Descrição de chapéu América Latina drogas

Narcotráfico é o quinto maior empregador do México, diz estudo

Pesquisa publicada pela revista Science estima que cartéis do país empreguem cerca de 175 mil pessoas

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São Paulo

Um estudo publicado nesta sexta-feira (22) na revista Science afirma que os cartéis de narcotráfico do México são o quinto maior empregador do país. Ao todo, estima a pesquisa, cerca de 175 mil pessoas trabalhariam para esses grupos criminosos —número semelhante ao de trabalhadores da maior rede de mercados de bairro do México, a Oxxo, que desembarcou no Brasil no final de 2020.

Ainda considerando as informações da publicação, apenas FEMSA (engarrafadora da Coca-Cola), Walmart (rede de supermercado), Manpower (empresa de recrutamento) e América Móvil (empresa de telecomunicações) teriam mais empregados do que o narcotráfico no México.

Homens armados são vistos durante confrontos após a prisão de Ovidio Guzman, filho do chefão do tráfico Joaquin "El Chapo" Guzman - 17.out.19/Reuters

O texto defende ainda que tamanha presença do crime na sociedade mexicana mostra que a forma mais eficiente de combater os cartéis é diminuir a sua capacidade de recrutamento. A conclusão contrasta com a atual abordagem do governo mexicano, focada no encarceramento.

"Nem por meio dos tribunais nem por meio das prisões. A única forma de reduzir a violência no México é cortar o recrutamento dos cartéis", afirmou um dos pesquisadores, Rafael Prieto Curiel, ao jornal espanhol El País. Trabalhando como matemático no Complexity Science Hub, em Viena, o ex-policial da Cidade do México foi um dos responsáveis pelos cálculos do estudo, assinado ainda pelo cientista político Gian Maria Campedelli e pelo especialista em segurança pública Alejandro Hope.

Para calcular quantas pessoas os cartéis empregam, os pesquisadores usaram dados de vítimas de homicídios e de encarceramento, estimando que membros dos grupos criminosos representam, respectivamente, 10% e 5% desses números. Esse modelo indica que cerca de 37% dos membros dos cartéis foram mortos ou encarcerados nos últimos dez anos —o que equivaleria a aproximadamente 200 criminosos perdidos por semana.

Ao mesmo tempo, os membros desses grupos teriam se tornado cada vez mais numerosos ao longo da última década. Em 2022, calcula a pesquisa, os cartéis mexicanos teriam 60 mil integrantes a mais do que em 2012. Só os dois maiores, Sinaloa e Jalisco Nova Geração, seriam responsáveis por 46.600 deles —número próximo à estimativa da agência de combate a drogas americana, que calculou 44.800 membros nessas duas organizações.

O artigo da Science ressalta que mesmo esses dados podem estar subestimados, já que consideram somente os membros em contato direto com a violência e ignoram os operadores financeiros, por exemplo, responsáveis por crimes como lavagem de dinheiro.

Diante da dimensão desses números, os pesquisadores fizeram uma projeção do impacto de diferentes políticas de combate ao crime. Segundo o modelo usado, a continuidade das medidas atuais possibilitaria que esses grupos crescessem 26% e que houvesse 40% mais mortes em 2027. Negociações pacíficas com os grupos, por sua vez, não teriam qualquer impacto no mesmo tempo. Por fim, duplicar o número de membros presos poderia conter o aumento de criminosos, mas não a violência.

A solução seria, portanto, atacar as estratégias de recrutamento dos grupos —se o Estado conseguisse cortar pela metade o número de pessoas aliciadas, em 2027 o tamanho dos cartéis seria 11% menor. "Matematicamente, uma estratégia preventiva teria muito mais sucesso do que uma reativa tradicional", afirmou Prieto ao El País.

O México está sob pressão dos Estados Unidos, que enfrenta uma epidemia de opioides, para conter o narcotráfico. Casos de overdose fora dos hospitais causados pelo consumo de fentanil, um opioide 50 vezes mais poderoso que a heroína, quase triplicaram no país entre 2016 e 2021, segundo um artigo publicado no New England Journal of Medicine em junho.

O que chamou a atenção nesse estudo de junho foi o aumento vertiginoso das fatalidades relacionadas à substância. A taxa era de 46 óbitos por 1 milhão em 2016, mas saltou para 178 em 2021.

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