Coreia do Norte lança mísseis e simula ataque nuclear contra o Sul

Manobra é protesto contra os exercícios militares de Seul com Washington e Tóquio

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São Paulo

Dando sequência à escalada de tensões entre as duas Coreias, a ditadura de Kim Jong-un lançou dois mísseis balísticos em meio à simulação de um ataque nuclear contra os sul-coreanos. Foi um protesto contra a série de exercícios militares liderados por Washington na península cuja divisão entre Norte e Sul completou 70 anos no mês passado.

Segundo a agência estatal KCNA, o próprio Kim esteve no centro de comando em Pyongyang na quarta (30). Os dois mísseis foram lançados a nordeste da capital, e percorreram 350 km antes de cair no mar, perto da zona econômica exclusiva do Japão.

Imagens divulgadas pela Coreia do Norte mostram lançamentos de mísseis em simulação de ataque nuclear contra o Sul
Imagens divulgadas pela Coreia do Norte mostram lançamentos de mísseis em simulação de ataque nuclear contra o Sul - KCNA/Reuters

Além disso, foram treinados bombardeios com armas nucleares de instalações militares e bases aéreas no Sul. A Coreia do Norte tem, segundo a referencial Federação dos Cientistas Americanos, cerca de 30 ogivas atômicas operacionais e uma vasto arsenal de mísseis para empregá-las.

Os lançamentos vieram poucas horas depois de dois bombardeios estratégicos americanos B-1B participarem de ataques simulados a alvos em terra, apoiados por caças da Coreia do Sul e do Japão. Foi o segundo grande exercício entre os três países nos últimos dias, após navios das Marinhas aliadas manobrarem na costa da ilha de Jeju, no sul da península coreana.

E essas ações nem fazem parte do exercício anual Escudo da Liberdade de Ulchi, que reúne 58 mil soldados americanos e sul-coreanos em simulações de todo tipo de ação, de guerra cibernética a desembarque anfíbio. Eles começaram no dia 21 e vão acabar nesta quinta (31).

Pyongyang tem reiterado suas críticas à agressiva militarização promovida por Seul e pelos EUA. Os dois países firmaram um pacto de compartilhamento de estratégias nucleares para o evento de uma guerra com o Norte, jogando para o menor nível da história recente as relações entre o governo comunista apoiado pela China e pela Rússia e o sul capitalista.

Desde então, até um submarino americano armado com ogivas nucleares voltou a portos sul-coreanos, o que não ocorria desde 1981.

A assertividade renovada veio como resposta, por sua vez, à volta de uma campanha intensiva de testes de mísseis com capacidade de atingir até o território norte-americano por parte do governo de Kim. Aos aliados da guerra de 1953 se juntou o Japão, adversário histórico da Coreia do Sul, que abandonou sua política pacifista devido ao que percebe como ameaça da China na região.

No dia 18 passado, uma cúpula inédita uniu os líderes dos EUA, Japão e Coreia do Sul, que amplificaram sua cooperação militar. Nesse contexto, o alvo maior é a China, mas o anteparo local e mais perigoso na visão desses aliados é a Coreia do Norte, de resto vista como um "cachorro louco" a ser usado pontualmente por chineses e russos na Guerra Fria 2.0 ora em curso.

Isso ficou claro com a nova declaração da Casa Branca acusando Pyongyang de querer armar a Rússia, presumivelmente com munição de artilharia e drones, para seu esforço de guerra na Ucrânia.

O porta-voz de Segurança Nacional, John Kirby, disse nesta quarta que os EUA estão preocupados com a hipótese, e que ela violaria os embargos do Conselho de Segurança da ONU, integrado pela Rússia, contra a Coreia do Norte.

O ministro da Defesa russo, Serguei Choigu, foi o convidado de honra de Kim na celebração comunista do armistício que suspendeu a guerra iniciada em 1950, há 70 anos. Desde então, o ditador trocou carta com promessa de maior cooperação militar e econômica com o presidente Valdimir Putin, e boatos sobre o fornecimento de munição se tornaram frequentes.

No passado, a antiga União Soviética a Rússia forneceram tecnologia militar para Pyongyang, assim como os chineses. Analistas militares já apontaram que o grande salto no desenvolvimento de mísseis intercontinentais por parte da ditadura, a partir de 2017, veio com a adoção de motores iguais ou muito semelhantes aos usados em alguns foguetes russos.

"Nós pedimos à Coreia do Norte que cesse suas negociações e siga o comprometimento público que Pyongyang assumiu de não fornecer ou vender armas à Rússia", afirmou Kirby, dificilmente para ser ouvido.

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