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Reitor de Stanford renuncia após relatório apontar falhas em suas pesquisas

Comitê científico disse que artigos de Marc Tessier-Lavigne estavam abaixo dos padrões habituais de rigor científico

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Lisboa

Marc Tessier-Lavigne, reitor da Universidade de Stanford, nos EUA, renunciou nesta quarta (19) ao cargo. A decisão foi comunicada após a divulgação de um relatório independente do Comitê Especial do Conselho de Curadores da instituição apontar falhas significativas em estudos supervisionados por ele.

A análise avaliou 12 artigos nos quais Tessier-Lavigne trabalhou como autor ou coautor. Com 89 páginas, o estudo se baseou em mais de 50 entrevistas e fez uma revisão de 50 mil documentos ao todo.

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Marc Tessier-Lavigne, reitor da Universidade de Stanford, em Palo Alto, na Califórnia - Carolyn Fong/New York Times

O comitê não encontrou evidências de que ele tenha se envolvido em fraude ou falsificação de dados, mas considerou que Tessier-Lavigne tomou medidas insuficientes para corrigir erros. Seu nome foi listado como autor de cinco trabalhos com falhas.

Em novembro passado, o jornal Stanford Daily, da universidade, publicou texto com alegações de fraude envolvendo um artigo sobre Alzheimer formulado no período em que o reitor trabalhava na empresa de biotecnologia Genentech. Depois, outra publicação alegou que ele tentou "ocultar a descoberta".

Já o relatório atual apontou que o texto "ficou abaixo dos padrões habituais de rigor científico". O painel questionou o fato de Tessier-Lavigne não ter corrigido o artigo após a revelação de que a tese principal estava incorreta. Como resultado da revisão, porém, o reitor pretende retirar de circulação um artigo de 1999 publicado na revista Cell, além de dois outros publicados na Science em 2001. Ele também indicou que dois estudos veiculados na Nature passariam por uma "correção abrangente".

Tessier-Lavigne, 63, deixará a função no fim de agosto, mas permanecerá na universidade como professor de biologia. Stanford nomeou Richard Saller reitor interino a partir de setembro. Neurocientista, ele publicou mais de 200 artigos, concentrando-se na causa e no tratamento de doenças cerebrais. Além de Stanford, ele trabalhou em universidades como Rockefeller, da Califórnia e de São Francisco.

Stanford é conhecida pela liderança em pesquisas científicas, e as acusações tiveram impactos negativos na integridade da instituição. Os EUA vivem um período de questionamento de práticas nas universidades.

Harvard, por exemplo, vê-se em meio a duas polêmicas. Dezenas de acadêmicos tiveram de revisar artigos que escreveram com Francesca Gino, professora de ciências comportamentais, após a escola de negócios da universidade colocar em xeque a integridade de ao menos três pesquisas conduzidas por ela.

Especialista em desonestidade, Gino passou a ser alvo de suspeitas após um post do blog Data Colada no mês passado afirmar que vários dos dados citados por ela em artigos tinham sido manipulados.

A universidade também foi criticada devido às chamadas "admissões por legado", que facilitam o ingresso de alunos cujos pais ou parentes tenham estudado ou doado dinheiro à instituição. Os beneficiados são na maioria americanos brancos, uma vez que a maior parte das universidades de elite dos EUA só começou a admitir estudantes de grupos minoritários há uma geração.

Erramos: o texto foi alterado

A reportagem com alegações de fraude envolvendo o reitor da Universidade de Stanford, Marc Tessier-Lavigne, foi publicada pelo jornal Stanford Daily em novembro de 2022, não em fevereiro, como afirmava versão anterior deste texto.

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