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Ministra na França posa para Playboy e sofre ataques do governo e da oposição

Marlène Schiappa chama detratores, que incluem primeira-ministra Elisabeth Borne, de 'retrógrados e hipócritas'

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Toulouse (França)

A secretária de Estado da França Marlène Schiappa, 40, vai estampar a capa da próxima edição da revista Playboy a ser lançada na quinta (6), dia marcado para mais uma jornada de mobilização contra a impopular reforma da Previdência proposta pelo governo francês.

O ensaio, mesmo antes de chegar às bancas, abriu um novo e indiscreto capítulo na crise que ronda o presidente Emmanuel Macron, após ele mesmo ter sido alvo de piadas por ter concedido entrevista à revista infantil em quadrinhos Pif Gadget no momento em que o país enfrenta uma ebulição nas ruas.

Completa o quadro a entrevista do Ministro do Trabalho, Olivier Dussopt, linha de frente da reforma da Previdência, à revista Tetû, na qual ele assume sua homossexualidade. As aparições em um momento de tensão política foram apontadas pela oposição como cortina de fumaça.

Marlene Schiappa, secretária de Estado de Economia Social e Solidária e da Vida Associativa, chega a encontro semanal do gabinete no Palácio do Eliseu, em Paris - Ludovic Marin - 31.ago.22/AFP

Mas coube ao ensaio de Schiappa para a Playboy um lugar de destaque entre as críticas, que vieram do governo e da oposição, além de uma advertência da primeira-ministra Elisabeth Borne.

Célebre por evocar a igualdade de gênero, Borne teria telefonado a Schiappa para dizer que sua aparição na revista "não foi nem um pouco apropriada, especialmente no período atual" que o país atravessa.

Nos bastidores, especula-se que o caso fragilize a administração de Borne, que não teria sido informada das negociações de Schiappa com a Playboy, ou que possa levar à demissão da secretária, que foi ao Twitter reafirmar sua posição. "Defender o direito da mulher de dispor de seu corpo em todo lugar, o tempo todo. Na França, as mulheres são livres, por mais que isso desagrade aos retrógrados e aos hipócritas."

Imagens vazadas revelam um ensaio recatado, em que a secretária de Estado aparece com as cores da bandeira da França e de vestido longo branco. As fotos ilustram uma entrevista de 12 páginas em que ela fala sobre direitos das mulheres, aborto e literatura erótica.

Titular da pasta de Economia Social e Solidária e da Vida Associativa, Schiappa integra o governo Macron desde 2017, quando assumiu o então inédito ministério de Equidade de Gênero. Ela é autora de livros sobre feminismo e de títulos eróticos, em geral assinados sob pseudônimo, além de um livro com dicas sexuais para pessoas acima do peso, pelo qual foi acusada de reforçar estereótipos gordofóbicos.

A deputada do Partido Verde Sandrine Rousseau abriu fogo contra a ministra. "Os corpos das mulheres têm de poder ser expostos em qualquer lugar. Não há problema nisso, mas existe um contexto social."

"Onde está o respeito pelo povo francês, pelas pessoas que terão que trabalhar dois anos a mais [devido à reforma da Previdência], que estão se manifestando e perdendo dias de pagamento, que não podem comer em razão da inflação?", indignou-se a deputada.

Jean-Luc Mélenchon, líder do ultraesquerdista França Insubmissa e terceiro lugar na última corrida presidencial, afirmou que "a França está saindo dos trilhos". "Num país em que o presidente se expressa na Pif, e sua ministra, na Playboy, o problema é a oposição", ironizou.

O ministro do Interior, Gérald Darmanin, por sua vez, saiu em defesa da colega durante entrevista ao canal francês CNews em que classificou Schiappa como "uma mulher de caráter".

O editor da versão francesa da Playboy, Jean-Christophe Florentin, também saiu em defesa da ministra, afirmando que a secretária de Estado tinha entendido que a revista erótica "não era para velhos machistas" e que podia ser um instrumento da causa feminista.

Prisca Thévenot, porta-voz do partido Renascença, de Macron, também apoiou Schiappa durante entrevista à Franceinfo. "A revista Playboy é conhecida por promover o tema dos direitos da mulher? Acho que não, por isso é importante que possamos abordar essas questões também nesta revista. Não se trata de posar nua, mas de abordar questões importantes."

O que poderia ser só um desconforto num contexto normal ganhou proporções explosivas graças aos protestos que já levaram milhares de franceses às ruas contra a reforma da Previdência. Aprovada graças a um dispositivo considerado pouco democrático, a refomra eleva a idade mínima para aposentadoria de 62 para 64 anos e aumenta os anos de contribuição para acesso à pensão integral de 42 para 43 anos.

A legislação ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Constitucional e também aumenta a idade mínima de aposentadoria para atividades mais penosas, como policiais e bombeiros, de 57 para 59 anos.

Segundo o governo, a reforma representa economia de € 18 bilhões (cerca de R$ 101 bi). O movimento é, porém, repudiado pelos franceses, que prezam a qualidade de seu sistema público de segurança social.

Erramos: o texto foi alterado

A imagem da capa da Playboy incluída em versão anterior do texto era uma montagem. O registro com a ministra francesa Marlène Schiappa, que de fato posou para a revista, foi excluído.

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