Vídeo mostra rotina de médicos da Ucrânia em hospitais no front; veja

Profissionais do tipo já trataram cerca de 13 mil soldados em centro médico desde sua inauguração, em outubro

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Donetsk (Ucrânia) | The New York Times

Quando a Guerra da Ucrânia eclodiu, Ihor Deineka trocou o jaleco branco por um uniforme militar e entrou no ritmo duro da linha de frente. Anestesiologista de Rivne, ele é um dos milhares de médicos civis e paramédicos que arriscam a vida para tratar um fluxo de baixas militares causadas pelo conflito russo.

"Eu levava uma vida normal até que precisei defender a Ucrânia da invasão", disse Deineka, que não vê sua família há meses. "Se isso vai ser bom para o futuro dos meus filhos, como eu poderia fazer outra coisa?"

Detalhe de vídeo mostra soldado ucraniano ferido sendo tratado em hospital militar
Detalhe de vídeo mostra soldado ucraniano ferido sendo tratado em hospital militar - Yousur Al-Hlou/The New York Times

Deineka e dezenas de médicos de combate e equipes de apoio vivem num precário hospital de campanha a cerca de 20 quilômetros da linha de frente, trabalhando 24 horas por dia em condições perigosas.

Médicos de combate trataram cerca de 13 mil soldados no hospital desde sua inauguração, em outubro.

Embora os militares ucranianos não tenham divulgado quantos de seus soldados foram mortos ou feridos desde o início da invasão, o fluxo de pacientes reflete o custo de 16 meses de guerra para as tropas ucranianas. Seus ferimentos, de membros mutilados a crânios perfurados, são a terrível consequência da variedade de armas pesadas usadas no front. "Trabalhamos em duas linhas de frente", diz Oleksi Nazarishin, cirurgião e diretor médico. "A guerra contra o inimigo e a guerra pela vida do paciente."

Nas mesmas florestas onde ocorrem os combates, socorristas fazem triagens em meio a explosões de artilharia, transportando soldados ensanguentados para o hospital de campanha. Deineka e seus colegas os carregam para salas de cirurgia lotadas, em que médicos selam e envolvem seus ferimentos abertos. Nos piores casos, um único soldado é tratado por meia dúzia de médicos ao mesmo tempo.

Falando no leito do hospital, o soldado ucraniano Anatoli, gravemente ferido num bombardeio, descreveu a devastação que testemunhou. "Pensei que você só pudesse ver coisas assim em filmes sobre a Segunda Guerra Mundial", disse ele. Por protocolo militar, ele é identificado apenas pelo primeiro nome.

A gravidade e a frequência das baixas são o resultado de uma prolongada batalha pelo controle da região do Donbass, sem previsão de terminar. Para os médicos, é um ciclo cansativo de trauma, morte e exaustão. Às vezes eles são obrigados a enfrentar seus medos e frustrações na sala de cirurgia.

Em uma manhã, um soldado russo capturado chegou ao hospital com ferimentos nos ombros. Embora sua presença tenha provocado uma reação emocional dos médicos, eles mantiveram o juramento profissional de tratá-lo, na mesma cama que alguns dos ucranianos feridos contra os quais ele lutou.

A notícia de sua presença reverberou no corredor, onde alguns médicos pararam para observar o inimigo numa cadeira de rodas. Outros gritaram palavrões contra ele. O prisioneiro foi rapidamente levado pelas forças especiais ucranianas. "Quando vejo esse prisioneiro de guerra, imagino-o segurando um rifle de assalto e atirando em nossos soldados", disse a doutora Iulia Kasian, cirurgiã voluntária no hospital de campanha. "Eu simplesmente não tenho respeito ou compaixão por ele em minha alma."

Mas não havia tempo para se demorar em um paciente inimigo. Logo chegaram mais soldados da batalha, com novos ferimentos para tratar. Um dia, talvez, haverá tempo para refletir sobre o preço de tudo isso.

"A cada dia fica mais difícil psicologicamente", disse Deineka. "Porque a fadiga vai nos dominando. Estamos enfrentando essa fadiga agora e espero que tenhamos força suficiente para ir até o fim."

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