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Inundações na Líbia forçam deslocamento de 43 mil pessoas, diz organização

Enchentes ainda ameaçam ruínas gregas consideradas patrimônio histórico da Unesco

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Benghazi | AFP

Mais de 43 mil pessoas foram deslocadas pelas inundações devastadoras que atingiram o leste da Líbia na semana passada, segundo balanço divulgado nesta quinta-feira (21) pela OIM (Organização Internacional para as Migrações). Onze dias após a tragédia, milhares continuam desaparecidas, e 11,3 mil mortes foram confirmadas, de acordo com organizações internacionais.

O relatório da OIM ecoa pedidos de ajuda à comunidade internacional e diz que ainda faltam alimentos, água potável e apoio psicossocial às vítimas das enchentes. A situação continua crítica na cidade de Derna, onde bairros ficaram devastados após o rompimento de duas barragens e a formação de uma enxurrada que arrastou casas, veículos e pontes em direção ao mar no último dia 10.

Ruínas em Cirene danificadas por enchentes na Líbia
Ruínas em Cirene danificadas por enchentes na Líbia - UGC - 17.set.23/AFP

A crise motivou protestos de moradores locais, que acusam as autoridades de negligência. Na última segunda (18), manifestantes furiosos incendiaram a casa do prefeito de Derna, Abdulmenam al-Ghaithi, suspenso do cargo após o desastre. Um dia depois, na terça, a rede de telefonia e a internet foram cortadas na região, e jornalistas receberam a orientação de deixar a cidade, segundo a imprensa local.

As autoridades atribuíram os cortes a rupturas nos cabos de fibra óptica, mas analistas ponderam que a perda de sinal pode ter sido deliberada para abafar a convocação de novos protestos. Após dois dias de apagão, o Comitê Superior Líbio para as Emergências e Resposta Rápida afirmou nesta quinta que os serviços estavam sendo restabelecidos.

As inundações surpreenderam os moradores após a passagem da tempestade tropical Daniel. Casas e prédios inteiros foram atingidos enquanto famílias estavam dormindo. O procurador-geral líbio, Al Seddik Al Sur, que investiga a tragédia, prometeu resultados rápidos. Sem citar nomes, ele disse que os supostos culpados por corrupção e negligência foram identificados e teriam de responder à Justiça.

A ONU anunciou esta semana que suas agências, incluindo a Organização Mundial da Saúde, trabalham para prevenir a propagação de doenças e evitar uma "segunda crise devastadora na região", alertando para o risco da água contaminada em função da decomposição de cadáveres e da falta de higiene.

As equipes de emergência prosseguem com os trabalhos para encontrar os corpos de desaparecidos, principalmente no mar. As buscas, porém, são dificultadas pela fratura política na Líbia, país dividido entre governos a leste e a oeste —este, reconhecido pela comunidade global— como consequência de revoltas e conflitos que se prolongam desde 2011, após a morte do ditador Muammar Gaddafi.

Além do impacto humanitário, as autoridades lamentaram os danos registrados nas ruínas da antiga cidade grega de Cirene, patrimônio histórico da Unesco localizado próximo de Derna. "Trata-se de um sítio gigantesco e da maior colônia grega, uma cidade construída entre o final do século 7 e o início do século 6 antes de Cristo", disse o chefe da missão arqueológica francesa na Líbia, Vincent Michel, à agência AFP.

Os primeiros habitantes de Cirene procediam da antiga Tera, na atual ilha grega de Santorini, e se estabeleceram na região por causa das terras férteis e da abundância de água.

Claudia Gazzini, especialista do International Crisis Group, que visitou as ruínas nos últimos dias, disse que grande parte do local ainda está inundada, e ocorreram vários deslizamentos de terra. "Caíram alguns blocos de pedra que estão bloqueando o fluxo d'água", disse. "Se as infiltrações continuarem e a água ficar estagnada, as muralhas podem desabar e levar boa parte das ruínas", acrescentou.

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