Descrição de chapéu Financial Times

Eleição na Finlândia será teste de fogo para primeira-ministra Sanna Marin

Líder elogiada no exterior geriu crises com habilidade, mas divide opiniões e votos no âmbito doméstico

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Richard Milne
Helsinque | Financial Times

Sanna Marin lidou habilmente com a pandemia de Covid-19, com a invasão da Ucrânia pela Rússia e com a tentativa da Finlândia de ingressar na Otan. Apesar dessas conquistas, a primeira-ministra está lutando para se livrar de seus dois rivais de direita nas eleições parlamentares deste domingo (2).

"Sanna Marin tem duas imagens diferentes", diz Hanna Wass, vice-reitora da Universidade de Helsinque. "Internacionalmente, ela é uma superstar. Na Finlândia, é uma figura mais polarizadora."

Mulher branca de cabelo escuro e liso com jaqueta de couro e luvas pretas fala ao microfone
A primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin, discursa durante comício em Helsinque - Jonathan Nackstrand - 1º.abr.23/AFP

O sentimento é confirmado no shopping Kamppi, no centro de Helsinque, a capital, onde uma foto gigante da líder social-democrata é exibida aos compradores.

"Eu gosto dela. Ela fala com clareza, é direta e teve que lidar com muita coisa nos últimos anos", diz Katja, apontando para a foto de Marin, que, aos 37, é uma das primeiras-ministras mais jovens do mundo.

Seu colega Juho discorda. "Eu sei que as pessoas a aprovam internacionalmente. Mas acho que ela quer levar a Finlândia na direção errada. Estou preocupado com a dívida do governo."

A Finlândia pode estar à beira de sua maior mudança de política externa em décadas, com a entrada iminente na Otan, a aliança militar do Ocidente, mas a campanha eleitoral no país nórdico tem se concentrado mais em debates econômicos tipicamente finlandeses.

O fato de Marin ser uma figura mais polêmica em casa do que no exterior se deve menos a vídeos dela festejando com amigos na residência oficial do que a um debate político sobre os méritos da austeridade versus crescimento, sobre a saúde das finanças públicas e sobre a dívida do governo.

"Há uma característica muito finlandesa nas eleições: as pessoas estão falando sobre a dívida pública", explica Tytti Tuppurainen, ministra de Assuntos Europeus e aliada de Marin. "Diante dos anos de crise, o debate voltou ao básico."

Marin moveu seus social-democratas firmemente para a esquerda para oferecer aos eleitores uma escolha ideológica diferente, o que é incomum na história nórdica recente, onde a maioria das diferenças entre os principais partidos estão nos detalhes, não na filosofia. Ela quer que o próximo governo invista no crescimento e atribui o aumento da dívida à pandemia e à Guerra da Ucrânia.

Seus oponentes de direita, o partido conservador Coalizão Nacional e os Finlandeses, populistas anti-imigração, querem cortar gastos para reduzir a dívida da Finlândia ao nível do PIB de 73% —abaixo da média da UE— para mais perto da meta do bloco, 60%.

"A adesão à Otan é uma mudança histórica. Mas, como existe uma visão tão unificada entre os partidos, isso não ajuda a diferenciá-los. Temos diferenciação com a economia: é uma questão ideológica", diz Jarmo Lindberg, ex-chefe de defesa e candidato da Coalizão Nacional.

A última pesquisa de opinião situou os social-democratas de Marin em terceiro lugar, atrás dos adversários de direita dentro da margem de erro estatística. Os três pontuam entre 18,7% e 19,8%, mas os Finlandeses foram o único partido a aumentar seu apoio em relação à votação anterior.

Marin está acostumada a votações apertadas. Ela foi eleita primeira-ministra em 2019 por apenas três votos de diferença numa disputa interna do partido. Poucos meses depois da vitória, a pandemia de coronavírus eclodiu. A Finlândia foi um dos países europeus menos afetados, ajudado em parte por seu isolamento na periferia do continente e em parte pela ação decisiva de Marin.

Criticada por sua falta de experiência política depois de servir apenas três anos como vereadora e quatro como deputada antes de se tornar primeira-ministra, Marin teve que lidar com a invasão russa da Ucrânia, outro vizinho não pertencente à Otan.

Ela inicialmente descartou a adesão à aliança militar, mas depois apoiou o ingresso com entusiasmo, já que a opinião pública se inclinava fortemente a favor. Uma autoridade de segurança finlandesa ouvida sob anonimato afirma que Marin tem mais experiência em crises do que qualquer político finlandês desde a Segunda Guerra Mundial.

Em meio ao processo de adesão à Otan, Marin foi alvo de intenso escrutínio devido a um vídeo em que aparece em uma festa —o que levou a acusações de que ela estava sendo julgada por padrões diferentes dos políticos homens. "Acredito que a sociedade finlandesa e sua resiliência podem suportar que eu cante e dance com meus amigos", respondeu.

Marin, que continua sendo a política mais popular da Finlândia, gerou polêmica em Kiev neste mês, quando disse que Helsinque poderia considerar o envio de caças Hornet para a Ucrânia assim que fossem retirados de serviço. Isso causou comoção entre outros membros de sua coalizão de cinco partidos, bem como ao presidente, que lidera a política externa da Finlândia.

Marin também forneceu a imagem que definiu a campanha depois que foi apanhada apontando o dedo para Riikka Purra, líder do partido Finlandeses. Os social-democratas descartaram formar um governo com os Finlandeses, mas o partido da Coalizão Nacional, liderado por Petteri Orpo, não.

Se a Coalizão Nacional ou os Finlandeses vencerem, os analistas acreditam que provavelmente formarão um governo de direita com a ajuda de partidos menores, mesmo que discordem em questões como migração e União Europeia.

Mas se os social-democratas saírem na frente poderão achar difícil costurar uma aliança puramente de esquerda. Especialistas acham que terão que recorrer ao partido da Coalizão Nacional para uma grande coalizão.

Antti Lindtman, que foi derrotado por Marin em 2019 para se tornar primeiro-ministro, disse: "Todos concordam que, não importa quem vencer no domingo, será difícil formar um governo".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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