Descrição de chapéu África chuva

Número de mortos após inundações na Líbia pode passar de 20 mil, diz prefeito

Ministro afirma que ao menos 25% da cidade de Derna, a mais atingida no país do Norte da África, 'desapareceu'

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São Paulo

O número de mortes após as inundações que devastaram o leste da Líbia pode chegar a 20 mil somente na cidade de Derna, a mais atingida, afirmou o prefeito Abdulmenam al-Ghaithi à rede de TV Al Arabiya na tarde desta quarta-feira (13).

Mais cedo, autoridades estimaram que a cifra total no país pode chegar a 10 mil. Até aqui, ao menos 5.300 mortes foram confirmadas numa das piores tragédias da história da nação do Norte da África.

Integrantes do Crescente Vermelho trabalham em região destruída por enchente na cidade de Derna
Integrantes do Crescente Vermelho trabalham em região destruída por enchente na cidade de Derna - Divulgação Crescente Vermelho líbio via Reuters

"O mar despeja constantemente dezenas de corpos", disse à agência Reuters Hichem Abu Chkiouat, ministro da Aviação Civil do governo paralelo que administra a região leste da Líbia e membro do comitê de emergência formado para responder à crise. "O número [de mortes] poderá duplicar porque milhares ainda estão desaparecidos."

Já o prefeito de Derna, no leste, afirma que o número real de vítimas em sua cidade pode variar de 18 mil a 20 mil com base no número de distritos destruídos. Até a tarde de quarta-feira, o município havia confirmado 3.840 mortes. O ministro Chkiouat disse que 25% da cidade "desapareceu" na enxurrada. Pelo menos 400 estrangeiros, principalmente sudaneses e egípcios, estão entre as vítimas.

Segundo a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho, cerca de 10 mil pessoas continuam desaparecidas no país. Já o número de pessoas desabrigadas chegou a 30 mil, de acordo com relatório divulgado nesta quarta-feira pela OIM, braço das Nações Unidas para migrações.

Em Derna, bairros ficaram devastados após o rompimento de duas barragens e a formação de uma enxurrada que arrastou casas, veículos e pontes em direção ao mar na noite de domingo (10).

A enchente surpreendeu os moradores dias após a passagem da tempestade tropical Daniel. Prédios inteiros foram destruídos com famílias que estavam dormindo em seu interior.

Hospitais da região ficaram superlotados e, na terça (12), legistas enfileiraram no chão centenas de corpos para que pudessem ser identificados. Lutfi al-Misrati, que participa das operações de resgate, disse à rede Al Jazeera que faltam bolsas para os cadáveres.

O governo do Egito disse que 87 corpos de cidadãos do país foram repatriados. A Líbia acolhe migrantes da nação vizinha que normalmente atravessam a fronteira terrestre e se estabelecem no leste, onde ficam as áreas mais atingidas pela tempestade.

O cenário em Derna ainda era de destruição nesta quarta-feira, com ruas cobertas de lama e vias bloqueadas por destroços de casas, veículos destruídos e árvores arrancadas. Um carro ainda estava preso na varanda do segundo andar de um prédio destruído.

Milhares de pessoas buscam familiares desaparecidos. Mustafa Salem, que vivia perto de um rio, diz que ninguém da sua família sobreviveu. "As pessoas estavam dormindo. Ninguém estava pronto [para a enxurrada]", afirmou. "Perdemos 30 pessoas da mesma família."

Vídeos publicados nas redes sociais mostram que uma torrente de água e de lama avançou sobre Derna em poucos minutos após o rompimento das barragens. Fotografias de satélite da cidade, tiradas antes e depois do desastre, mostram que casas desapareceram, e edifícios ficaram em ruínas.

O ministro Chkiouat voltou a pedir ajuda à comunidade internacional, enfatizando que o país não está preparado para lidar com uma crise do tipo. A tragédia expôs a fragilidade da infraestrutura e a fratura política do país, dividido entre governos a leste e a oeste —este, reconhecido pela comunidade global— como consequência de revoltas e conflitos que se prolongam desde 2011.

A cidade de Derna tem cerca de 125 mil habitantes e ficou desde o início do desastre sem acesso à internet e eletricidade, o que também tem dificultado a comunicação e o trabalho dos socorristas. Estradas bloqueadas por deslizamentos e inundações são outros obstáculos.

Os governos do Egito, do Qatar e da Turquia já enviaram ajuda à Líbia. Outros países prometeram auxílio. Nesta quarta-feira, o Ministério da Defesa da Itália disse que enviaria dois aviões com bombeiros e outras equipes especializadas em resgate. Já o governo britânico prometeu um pacote de ajuda inicial no valor de 1 milhão de libras (R$ 6,1 milhões).

Em nota, o Itamaraty disse que "o governo brasileiro lamenta a destruição provocada pelas tempestades e transmite suas mais sinceras condolências ao povo líbio".

O premiê líbio, Abdulhamid al-Dbeibah, baseado em Trípoli, descreveu as inundações como uma "catástrofe sem precedentes". O governo não controla as áreas orientais do país, mais atingidas pelas inundações, mas já havia anunciado três dias de luto, além do envio de suprimentos e médicos.

A Líbia vive instabilidade política desde o levante apoiado pela Otan, a aliança militar ocidental, em 2011, que levou no mesmo ano à morte do ditador Muammar Gaddafi, na esteira da Primavera Árabe. A ação deu início a disputas entre milícias rivais. Os tumultos reduziram a produção de petróleo, principal riqueza nacional, e criaram regiões de refúgio para grupos extremistas como o Estado Islâmico.

Segundo o Centro Meteorológico Regional Árabe, tempestades com características subtropicais no período de julho a setembro na região central do Mediterrâneo, caso da Daniel, são consideradas raras.

Milhões de pessoas têm sido impactadas por fenômenos meteorológicos extremos e por ondas de calor prolongadas em todo o mundo nos últimos meses. O IPCC (Painel Intergovernamental para a Mudança Climática) já afirmou que hoje é inequívoco que parte dessas mudanças é causada pela ação humana.

Com Reuters

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