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Polícia prende 150 pessoas em 2ª noite de protestos na França após morte de jovem

Policial que matou adolescente de 17 anos em Nanterre é preso preventivamente; novos atos foram convocados nesta quinta

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São Paulo

A segunda noite de protestos violentos que explodiram na França após um policial matar um adolescente de origem argelina teve o saldo de 150 pessoas presas em decorrência de atos de vandalismo, incluindo escolas incendiadas. A crise fez o presidente Emmanuel Macron convocar uma reunião de emergência.

"As últimas horas foram marcadas por cenas de violência contra delegacias, mas também contra escolas, prefeituras e, portanto, contra as instituições da República. [Os atos] são injustificáveis", disse Macron ao reiterar que "nada justifica a morte de um homem", embora "a população tenha de ter calma".

Bombeiros apagam chamas em veículos após protestos pela morte de Nahel, em Nanterre
Bombeiros apagam chamas em veículos após protestos pela morte de Nahel, em Nanterre - Stephanie Lecocq - 28.jun.23/Reuters

Os protestos eclodiram após um agente matar a tiros, na terça-feira (27), o adolescente Nahel, 17, que teria desobedecido ordens durante uma abordagem de trânsito em Nanterre, na região metropolitana de Paris. O caso, filmado por uma testemunha, viralizou nas redes sociais e provocou revolta.

No vídeo, dois policiais de capacete se aproximam da janela do motorista de um carro de luxo. Um deles aparentemente conversa com o adolescente, enquanto o outro aponta a arma. Após alguns segundos, Nahel acelera, e o policial reage atirando. Poucos metros à frente, sem direção, o Mercedes AMG sobe numa calçada e bate num poste. O jovem de origem argelina morreu uma hora depois.

Em protesto, milhares de pessoas voltaram às ruas da França nas noite de quarta (28) e quinta (29), dando sequência às manifestações. Somente em Estrasburgo, no nordeste do país, 66 carros foram incendiados, de acordo com autoridades. Os manifestantes ainda queimaram escolas e delegacias em Tourcoing, no norte, e em Evreux, 90 quilômetros a oeste da capital francesa.

Confrontos entre policiais e manifestantes foram registrados na cidade de Lille, no norte, e em Toulouse, no sudoeste. Ao menos 170 agentes de segurança ficaram feridos, segundo autoridades. Também houve agitação em Amiens, Dijon e no departamento administrativo de Essonne. "Estamos cansados", "justiça por Nahel" e "isto é por Nahel, nós somos Nahel" foram as frases entoadas pelos manifestantes.

Ao anunciar a prisão de 150 pessoas, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, condenou o que chamou de "atos de violência insuportáveis contra símbolos da República". O membro do governo Macron ainda criticou as pessoas que, segundo ele, estimulam protestos violentos.

Já o policial que disparou contra o adolescente agora é acusado de homicídio. Segundo o Ministério Público, não havia "condições legais" para o uso da arma —promotores determinaram a prisão preventiva do agente de 38 anos. A corporação, por sua vez, alega que os policiais usaram armas durante a abordagem porque o motorista fugiu após cometer uma série de infrações de trânsito.

Grupos que atuam na defesa dos direitos humanos apontam racismo sistêmico na polícia na França, acusação que Macron já negou em outras ocasiões. O presidente se vê numa situação delicada, porque críticas que partiram de integrantes do governo aos agentes geraram desconforto entre os sindicatos de policiais. O ministro Darmanin, por exemplo, fez a ressalva de que os dois policiais que atuaram na abordagem são membros experientes da polícia de trânsito e não tinham registro de má conduta, mas afirmou, com base nas imagens, que "se a investigação confirmar os vídeos, [a atitude] nunca se justifica".

Já a primeira-ministra francesa, Élisabeth Bourne, na Assembleia Nacional, disse que a ação "parece claramente não cumprir as regras" das forças policiais, declaração seguida por um minuto de silêncio na Casa. Agora, o Executivo tenta combinar firmeza diante dos distúrbios com apaziguamento da crise.

Os atos também mobilizam o Parlamento. Éric Ciotti, líder do partido Republicanos, de direita, pediu o "acionamento imediato" do estado de emergência no local dos incidentes. Novos protestos, convocados por parentes de Nahel, também ocorreram nesta quinta.

"Não tenho nada contra a polícia. Tenho algo contra uma pessoa, ele que matou meu filho. Ele não precisava matar meu filho", disse Mounia, a mãe de Nahel, à TV France 5 após uma marcha que reuniu milhares em Nanterre.

Numa tentativa de conter os atos de violência, um contingente de 40 mil policiais foi mobilizado na França para a noite desta quinta, segundo o ministro Darmanin, e os serviços de ônibus e bondes deixaram de funcionar às 21h na região de Île-de-France, onde fica Paris. O número de agentes é quase quatro vezes o registrado na véspera, quando 9.000 policiais atuaram nas manifestações pelo país.

Em Clamart, no sul do país, autoridades determinaram toque de recolher das 21h às 6h no horário local. A medida deve permanecer em vigor pelo menos até a próxima segunda (3).

Diversas autoridades se manifestaram após o episódio. Em entrevista coletiva na quarta, Patrick Jarry, prefeito de Nanterre, disse que a comuna viveu "um dos piores dias de sua história". "Vamos parar esta espiral destrutiva. Queremos justiça para Nahel e conseguiremos por meio de mobilização pacífica."

Com Reuters e AFP

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