Descrição de chapéu Coreia do Norte

Coreia do Norte detém americano que cruzou fronteira durante passeio

Cidadão integra Forças Armadas dos EUA, diz jornal; Comando da ONU negocia sua libertação

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Seul | Reuters

Um cidadão americano está sob custódia da Coreia do Norte desde que entrou, sem autorização, no território sob o comando do ditador Kim Jong-un durante uma excursão turística. A informação foi divulgada nesta terça-feira (18) pelo Comando das Nações Unidas, força armada multinacional liderada pelos Estados Unidos que busca defender a Coreia do Sul de potenciais ofensivas do regime ao norte.

Por meio das redes sociais, o órgão afirmou que o americano participava de um passeio pela zona desmilitarizada que separa as Coreias quando cruzou a divisa. A área, conhecida pela sigla DMZ em inglês, é o único ponto de contato direto entre a ditadura comunista ao norte e a democracia capitalista liderada por Yoon Suk-yeol ao sul e conta com a presença de forças de segurança de ambos os lados.

Soldados do Comando da ONU, à direita, e da Coreia do Sul, à esquerda, ficam de guarda diante de área que demarca a fronteira com a Coreia do Norte - Anthony Wallace - 4.out.22/AFP

"Acreditamos que ele está sob custódia da RPDC [sigla do nome oficial da Coreia do Norte] e estamos trabalhando com os colegas da KPA [o Exército da ditadura] para solucionar o caso", escreveu o Comando.

Horas após o episódio, o Exército americano identificou o soldado como Travis King, nome que já havia sido ventilado anteriormente pela mídia sul-coreana. Ele ingressou no Exército em janeiro de 2021 e trabalhava como "cavalry scout" (batedor de cavalaria), membro da unidade militar responsável pelo reconhecimento ou exploração de terreno, normalmente montado a cavalo.

Ele, porém, foi afastado após enfrentar uma ação disciplinar por agressão, disse um oficial à rede americana CNN, sem detalhar. Segundo o canal CBS News, o soldado, antes do incidente, era escoltado de volta aos EUA justamente por essas questões disciplinares quando conseguiu retornar à excursão na zona desmilitarizada.

Uma pessoa que teria feito parte da mesma excursão e testemunhado o momento em que o militar atravessou para o lado norte-coreano, disse, também à CBS News, que o grupo havia visitado um dos prédios do local quando "aquele homem soltou uma gargalhada e passou a correr entre os edifícios".

Ainda de acordo com a testemunha, o grupo pensou, a princípio, tratar-se de uma piada de mau gosto, mas, ao perceber que o soldado não retornava, teria ficado claro que aquilo não era uma brincadeira.

Inicialmente, a Casa Branca, o Departamento de Estado e o Pentágono não responderam a pedidos de comentário. Depois, em entrevista coletiva, o secretário de Defesa, Llyod Austin, manifestou preocupação e disse que estava trabalhando para notificar a família do soldado. "Ainda há muito para entender", disse ele. "Acreditamos que ele esteja preso, por isso monitoramos e investigamos a situação de perto."

Na sequência, questionado sobre o caso, o presidente Joe Biden confirmou que está preocupado com o militar, e o Departamento de Estado afirmou que não entrou em contato com autoridades do país asiático porque esse movimento já foi feito pelo Pentágono. A Casa Branca disse trabalhar com a Coreia do Sul e com a Suécia em busca de soluções para o tema.

O Comando da ONU permite visitas de turistas à parte sul-coreana da DMZ —os grupos são escoltados por soldados desarmados. A área, com cerca de 250 km, cercas de arame farpado e campos minados, foi estabelecida após o armistício que na prática deu fim à Guerra da Coreia, em 1953. Poucos norte-coreanos que desejam escapar da ditadura a cruzam diretamente, preferindo passar pela China.

Esta não é a primeira vez que um americano é detido por Pyongyang. Em 2018, Bruce Byron Lowrance passou um mês no país, vindo da China. Antes, em 2016, o estudante Otto F. Warmbier foi condenado a 15 anos de prisão, acusado de tentar roubar um pôster publicitário de seu quarto de hotel.

Ele cumpriu 15 meses da pena antes de entrar em coma e ser enviado para o seu estado natal, Ohio, em 2017. Warmbier morreu no hospital uma semana depois, e, após o episódio, o governo dos EUA proibiu seus cidadãos de viajarem para a Coreia do Norte, "devido ao grave e contínuo risco de prisão".

O imbróglio atual ocorre num momento de agravamento das tensões na península coreana. Nesta terça-feira, um submarino americano de capacidade nuclear atracou em Busan, no Sul.

Trata-se da primeira vez que uma visita do tipo, descrita pelo coordenador da Casa Branca para o Indo-Pacífico, Kurt Campbell, como uma expressão do comprometimento de Washington com a defesa de Seul, ocorre desde os anos 1980.

A Coreia do Norte, que tem aumentado a frequência de seus testes de mísseis intercontinentais, condenou a passagem do submarino e fez um alerta contra os planos de seus rivais de aumentar as demonstrações de força militar. Na semana passada, Kim já havia aproveitado a presença dos líderes de Coreia do Sul e Japão na cúpula da Otan, a aliança militar liderada pelos EUA, para fazer o mais longo teste de um modelo de míssil intercontinental com capacidade para atingir todo o território americano com ogivas nucleares.

Horas após o incidente com o americano, Pyongyang voltou a lançar mísseis balísticos que caíram na zona econômica exclusiva do Japão, de acordo com Tóquio. Como é de praxe, o Comando Indo-Pacífico dos EUA disse, em nota, que os lançamentos não representam ameaça imediata ao país e a seus aliados da região, mas que "demonstram o impacto desestabilizador do programa de armas ilícitas da Coreia do Norte".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.