Descrição de chapéu BBC News Brasil

O que são os drones marítimos, que trazem novo risco à Rússia na Guerra da Ucrânia

Guiados à distância, drones navais ganharam protagonismo no Leste Europeu

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Joshua Cheetham
BBC News Brasil

A Rússia evitou dois ataques de drones navais ucranianos contra seus navios de guerra, segundo Moscou. A marinha da Ucrânia negou qualquer envolvimento.

Enquanto os drones aéreos têm sido usados com grande eficácia pela Ucrânia e pela Rússia desde o início da guerra, os drones marítimos são uma nova forma de tecnologia que vem ganhando força no Mar Negro.

Navio está navegando no mar
Pesquisa da BBC indica que ao menos 10 ataques foram feitos com drones marítimos - Reuters

O que são os drones marítimos?

Drones marítimos, que também podem ser chamados de drones navais, são pequenas embarcações não tripuladas operadas na superfície da água ou submersos.

Eles são fabricados em todas as formas e tamanhos e são usados para uma variedade de tarefas, incluindo monitoramento ambiental.

Esses objetos também podem ser usados para fins militares —como limpar minas, realizar vigilância ou detonar alvos próximos, como navios inimigos.

Muitos drones navais foram fotografados desde o início da guerra na Ucrânia, incluindo um que supostamente apareceu na costa da Crimeia.

Além dos drones que operam na superfície da água, a Ucrânia revelou recentemente um protótipo de drone submarino não tripulado chamado Toloka TLK-150.

Um dos tipos de drone naval utilizado pela Ucrânia; drone é preto
Um dos tipos de drone naval utilizado pela Ucrânia - BBC

Como funcionam os drones navais e quanto custam?

Os recursos mais comuns em drones navais são, entre outros, explosivos embutidos e câmeras que transmitem imagens para a pessoa que os controla.

Alvos de longo alcance são normalmente pré-programados nos drones quando lançados.

Eles são então guiados remotamente por um humano conforme ele se aproxima do alvo, explica Sidharth Kaushal, do centro de pesquisa em defesa Rusi.

Alguns drones ucranianos foram desenvolvidos com a ajuda de campanhas de crowdfunding (financiamento coletivo). Eles geralmente são feitos com componentes "comerciais", vendidos normalmente para uso comercial —em vez de militar—, segundo Kaushal.

A mídia e blogueiros russos dizem que a Rússia também possui drones navais. Alguns deles apontam que esses equipamentos foram usados em um ataque a uma ponte na cidade portuária de Odessa. No entanto, a BBC não encontrou nenhuma evidência que confirme essa informação.

Não se sabe quantos drones cada lado possui. Também não está claro quanto custam, mas um drone naval divulgado pelo governo ucraniano tem um preço de US$ 250 mil (R$ 1,2 milhão).

Isso seria mais barato do que muitos tipos de mísseis de longo alcance. Drones navais também podem ser usados rapidamente e sem uma tripulação totalmente treinada.

"Mesmo se o outro lado interceptar muitos drones de baixo custo, tudo o que você precisa é que um deles passe para causar bastante dano em um navio muito mais caro. O modelo se paga", diz Kaushal.

Imagem mostra um navio parado no mar
Drones ucranianos atacaram o navio russo Ivan Khurs em maio - BBC

Quando os drones foram usados contra a Rússia?

Um levantamento da BBC indica que a Ucrânia realizou pelo menos 11 ataques com drones marítimos —os alvos eram navios militares, a base naval russa em Sevastopol e o porto de Novorossiysk.

Fontes de defesa ucranianas disseram à emissora americana CNN que drones marítimos também foram usados em um ataque à ponte Kerch em julho.

Alguns ataques ocorreram longe da costa ucraniana.

Em maio, surgiram imagens mostrando drones se aproximando de um navio russo de coleta de informações chamado Ivan Khurs, mas não está claro se o navio foi danificado.

A Rússia diz que o incidente ocorreu 140 km ao norte do Estreito de Bósforo, na Turquia —cerca de 200 km da costa ucraniana, uma indicação de que esses drones podem potencialmente viajar longas distâncias.

Que impacto os drones navais estão tendo na guerra?

O uso de drones navais pela Ucrânia, a um custo relativamente baixo, marca uma nova era para a guerra no mar. A tática representa um risco crescente para a Rússia, segundo alguns analistas.

Em comparação com as embarcações militares normais, os drones são mais difíceis de detectar no radar porque são mais baixos e fazem muito menos barulho.

O ataque à base naval da Rússia em Sevastopol, em outubro de 2022, foi o primeiro na história a usar drones aéreos e navais.

Pelo menos três navios russos foram danificados no ataque, de acordo com a GeoConfirmed, uma organização que analisa satélites e outras imagens.

Desde então, a Rússia reforçou significativamente as defesas em torno da base, de acordo com imagens de satélite recentes vistas pela BBC Verify.

Embora a Ucrânia não tenha uma marinha substancial, seus drones navais de superfície impediram a Rússia de assumir o controle total do Mar Negro, diz Katarzyna Zysk, professora do Instituto Norueguês de Estudos de Defesa.

Apesar disso, os drones têm algumas desvantagens.

Os sensores podem ter um campo de visão estreito, o que dificulta o rastreamento de navios camuflados ou de alvos em movimento dos quais não há dados de localização precisos.

Os drones com câmeras integradas também precisam de comunicação constante com seu controlador para direcioná-los a um alvo, portanto, qualquer problema com a transmissão de vídeo prejudicará sua missão.

"Ainda não é uma revolução", diz Zysk. "Ainda estamos em fase experimental".

No entanto, a estratégia da Ucrânia chamou a atenção internacional e está "pressionando outras marinhas a desenvolver esse tipo de sistema e sua prática operacional", acrescenta ela.

Ataque a navio russo

Um vídeo enviado à BBC por uma fonte do serviço de segurança da Ucrânia parece mostrar um drone se aproximando de um navio que acredita-se ser o Olenegorsky Gornyak.

A gravação mostra uma embarcação indo até a lateral do navio antes de ser interrompida, aparentemente com o impacto.

Um outro vídeo não verificado parece mostrar o navio tombado para um lado.

O Olenegorsky Gornyak é um navio de desembarque, projetado para lançar forças anfíbias perto da costa para desembarques, mas também para atracar e descarregar cargas rapidamente nos portos.

Qualquer dano a essa embarcação pode interferir nos esforços da Rússia para reabastecer as forças que lutam no sul da Ucrânia ocupada.

Apesar disso, é improvável que a frota russa sofra um impacto significativo.

O porto de Novorossiysk suspendeu temporariamente qualquer movimento de navios após o ataque, de acordo com o consórcio Caspian Pipeline, responsável pelo carregamento de petróleo para petroleiros no porto.

Essa não é a primeira vez que a Ucrânia tenta atingir o porto de Novorossiysk, e as razões são óbvias.

Cerca de 1,8 milhão de barris de petróleo são exportados de lá todos os dias —cerca de 2% da oferta global.

É também uma importante base naval para Moscou.

Os confrontos no mar aumentaram nas últimas semanas, depois que a Rússia abandonou um acordo das Nações Unidas que permitia que os grãos fossem exportados com segurança entre a Rússia e a Ucrânia através da água.

Os portos ucranianos foram atacados por drones russos e Kiev parece estar disposta a responder.

A Ucrânia também está mais disposta a admitir ataques envolvendo drones marítimos do que os ataques vistos no interior da Rússia.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, alertou sobre a guerra "chegando à Rússia", apesar de sugerir que uma cúpula de paz poderia acontecer "já no outono" (do hemisfério norte).

Nenhum dos lados parece muito interessado em estabelecer as condições para isso.

No início desta semana, a Rússia atacou grandes portos do Mar Negro de Odessa e Chornomorsk, onde as autoridades disseram que 60 mil toneladas de grãos foram destruídas, bem como portos no rio Danúbio.

Em outro desdobramento nesta sexta-feira (4), a Rússia também disse que derrubou 10 drones aéreos ucranianos sobre a Crimeia.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.