Porta-voz de Biden diz que tom do Brasil sobre Ucrânia não é de neutralidade

Casa Branca critica afirmação de que EUA incentivam a guerra e faz ressalva sobre bom relacionamento com Brasília

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Washington

Em mais uma manifestação de condenação da postura do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto à Guerra da Ucrânia, a porta-voz do presidente Joe Biden, Karine Jean-Pierre, disse nesta terça-feira (18) que a postura do Brasil não tem sido de neutralidade.

"Ficamos impressionados com aquele tom da entrevista coletiva do ministro das Relações Exteriores ontem, que não era um tom de neutralidade, sugerindo que os Estados Unidos e a Europa não estão interessados na paz, ou que compartilhamos a responsabilidade deles pela guerra. Acreditamos, e é verdade, que está totalmente errado. Claro, queremos que esta guerra acabe", disse ela.

Karine Jean-Pierre, porta-voz do presidente dos EUA, Joe Biden, durante entrevista coletiva na Casa Branca - Andrew Caballero-Reynolds - 10.abr.23/AFP

Os comentários, na verdade, foram feitos no domingo (16) por Lula, no final de sua visita à China, quando afirmou que "é preciso que os EUA parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz".

Questionada se Biden está ciente dos comentários de Lula, Jean-Pierre afirmou que não falou com ele sobre o assunto, mas que "presume que sim". A porta-voz fez a ressalva de que o Brasil "é um país soberano" e que está "confiante na força do relacionamento EUA-Brasil, mesmo que discordemos com algumas das coisas que o presidente Lula disse", afirmou.

O Brasil condenou a anexação de território ucraniano pela Rússia em fóruns internacionais como a Assembleia-Geral da ONU, mas se manifestou contrário a sanções. Em fevereiro, Lula chegou a dizer que o Brasil tem "muitos problemas internos para resolver, temos a fome para resolver, e nós precisamos tratar disso antes de tratar de qualquer coisa relacionada à Ucrânia".

Esta foi pelo menos a terceira manifestação pública de um membro do governo Biden nesta terça. Mais cedo, o diretor sênior de Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Juan Gonzalez, um dos principais conselheiros de Biden para América Latina, adotou o mesmo tom.

"Países como o Brasil estão longe. Se perguntar a um brasileiro na rua qual é a opinião dele sobre Ucrânia, ele diria que está pensando mais em colocar comida na mesa, nas chances de educação e oportunidades econômicas do que no que alguns deles veem como um conflito na Europa que ocorre há 300 anos", disse.

"Temos uma Carta da ONU, temos certas responsabilidades que todos assinamos. Damos as boas-vindas a países como o Brasil que desempenham um papel de liderança pela paz. [Mas] a ideia de que os EUA não apoiam a paz ou têm algo a ver com o início da guerra simplesmente não tem relação com os fatos. Passamos todo o ano de 2021 tentando evitar que a guerra acontecesse e temos apoiado a paz", afirmou Gonzalez em evento organizado pela agência de notícias EFE e realizado na capital americana.

Brian Nichols, secretário-assistente do Departamento de Estado para o Hemisfério Ocidental, afirmou também nesta terça esperar que o governo brasileiro tenha pedido cessar-fogo ao chanceler russo, Serguei Lavrov, que está em visita ao Brasil. "Claramente a invasão sem provocação da Rússia à Ucrânia é tema de profunda preocupação de toda a comunidade internacional. Espero que o Brasil tenha aproveitado a visita de Lavrov para enfatizar a importância do respeito à lei internacional e o imediato cessar de hostilidades contra um estado vizinho", disse.

Na segunda (17), os EUA reagiram de maneira dura por meio do porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, em conversa por telefone com jornalistas. "É profundamente problemático como o Brasil abordou essa questão de forma substancial e retórica, sugerindo que os Estados Unidos e a Europa de alguma forma não estão interessados na paz ou que compartilhamos a responsabilidade pela guerra. Francamente, neste caso, o Brasil está repetindo a propaganda da Rússia sem olhar para os fatos", disse.

Em entrevista à Folha nesta terça, o ex-chanceler Celso Amorim e assessor especial de Lula afirmou que o Brasil não é "obrigado a seguir todas as opiniões dos EUA".

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