Zelenski viajará ao G7 em busca de apoio e deve pressionar Índia e Brasil

Ucraniano quer fortalecer compromisso de EUA e do grupo de lideranças após quase 16 meses de guerra

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Hiroshima

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, irá ao Japão para participar presencialmente da cúpula do G7. Ele chegou, nesta sexta-feira (18), à Arábia Saudita, país de "papel importante" no mundo, como ele próprio publicou em mídia social.

A pauta principal da ida de Zelenski ao G7 é fortalecer o compromisso do grupo com a Ucrânia. A reunião bilateral que melhor reflete esse objetivo deve acontecer com o presidente dos EUA, Joe Biden. Segundo Andrei Iermak, chefe de gabinete de Zelenski, o encontro deve ocorrer em Hiroshima, sede da cúpula, e o tema em destaque será a "coalizão internacional em formação para reforçar a defesa aérea da Ucrânia frente à invasão russa" —uma referência ao plano dos EUA de treinar pilotos de caça ucranianos.

É claro que, estando em um evento com algumas das principais lideranças globais, Zelenski também tem outros objetivos em Hiroshima. Um deles, segundo o britânico Financial Times, seria fortalecer o compromisso do grupo ocidental com a Ucrânia "e assegurar o apoio de Índia e Brasil" —os dois países não são integrantes do G7, mas o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estão na cúpula como convidados.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em entrevista coletiva em Helsinque, na Finlândia
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em entrevista coletiva em Helsinque, na Finlândia - Vesa Moilanen - 3.mai.23/AFP

Segundo informações obtidas pela Folha, a comitiva ucraniana já entrou em contato com a brasileira para tentar viabilizar um encontro entre Lula e Zelenski, mas ainda não obteve uma confirmação. O ucraniano também busca uma bilateral com Modi, de acordo com a agência PTI, e o indiano estaria verificando a possibilidade já para este sábado (20).

Na avaliação de autoridades ouvidas pelo jornal The New York Times, a presença de Zelenski em Hiroshima tornaria "mais difícil para os líderes de Índia, Brasil e outros se manterem relutantes em apoiar a Ucrânia" contra a Rússia.

Desde o início da guerra, a Índia foi na contramão do Ocidente e evitou se afastar do aliado tradicional, até ampliando a compra de petróleo russo, fonte de capital importante para o país de Vladimir Putin, alvo de sanções. Já o Brasil se recusou a enviar munição para Kiev, como proposto pela Alemanha, e Lula fez uma série de declarações no sentido de equiparar as responsabilidades de Rússia e Ucrânia pelo conflito no Leste Europeu —e teve que lidar com ampla repercussão negativa. Tanto Modi como Lula, por outro lado, já conversaram com Zelenski por telefone.

A participação do ucraniano é esperada para o domingo (21). É quando Modi, Lula e outros convidados estarão ao lado de Estados Unidos e dos outros membros do G7 na sessão de trabalho "Rumo a um mundo pacífico, estável e próspero". Lula deverá falar em favor das iniciativas de paz para a Ucrânia externas ao G7, lançadas por Brasil, China e agora por países africanos, encabeçados pela África do Sul.

São planos que, em geral, tiveram até agora poucos avanços concretos. O brasileiro, a criação de um "clube da paz" formado por países não alinhados a nenhum dos dois lados, esbarra justamente na falta de clareza sobre essa classificação. O chinês, apresentado no aniversário da invasão russa, é encarado com ceticismo pelo Ocidente, que não vê Pequim como uma mediadora imparcial. O africano está ainda pouco claro, mas, segundo o líder sul-africano, Cyril Ramaphosa, será apresentado a Putin e a Zelenski em breve.

Prevista inicialmente para as 10h, no horário local, a sessão sobre a paz foi transferida para as 11h45. Índia e Brasil, que buscam viabilizar uma bilateral durante a cúpula, marcaram o encontro de Modi e Lula para as 10h40, imediatamente antes. Espera-se agora que os dois integrantes do Brics e do G20, bloco que reúne países ricos e emergentes, conversem sobre a guerra antes de entrar para a sessão com os demais.

Zelenski se encontrou nesta semana com o enviado chinês, Li Hui, para discutir uma saída para o conflito, durante visita de dois dias do representante de Pequim a Kiev. Em comunicado após as conversas, a diplomacia ucraniana disse que não irá aceitar perda de território ou o congelamento da guerra nas posições atuais. Li, por sua vez, disse que não há panaceia para resolver a crise e "todas as partes precisam começar por si mesmas, criando condições para se engajar em negociações".

O G7 foi aberto nesta sexta-feira, com uma cerimônia no Memorial da Paz em Hiroshima, da qual participaram os líderes dos países do grupo, EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá.

Em seguida, iniciando as reuniões, os sete abordaram a Guerra da Ucrânia, reafirmando apoio a Kiev e o reforço das sanções econômicas, com alguns anunciando medidas contra o comércio de diamantes russos. Mas o veto à retomada futura do fornecimento de energia russa à Europa, via gasoduto Nord Stream e outros, que chegou a ser noticiado, teria ficado de fora das propostas.

O presidente Lula participa de encontro bilateral com o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese
O presidente Lula participa de encontro bilateral com o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese - Ricardo Stuckert/Presidência da Reública/Divulgação

Em seu único compromisso oficial do primeiro dia da cúpula, Lula manteve uma reunião bilateral de meia hora com o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese. Segundo integrantes da comitiva, Albanese apontou o significado da eleição do petista, sobretudo para a defesa do ambiente.

Ambos de partidos trabalhistas, eles conversaram sobre as novas relações trazidas pelos aplicativos de transporte e a revisão feita recentemente pela Espanha, em sua legislação, visando diminuir a instabilidade no mercado de trabalho. Conversaram também sobre a similaridade das duas economias, com exportações semelhantes, e a necessidade de aproximação.

O premiê convidou Lula a visitar a Austrália, citando a Copa do Mundo feminina, e o presidente comentou que a ministra do Esporte, Ana Moser, irá ao evento —e talvez também a primeira-dama, Janja.

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