Zelenski convida Lula para visitar a Ucrânia em conversa por vídeo

Ligação entre presidentes ocorre em meio a tentativas do Brasil de mediar conflito contra Rússia

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou na tarde desta quinta-feira (2) com o líder ucraniano, Volodimir Zelenski, e recebeu um convite para visitar o país ora invadido pelas tropas de Vladimir Putin.

O diálogo ocorreu por vídeo, no Palácio do Planalto, e, segundo auxiliares palacianos, Lula teria sinalizado que aceitaria o convite em momento oportuno. Trata-se do primeiro contato entre o petista e o presidente ucraniano. Na ligação, Lula voltou a mostrar disposição em intermediar negociações em busca da paz.

"Tive uma reunião por vídeo agora com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski. Reafirmei o desejo do Brasil de conversar com outros países e de participar de qualquer iniciativa em torno da construção da paz e do diálogo. A guerra não pode interessar a ninguém", postou Lula em sua conta no Twitter.

Lula conversa com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, por vídeo
Lula conversa com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, por vídeo - Reprodução

Nas redes sociais, Zelenski disse que ambos os líderes destacaram na conversa a importância do princípio da soberania e os esforços diplomáticos pela paz e afirmou ter agradecido o brasileiro pelo voto na ONU em favor da resolução que condena as "nefastas consequências humanitárias" da invasão russa, exige a retirada das tropas de Moscou do país e se compromete com a promoção da paz na região.

O Brasil, que em outras votações sobre o conflito chegou a optar pela abstenção, dessa vez apoiou a medida. Antes, o país já havia apoiado duas resoluções contra a Rússia —uma que condenava a anexação de porções do território da Ucrânia e outra que condenava a invasão. Já um texto votado em novembro, que reconhecia a Rússia como responsável pela reparação da Ucrânia, não recebeu o apoio brasileiro.

O Brasil não quer ter qualquer participação no conflito, mesmo que indireta, e Lula já negou o envio de munições à Ucrânia, em contraste com a atuação incisiva de potências ocidentais. A linha diplomática adotada pelo petista está em consonância com o que fez o governo anterior, de Jair Bolsonaro (PL), cujas decisões levavam em conta a importância dos fertilizantes russos importados pelo agronegócio do Brasil.

No final de janeiro, Lula defendeu a criação de um grupo de países neutros para negociar o fim do conflito, proposta vista com ressalvas pelos EUA, que querem uma condenação mais explícita do Brasil à invasão russa. Em comunicado conjunto após o petista visitar Joe Biden na Casa Branca, o Brasil cedeu à pressão americana e aceitou incluir declarações mais duras contra Moscou —o plano de Lula não foi mencionado.

A iniciativa brasileira é semelhante à apresentada em 2010, para intermediar a crise entre Irã e Estados Unidos, sobre o enriquecimento de material nuclear pelo país persa. O acordo nuclear negociado por Brasil e Turquia depois naufragou, quando os americanos o abandonaram e impuseram novas sanções.

O governo brasileiro também pretende manter um diálogo com as autoridades russas, que disseram entender as posições brasileiras adotadas recentemente em relação ao conflito. Essa sinalização foi dada pelo chanceler russo, Serguei Lavrov, ao brasileiro Mauro Vieira, durante encontro às margens da reunião de ministros das Relações Exteriores do G20, o grupo das 20 economias mais desenvolvidas do mundo, em Nova Déli, na Índia. Lavrov confirmou que deverá vir ao Brasil em abril.

Em entrevista no final desta quinta ao jornalista Reinaldo Azevedo, na BandNews, Lula disse que a guerra está causando inflação no mundo todo e que tanto o líder ucraniano quanto o russo querem acabar como conflito. "Você tem que encontrar alguma coisa que possa justificar a retomada da paz. A guerra já está aí há um ano. Essa guerra está influenciando muita coisa do mundo. O Brasil está sendo vítima dessa guerra por conta dos fertilizantes. Parte da inflação do mundo é por conta dessa guerra", disse o petista.

O presidente disse ainda que é preciso dialogar sobre a paz, porque a Europa e os EUA ficam "botando dinheiro todo dia" no conflito, e destacou o papel que o líder chinês, Xi Jinping, pode desempenhar. "Não pode ser um olheiro", afirmou. "Possivelmente, pedir para a Rússia sair da Crimeia [anexada por Moscou em 2014] seja impossível. Mas pode ter outras coisas que você pode pedir. Pedir para a Ucrânia aceitar a ocupação do seu território é difícil, mas podem ter outras coisas para a gente conversar."

Embora continue aberto aos dois lados e busque a criação do grupo de países para mediar o conflito, Lula deu declarações no início da guerra que o colocaram em rota de colisão com a Ucrânia e evidenciaram um alinhamento mais próximo dos países do Brics —ainda que criticando a invasão russa.

Nos primeiros meses da disputa, o hoje presidente brasileiro afirmou que Zelenski, a quem chamou de "um bom comediante", era tão responsável quanto Putin pela guerra. A fala, feita em entrevista à revista americana Time, foi motivo para que a Ucrânia incluísse o brasileiro —à época candidato ao Planalto— em uma lista de pessoas acusadas de fazer "propaganda russa". O nome dele foi retirado dois dias depois.

A guerra entre Rússia e Ucrânia completou um ano na última sexta (24), em meio a um impasse que não permite prever o seu término. Em fevereiro de 2022, os russos lançaram os primeiros mísseis e avançaram com tanques no território ucraniano contando que o conflito seria resolvido em poucos dias.

No entanto, a resistência das tropas da Ucrânia e cálculos estratégicos russos atrapalharam os planos de uma guerra rápida. A situação ainda tornou-se mais difícil para Putin com o auxílio da Europa e dos Estados Unidos a Kiev, com o envio de mísseis e de tanques de combate —no caso, da Alemanha.

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