Descrição de chapéu China

Como censura acende alerta para medidas restritivas na política reprodutiva da China

Governo chinês bloqueia reportagem que indica fracasso na estratégia de incentivar casais a terem mais filhos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Igor Patrick
Washington

Esta é a edição da newsletter China, terra do meio. Quer recebê-la no seu email todas as terças-feiras? Inscreva-se abaixo.

A censura da China bloqueou o acesso a uma reportagem do portal chinês Pengpai News que relata o fim de departamentos de obstetrícia em vários hospitais do país.

  • Segundo o veículo, um dos principais portais de notícias em Xangai, o encerramento das atividades foi observado em Zhejiang e em várias outras províncias chinesas porque houve queda na demanda de mulheres buscando esses hospitais para realizar partos.

  • Ainda de acordo com o Pengpai, comportamentos semelhantes também teriam causado fechamentos ou diminuição de pessoal nas unidades obstetrícia de Jiangsu, Guangxi, Jiangsu e Guangdong, um indicativo de que o fenômeno é nacional.

O governo chinês, que por anos adotou políticas de controle de natalidade, agora reforça campanhas para incentivar famílias mais numerosas - Aly Song - 3.jun.2021/Reuters

Antes de ser censurado, o tópico sobre o texto no Weibo (espécie de Twitter/X chinês) acumulou mais de 200 milhões de acessos em menos de 24 horas.

Muitos internautas se perguntaram se a censura poderia ser um prenúncio de medidas mais restritivas nas políticas reprodutivas chinesas, como uma proibição irrestrita ao aborto —legalizado pela legislação local desde 1953.

Por que importa: a reportagem indica fracasso na estratégia governamental para incentivar casais a terem mais filhos, medida para reverter o encolhimento da população e o consequente impacto econômico no longo prazo.

Nos últimos anos, Pequim já ofereceu aos pais bônus salarial, cortes de impostos e até ajuda de custo para educação por cada nova criança nascida. A propaganda estatal, que por anos defendeu a política de filho único, também reforçou campanhas para incentivar famílias mais numerosas.

Pare para ver

Tela da pintora sichuanesa radicada em Pequim, Cheng Ke. Considerada um dos expoentes da pintura cartunesca na China, Cheng já ganhou inúmeros prêmios internacionais
Tela de Cheng Ke, pintora sichuanesa radicada em Pequim - Reprodução

Sobre a autora: um dos expoentes da pintura cartunesca na China, Cheng já ganhou inúmeros prêmios internacionais. Leia mais sobre ela aqui (em inglês).

o que também importa

A China planeja investir mais de 100 trilhões de yuans (cerca de R$ 69,3 trilhões) em seu setor de energia de 2020 a 2060, informou a agência de notícias estatal Xinhua. O objetivo seria alcançar a meta de zero carbono até 2060, promessa feita pelo líder chinês, Xi Jinping, à Assembleia-Geral da ONU. Especialistas ouvidos pela agência Reuters calculam que, se atingida, a meta pode representar uma redução de 0,2 a 0,3 graus celsius na temperatura global até o final deste século.

A Indonésia inaugurou na segunda (2) o primeiro trem-bala do Sudeste Asiático, conectando a capital, Jacarta, à cidade de Bandung em apenas 40 minutos. Orçado em US$ 7,3 bilhões (quase R$ 37 bilhões), o projeto foi quase integralmente financiado pela China através da Iniciativa de Cinturão e Rota. O presidente indonésio, Joko Widodo, disse durante a festa de lançamento da linha que planeja receber Xi Jinping para viajar no trem-bala e reforçar os laços bilaterais.

fique de olho

Um grupo bipartidário de senadores americanos, liderado pelo republicano Mike Crapo, e pelo democrata Chuck Schummer, planeja visitar a China na próxima semana com a esperança de se encontrar com o líder chinês, Xi Jinping.

O encontro deve focar a capacidade da empresa Micron Technology Corp, que fabrica chips de memória, de operar na China, onde enfrenta uma investigação pela Administração de Cibersegurança do governo.

Por que importa: além da necessidade de reabrir canais de comunicação com a liderança chinesa, os parlamentares devem se ocupar com a defesa de interesses das empresas americanas operando na China. Segundo a Bloomberg, os parlamentares querem se encontrar com a comunidade empresarial americana em Xangai para discutir o ambiente dos negócios na cidade.

  • O momento é oportuno. Na sexta (29), um executivo sênior da consultoria de riscos americana Kroll foi impedido de deixar a China. Especialista em reestruturação societária, Michael Chan reside em Hong Kong e estava na China continental a trabalho. O The Wall Street Journal informou que ele estaria "auxiliando em uma investigação de um caso aberto anos atrás";

  • Recentemente, outras empresas americanas também tiveram embates com o regime chinês. Em março, por exemplo, a polícia fechou o escritório da consultoria Mintz Group em Pequim, prendendo cinco funcionários da empresa. Em agosto, a empresa foi novamente alvo de operações de busca, posteriormente multada em US$ 1,5 milhões por conduzir "pesquisas estatísticas não autorizadas";

para ir a fundo

  • A Rede Brasileira de Estudos da China abriu inscrições para os interessados em participar da 6° edição do encontro anual dos pesquisadores associados. O evento ocorrerá nos dias 24, 25 e 26 de outubro na Universidade Federal do ABC e contará com palestras, mesas de discussão e lançamento de livros. (gratuito, em português)
  • Diante dos problemas econômicos que se anunciam na China, vale a pena ler a sóbria análise do professor da Universidade de Leiden, Yuan Yi Zhu, publicada pelo The Times no último fim de semana. Yuan faz um panorama da situação e explica por que as dificuldades atuais não serão tão simples de resolver como no passado. (paywall poroso, em inglês)
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.