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Cúpula no Egito discute guerra Israel-Hamas e termina sem avanços

Líderes não chegam a consenso para declaração conjunta em encontro com objetivo de evitar escalada do conflito

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São Paulo

O Egito sediou neste sábado (21) uma cúpula de paz com o objetivo de evitar que o conflito entre israelenses e palestinos escale para uma guerra regional mais ampla. A reunião, porém, terminou sem avanços, o que já era esperado em razão dos impasses nas negociações entre líderes do Oriente Médio e do Ocidente.

Enquanto os países de maioria árabe e muçulmana apelaram pelo fim imediato da ofensiva de Israel contra Gaza, os líderes ocidentais manifestaram, na sua maioria, objetivos mais modestos, como a entrada de ajuda humanitária no território palestino.

O presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, posa para uma foto com outros líderes antes da cúpula internacional do Cairo pela paz no Oriente Médio, na Nova Capital Administrativa (NAC), a leste do Cairo, no Egito
O presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, posa para uma foto com outros líderes antes da cúpula internacional do Cairo pela paz no Oriente Médio, na Nova Capital Administrativa (NAC), a leste do Cairo, no Egito - Presidência do Egito, via Reuters

Israel criticou o evento, por não condenar o terrorismo praticado pelo Hamas. "É lamentável que, mesmo quando confrontados com essas atrocidades horríveis, houve alguns que tiveram dificuldade em condenar o terrorismo ou em reconhecer o perigo", diz um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, reproduzido pelo The Times of Israel.

"Israel fará o que tem de fazer e espera que a comunidade internacional reconheça a sua batalha justificada", completa Israel na nota.

Participaram do encontro 19 países, dentre eles os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Rússia, China, França, Estados Unidos e Reino Unido), além de emissários da União Europeia e da própria ONU. O Brasil foi representado pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que manteve a posição humanitária do país em relação ao conflito.

Vieira descreveu os ataques do Hamas como "terroristas" e disse que Israel, como o "poder ocupante", tem responsabilidades específicas em relação aos direitos humanos dos civis envolvidos. O chanceler destacou os esforços do Brasil, à frente da presidência do Conselho de Segurança da ONU, para chegar a uma solução.

"Os muitos votos favoráveis que o projeto [brasileiro] de resolução recebeu –12 de 15– são prova do amplo apoio político a uma ação rápida por parte do Conselho. Acreditamos que essa visão é partilhada pela comunidade internacional em geral", disse Vieira em seu discurso no Cairo. "Há um amplo apelo político à abertura de pausas humanitárias urgentemente necessárias, ao estabelecimento de corredores humanitários e à proteção do pessoal humanitário."

A proposta de resolução feita pelo Brasil teria sido aprovada pelo órgão mais importante da ONU com os votos que recebeu. Os Estados Unidos, no entanto, vetaram o texto sob a justificativa de que ele não previa o direito de autodefesa de Israel.

Em entrevista antes da cúpula, Vieira disse ser necessária a implementação de ajuda humanitária para "aliviar o sofrimento do povo de Gaza". "Não é mais possível que continuem com uma carência absoluta de todos os bens de primeira necessidade e até de água. Precisamos discutir essa questão antes que a situação se transforme num problema humanitário de maior volume", afirmou.

Washington, que atualmente não tem um embaixador designado para o Egito, foi representado na cúpula pelo encarregado de negócios da sua embaixada. A ausência de um alto funcionário dos EUA, principal aliado de Israel, e de outros importantes líderes ocidentais reduziu as expectativas sobre o que o evento convocado às pressas poderia alcançar.

Os premiês da Alemanha, Olaf Scholz, e do Reino Unido, Rishi Sunak, não participaram do encontro, assim como o presidente da França, Emmanuel Macron. Da Europa, estavam presentes, entre outros, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

Meloni disse que a comunidade internacional precisa evitar uma escalada na guerra e apresentar um caminho para a solução de dois Estados, um judeu e um palestino. Mas reconheceu que os líderes na cúpula tinham posicionamentos diferentes. "Embora nossos pontos de partida estejam distantes, nossos interesses se sobrepõem perfeitamente: que o que está acontecendo em Gaza não se amplie para um conflito mais amplo, uma guerra religiosa, um duelo de civilizações", afirmou.

No começo do encontro, líderes árabes condenaram os bombardeios israelenses em Gaza, que já duram duas semanas, e exigiram novos esforços para alcançar um acordo de paz no Oriente Médio que acabe com o ciclo de violência entre israelenses e palestinos.

O rei Abdullah, da Jordânia, denunciou o que chamou de silêncio global sobre os ataques de Israel ao território e pediu uma abordagem imparcial para a disputa. "A mensagem que o mundo árabe está ouvindo é que as vidas palestinas importam menos do que as israelenses", disse, acrescentando que estava indignado e entristecido pelos atos de violência cometidos contra civis inocentes em Gaza, Cisjordânia e Israel.

"A liderança israelense deve perceber de uma vez por todas que um Estado nunca pode prosperar se for construído sobre uma base de injustiça. Nossa mensagem aos israelenses deve ser que queremos um futuro de paz e segurança para vocês e para os palestinos."

Já o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, disse que os palestinos não serão deslocados ou expulsos de suas terras. "Nós não vamos sair, nós não vamos sair", enfatizou.

Ao final, os líderes não chegaram a um acordo para declaração conjunta, algo que já era considerado improvável devido à sensibilidade do tema. Um alto funcionário da União Europeia disse na sexta (20) que houve discussões sobre um documento conjunto, mas enfatizou que ainda existiam "diferenças". Os países europeus têm lutado para chegar a uma abordagem unida para a crise, além de condenar o ataque do Hamas, após dias de confusão e mensagens mistas.

O Egito está preocupado com a insegurança perto da fronteira com Gaza, onde enfrentou uma insurgência islâmica que atingiu o auge após 2013 e agora foi em grande parte suprimida. O posicionamento do país reflete o medo árabe de que os palestinos possam novamente fugir ou serem forçados a deixar suas casas num movimento em massa, como ocorreu durante a guerra em torno da criação de Israel em 1948.

Em seu discurso, o ditador egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, disse que seu país se opõe ao que chamou de deslocamento de palestinos para a região do Sinai. "O Egito diz que a solução para a questão palestina não é o deslocamento. Sua única solução é a justiça e o acesso dos palestinos a direitos legítimos e a viver em um Estado independente."

Com Reuters

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