Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Israel autoriza entrada de ajuda humanitária em Gaza pelo Egito após visita de Biden

Cairo concordou em abrir passagem de Rafah para entrada de caminhões com mantimentos

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São Paulo e Boa Vista

Israel anunciou nesta quarta-feira (18) que autorizará o envio de "comida, água e medicamentos" do Egito para a Faixa de Gaza após pedido do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que desembarcou em Tel Aviv durante a manhã. O território palestino, onde vivem mais de 2 milhões de pessoas, está totalmente bloqueado por Israel desde o ataque do grupo terrorista Hamas, no dia 7 de outubro.

"À luz do pedido do presidente Biden, Israel não impedirá a assistência humanitária via Egito, desde que seja apenas de alimentos, água e medicamentos para a população civil localizada no sul da Faixa de Gaza", afirmou o gabinete do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu.

Outra condição para a autorização é que os mantimentos não sejam entregues ao Hamas, que domina Gaza. O envio de ajuda humanitária por Israel, por sua vez, seguirá interditado até que o grupo terrorista liberte os reféns capturados no ataque, afirmou Tel Aviv em um comunicado.

O presidente dos EUA, Joe Biden, durante reunião com o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, em Tel Aviv - Miriam Alster/via Reuters

Biden confirmou que Israel havia autorizado a entrada de ajuda humanitária em Gaza via Egito "o mais rápido possível" e acrescentou que Washington está trabalhando com seus parceiros para que os caminhões cruzem a fronteira. O líder americano anunciou ainda uma ajuda de US$ 100 milhões (R$ 505,6 milhões) dos EUA para Cisjordânia e Gaza.

O Cairo concordou em abrir a passagem de Rafah para a entrada de caminhões que aguardam na fronteira com o território palestino "de maneira sustentável", segundo declaração da Presidência do Egito —um porta-voz afirmou que o envio de auxílio é coordenado com organizações humanitárias internacionais sob supervisão da ONU.

Nos últimos dias, diversos caminhões com suprimentos se dirigiram ao cruzamento de Rafah —o único ponto de acesso ao território palestino fora do controle direto de Israel. Até esta quarta, porém, não havia garantia de que os veículos conseguiriam atravessar.

Israel não tem presença militar ou aduaneira no local desde que desocupou a Faixa de Gaza, em 2005, mas controla, na prática, quem entra e quem sai pela passagem. Um acordo, costurado pelos Estados Unidos e pela União Europeia, entre Tel Aviv, o Cairo e a Autoridade Palestina em novembro daquele ano lançou as bases para o funcionamento da fronteira.

Entre as medidas, ficou estabelecido que o governo israelense deveria ser notificado com 48 horas de antecedência sobre a entrada ou saída de indivíduos que não estivessem em categorias isentas, como diplomatas e trabalhadores humanitários —e teria direito a se opor a esse movimento.

Depois de 2007, contudo, principalmente após o Hamas expulsar de Gaza a Autoridade Palestina, o lado palestino não exerce gestão fronteiriça e, na prática, a decisão de entradas e saídas cabe ao Egito e a Israel.

Rodrigo Amaral, professor de relações internacionais da PUC-SP, afirma que essas decisões têm como pano de fundo o aspecto histórico da relação entre os dois países. O Egito foi a primeira nação árabe a reconhecer e estabelecer laços diplomáticos com Israel, apesar das relações estremecidas ao longo do tempo, inclusive por rusgas sobre Rafah.

Em meio à guerra declarada por Israel ao Hamas, o Cairo sustenta que a passagem não foi oficialmente fechada, mas tornou-se inoperante devido aos ataques aéreos israelenses no lado de Gaza. De acordo com o chanceler egípcio, Sameh Shoukry, o posto de controle precisa de reparos para entrar em funcionamento pleno devido a danos causados pela ofensiva.

O regime egípcio também manifesta preocupação com o eventual deslocamento de centenas de milhares palestinos se o posto de controle for aberto nos dois sentidos. "O Egito rejeita qualquer tentativa de resolver a questão palestina por meios militares ou por meio do deslocamento forçado de palestinos de suas terras, o que ocorreria às custas dos países da região", afirmou o ditador Abdel Fattah al-Sisi, argumentando que a medida transformaria o Egito em base para ataques contra Israel.

A urgência das conversas de Biden com Tel Aviv e Cairo se deve à crise humanitária no território palestino. Após os ataques terroristas, Israel cortou o fornecimento de água, eletricidade, combustível e alimentos a Gaza e deu um ultimato para que todos os moradores no norte do território, onde está metade da população total, fosse para o sul.

Segundo atualizações desta terça do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), diversas famílias estavam retornando para suas casas após se deslocarem por causa das condições que encontraram no sul, onde bombas continuam sendo lançadas por Israel.

Diversas organizações pediram que Tel Aviv liberasse a chegada de mantimentos. Os hospitais de Gaza estão à beira do colapso devido à falta de insumos médicos e combustível para manter geradores funcionando.

A atuação americana para liberar a passagem, no entanto, não deve arrefecer a tensão da região. A visita de Biden acontece um dia depois do mais mortal ataque do conflito —na terça, um bombardeio ao hospital al-Ahli Arab deixou ao menos 471 mortos, segundo balanço atualizado do Ministério da Saúde local. Até esta quarta, o número de palestinos mortos no conflito passa de 3.500. Do lado israelense, foram ao menos 1.400.

A Jordânia, então, cancelou uma reunião que líderes árabes teriam com Joe Biden para discutir o conflito Israel-Hamas. "Não faz sentido discutir qualquer coisa agora que não parar a guerra", afirmou o país.

Além do rei jordaniano, Abdullah 2º, o ditador do Egito também participaria do encontro. O terceiro convidado, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, já tinha cancelado sua presença mais cedo, em protesto contra a agressão.

Autoridades de saúde de Gaza culpam Israel pelo ataque, o que o Estado judeu nega —de acordo com Tel Aviv, os responsáveis pelo atentado foram membros do Jihad Islâmico, que também contestam a acusação.

A tensão geopolítica piorou com o veto dos EUA à resolução brasileira que pedia pausas humanitárias e corredores seguros para entrega de ajuda aos civis no Conselho de Segurança da ONU. Dos 15 votos, 12 foram favoráveis ao texto, e apenas Washington votou contra.

Durante a reunião com Netanyahu, Biden afirmou que a libertação dos reféns é a prioridade agora —segundo as autoridades israelenses, 199 pessoas foram capturadas pelo Hamas. A milícia islâmica afirma que entre 200 e 250 reféns estão na Faixa de Gaza; 22 deles teriam sido mortos devido aos bombardeios israelenses no território.

O líder americano também anunciou que solicitará ao longo da semana uma ajuda "sem precedentes" para Israel no Congresso e aconselhou o Estado judeu a evitar os erros cometidos por Washington após os atentados da Al Qaeda nos EUA em 11 de setembro de 2001.

"Peço que, enquanto sentem essa raiva, não se deixem consumir por ela. Após o 11 de Setembro, nos EUA, sentimos raiva. E, enquanto buscávamos justiça e conseguíamos justiça, também cometemos erros", alertou. Biden afirmou também que a guerra atual reforçava seu apoio a uma solução de dois Estados, um israelense e outro palestino.

Com Reuters e AFP

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