acreditar que Teixeira estava procurando informações sigilosas sobre relatórios da comunidade de inteligência dos EUA a respeito da identidade do autor dos vazamentos", acrescenta o agente no documento apresentado à corte.

Lei de Espionagem

Os documentos judiciais também indicam que as acusações criminais contra Teixeira se enquadram parcialmente na Lei de Espionagem.

A primeira acusação, especificamente, responde a um estatuto que prevê pena de prisão de até dez anos e multa para quem "copiar, subtrair, criar ou obter" ou apenas tentar fazer isso com documentos do governo. De acordo com a legislação americana, informações contidas neles "poderiam ser usadas contra os EUA ou em benefício de qualquer nação estrangeira".

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