Descrição de chapéu The New York Times

Chefe do necrotério de Harvard é acusado de vender partes de corpos

Entre restos roubados estavam cadáveres de natimortos que deveriam ter sido cremados e devolvidos às famílias

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Michael Levenson
The New York Times

O gerente de um necrotério da Escola de Medicina da Universidade Harvard, nos EUA, foi acusado de vender partes de cadáveres doados e permitir que compradores fossem ao necrotério escolher o que desejavam, disseram promotores nesta quarta (14).

O gerente do local, Cedric Lodge, 55, sua mulher, Denise Lodge, 63, de Goffstown, em New Hampshire, e três outras pessoas foram indiciados por um júri federal da Pensilvânia por acusações de formação de quadrilha e transporte interestadual de bens roubados.

Fachada da Escola de Medicina de Harvard
Fachada da Escola de Medicina de Harvard - Brian Snyder - 15.mai.22/Reuters

Uma sexta pessoa, Jeremy Pauley, 41, de Bloomsburg, na Pensilvânia, foi acusada separadamente. Uma sétima, Candace Chapman Scott, de Little Rock, em Arkansas, foi indiciada anteriormente no estado.

Os réus faziam parte de uma rede nacional que comprava e vendia restos humanos roubados da faculdade de medicina e de um necrotério em Little Rock, onde Scott trabalhava, disse a acusação.

Em declaração à comunidade de Harvard na quarta-feira, George Q. Daley, reitor da faculdade de medicina, e Edward M. Hundert, reitor de educação médica, chamaram o caso de "uma traição abominável".

De acordo com a Promotoria, de 2018 a 2022 Cedric Lodge roubou partes de cadáveres que tinham sido doados e dissecados –incluindo cabeças, cérebros, pele e ossos– antes de suas cremações.

Os Lodge então enviaram os restos mortais para outras pessoas, incluindo Katrina Maclean, 44, de Salem, no estado de Massachusetts, dona de uma loja chamada Kat's Creepy Creations (criações assustadoras de Kat), em Peabody, também em Massachusetts, e Joshua Taylor, 46, de West Lawn, na Pensilvânia.

Às vezes, Lodge permitia que Maclean, Taylor e outros entrassem no necrotério para escolher as partes que queriam. Em outubro de 2020, disseram os promotores, Maclean concordou em comprar dois rostos dissecados por US$ 600 (R$ 2.882). Os promotores disseram que ela armazenava e vendia restos mortais na loja, que anuncia no Instagram "bonecas assustadoras, esquisitices" e "arte com ossos". Em 2021, ela despachou pele humana para Pauley e "contratou seus serviços para curtir a pele para criar couro".

De setembro de 2018 a julho de 2021, Taylor fez pagamentos eletrônicos de mais de US$ 37 mil (R$ 177 mil) para Denise Lodge, por partes de corpos que foram roubadas por Cedric Lodge.

Em uma transação, Taylor enviou a Denise Lodge US$ 1.000 (R$ 4.800) com um memorando que dizia "cabeça número 7". Como parte de outro pagamento, ele enviou US$ 200 (R$ 960) a Denise Lodge com um memorando que dizia "braaaaaaains" [céééééérebros], segundo a acusação.

Os promotores disseram que Pauley comprou os restos mortais de Scott, que roubou partes do corpo do necrotério e crematório em Little Rock, onde ela trabalhava. Entre os restos que Scott roubou estavam os cadáveres de dois bebês natimortos que deveriam ter sido cremados e devolvidos a suas famílias.

Scott já havia sido indiciado no Arkansas por acusações como fraude postal, fraude eletrônica e transporte interestadual de propriedade roubada. Pauley, por sua vez, vendeu muitos restos mortais que comprou para outras pessoas, incluindo Mathew Lampi, 52, de East Bethel, em Minnesota.

"Alguns crimes desafiam a compreensão", disse Gerard M. Karam, procurador da Pensilvânia. "O roubo e o tráfico de restos humanos vão contra a própria essência do que nos faz humanos."

Christopher R. Opiel, advogado de Taylor, recusou-se a comentar as acusações. Lampi também não quis comentar. George B. Morledge IV, advogado de Scott, disse que sua cliente se declarou inocente e está presa, aguardando uma avaliação psiquiátrica.

"Antes de tirarmos conclusões precipitadas sobre o que aconteceu com Scott", disse Morledge, "precisamos deixar isso correr na Justiça." Não está claro se os Lodge, Maclean e Pauley tinham advogados.

Os Lodge deram depoimentos iniciais no tribunal na quarta em New Hampshire e foram libertados sob fiança pessoal, informou a agência de notícias Associated Press. Eles se recusaram a fazer comentários na saída do local.

Em sua declaração à comunidade de Harvard, os dois reitores disseram que os investigadores acreditam que Cedric Lodge agiu sem o conhecimento ou a cooperação de qualquer outra pessoa da universidade. Lodge, que havia sido contratado em 1995, foi demitido em 6 de maio, informou a faculdade de medicina.

Como funcionário do Programa de Doações Anatômicas, ele não gerenciava outras pessoas, mas era responsável por preparar e receber os corpos de doadores, coordenar o embalsamamento, supervisionar o armazenamento e a movimentação dos cadáveres e preparar os restos mortais para o crematório.

Os reitores afirmaram que a faculdade está trabalhando para identificar quais cadáveres podem ter sido roubados. "Estamos chocados ao saber que algo tão perturbador pôde acontecer em nosso campus –uma comunidade dedicada a curar e servir ao próximo", escreveram. "Os incidentes relatados são uma traição à faculdade e, mais importante, a cada um dos indivíduos que altruisticamente decidiram doar seus corpos por meio do Programa de Doações Anatômicas para possibilitar a educação e a pesquisa em medicina."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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