Descrição de chapéu The New York Times

Historiador que coleciona autógrafos de 8 presidentes dos EUA perde relíquia

Após décadas em busca de assinaturas, Carl Anthony não sabe como cartão estimado em milhares de dólares sumiu

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Michael Levenson
The New York Times

Na última vez em que Carl Sferrazza Anthony viu o que descreve como o bem de maior valor que possui, estava sentado em um café de Washington, esperando sua sopa de udon chegar.

Historiador de famílias presidenciais, Anthony acabara de vir da Associação Histórica da Casa Branca, onde recebera de um assessor da primeira-dama, Jill Biden, um cartão gravado que ela havia assinado no ano passado e guardado na Casa Branca com a promessa de que faria seu marido assiná-lo também.

Anthony passou três décadas juntando as assinaturas de presidentes e primeiras-damas no cartão, que traz gravado a imagem do Pórtico Norte da Casa Branca. Com o assinatura do presidente Joe Biden, o cartão agora trazia os autógrafos de oito presidentes e oito primeiras-damas –todos desde os Ford até os Biden, com a exceção dos Trump, que Anthony ainda não havia contatado.

Cartão do historiador Carl Sferrazza Anthony contendo assinaturas de presidentes e primeiras-damas dos Estados Unidos
Cartão do historiador Carl Sferrazza Anthony contendo assinaturas de presidentes e primeiras-damas dos Estados Unidos - Carl Sferrazza Anthony via The New York Times

Sentado em uma mesa de canto no café Teaism, em frente à Lafayette Square, Anthony abriu a pasta bege que continha o cartão e fez uma foto do cartão dentro de uma capa de plástico. Com o celular, mandou a foto a seus irmãos e irmãs. "Guarde em um lugar seguro", sua irmã lhe respondeu por mensagem de texto.

Depois do almoço, Anthony pegou a pasta bege na mão e voltou a pé a seu hotel. Lá chegando, foi admirar o cartão e descobriu que havia desaparecido. Restavam apenas a capa de plástico e a pasta.

"Quase pensei ‘será que eu preguei uma peça em mim mesmo? Ou foi o destino quem pregou?’", contou Anthony em entrevista. "Como é possível que isso tenha acontecido? Minha cabeça explodiu."

Anthony disse que nunca havia mandado avaliar a coleção de autógrafos e nunca pensara em vendê-la, já que seu plano era continuar a agregar assinaturas. Para ele, o valor do cartão era sobretudo sentimental.

Ele disse que as assinaturas eram símbolos de sua persistência e dos relacionamentos pessoais que criou com os presidentes e suas esposas. "Estou tentando encarar o que aconteceu com uma atitude filosófica, considerando a gravidade dos problemas de muitas pessoas, mas a verdade é que está sendo arrasador", disse "Deve haver uma palavra para descrever essas coisas peculiares que acontecem conosco em decorrência dos menores e mais insignificantes detalhes mecânicos da vida."

Brian Kathenes, avaliador especializado em autógrafos, manuscritos, livros raros e documentos históricos, disse que uma foto colorida assinada por quatro presidentes –Gerald Ford, Jimmy Carter, George H.W. Bush e Bill Clinton—, além de seis primeiras-damas, foi vendido em 2020 por US$ 9.375 (R$ 45,7 mil).

O cartão de Anthony "provavelmente valia mais", disse Kathenes, porque alguns dos presidentes já morreram. "É um pedacinho fantástico de história americana que pode ter desaparecido para sempre."

Anthony contou que comprou o cartão em meados da década de 1990, contendo apenas a assinatura do presidente Ronald Reagan. Então conseguiu que fosse assinado por Nancy Reagan, para quem ele havia trabalhado como redator de discursos. Os Clinton o assinaram na Casa Branca em 2001. Os Ford o assinaram nesse mesmo ano, quando Anthony os visitou em Rancho Mirage, na Califórnia.

Ele enviou o cartão pelo correio para George H. W. Bush e Barbara Bush, que o enviaram de volta com suas assinaturas e uma notinha irreverente de Barbara Bush repreendendo-o por ter colhido os autógrafos fora de ordem. George W. Bush e Laura Bush o assinaram durante uma entrevista que deram a Anthony no Salão Oval em 2004.

E, em 2009, um assessor do gabinete de imprensa de Michelle Obama pegou o cartão com Anthony na entrada da Casa Branca e o levou para o andar de cima, onde os Obama estavam jantando, e depois o trouxe de volta a Anthony com as assinaturas deles.

Depois de buscar o cartão com a assinatura de Biden na Associação Histórica da Casa Branca, em 24 de julho, Anthony disse que atravessou a rua e entrou no Teaism. Estava segurando a pasta cuidadosamente, para não amassar o cartão, ele contou.

Ele vive em Los Angeles e estava em Washington para ler e autografar exemplares de sua biografia mais recente, a de Jackie Kennedy. Depois do almoço ele andou até a igreja St. John’s. Estava fazendo calor, então ele entrou na igreja para descansar um pouco, sentando-se em um banco onde o presidente Abraham Lincoln se sentara, ao fundo da igreja.

Em seguida ele andou até a McPherson Square, onde parou para fotografar a estátua equestre do general James B. McPherson com pássaros pousados sobre sua cabeça. Anthony diz que é possível que o cartão com as assinaturas tenha caído ali. Ele continuou a caminhar e chegou ao Thomas Circle, onde parou para fazer outra foto, desta vez equilibrando um saquinho de cookies salgados de aveia da Teaism e a pasta bege em uma mão enquanto segurava a câmera com a outra. Anthony acha que o mais provável é que tenha sido ali que ele deixou o cartão cair.

Quando chegou de volta a seu quarto de hotel, ele foi admirar a gravura outra vez e viu que havia desaparecido. Ele retornou imediatamente, seguindo a mesma trajetória de volta. Falou com funcionários do Teaism e com um homem em situação de rua no Thomas Circle. Funcionários da igreja St. Johns examinaram imagens de vídeo de segurança. Ninguém tinha visto o cartão.

Anthony postou um vídeo no TikTok sobre sua coleção perdida de autógrafos, na esperança de que isso pudesse ajudar. Ele disse que também ofereceu uma recompensa para quem o devolva a ele em segurança, mas não revelou qual é o valor. Ele ainda espera que o cartão possa ser encontrado, mas está se esforçando para encarar sua perda com tranquilidade.

Anthony disse que escreveu uma listinha para lembrar a si mesmo que ninguém morreu ou foi ferido.

"Acho que fico mais tranquilo por ter perdido o cartão eu mesmo do que eu teria ficado se ele tivesse sido roubado. E procuro lembrar que as pessoas perdem toda espécie de coisas valiosas, incluindo entes queridos em incêndios e inundações. Acho que em última análise, em certo nível, o cartão não passava de uma folha de papel contendo autógrafos de pessoas que não tinham e não têm mais valor intrínseco que qualquer um de nós."

Tradução de Clara Allain

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