Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Mauro Vieira lamenta decisão do Conselho de Segurança e diz que Brasil fez o possível

Resolução proposta para conflito no Oriente Médio teve 12 votos de 15 favoráveis, mas EUA vetou documento

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Brasília

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, lamentou nesta quarta-feira (18) a rejeição da resolução proposta pelo Brasil sobre a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas pelo Conselho de Segurança da ONU. Segundo ele, a preocupação do governo brasileiro sempre foi humanitária, e ele fez todo o possível para que o texto fosse aprovado.

"Infelizmente, não foi possível aprovar a resolução. Mas acho que, do nosso ponto de vista, como governo brasileiro, fizemos todo o esforço possível para cessar as hostilidades, interromper o sacrifício humano e dar algum tipo de assistência às populações locais e aos brasileiros que estão ainda na faixa de Gaza", disse o chanceler no Itamaraty em encontro com jornalistas pela manhã.

O chanceler Mauro Vieira fala com imprensa após reunião do Conselho de Segurança da ONU. - Brendan McDermid-13.10.2023/Reuters

Vieira falou ao lado do ministro da Defesa, José Múcio, e do comandante da Aeronáutica, Marcelo Kanitz Damasceno. "Nossa preocupação sempre foi humanitária. Cada país terá tido sua inspiração própria", completou. O Brasil presidente atualmente o Conselho de Segurança da ONU.

Além de tratar do debate na ONU, os representantes do governo também discutiram a operação de repatriação dos brasileiros na região do conflito, cuja primeira fase foi encerrada nesta quarta. Foram seis voos repatriando 1.135 brasileiros, naquela que segundo autoridades foi a maior operação realizada pelo país em situações de conflito da história.

Houve 12 votos favoráveis, mas os EUA, que historicamente blindam Israel no conselho, vetaram a resolução. A embaixadora americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, afirmou que o voto contrário se deveu à ausência de uma normativa reforçando o direito de Israel de se defender. Ela acrescentou que o país está fazendo "diplomacia concreta" com a viagem do presidente americano, Joe Biden, a Israel nesta quarta.

Enquanto isso, a Rússia, que havia apresentado sua própria proposta e tentado fazer duas emendas ao texto brasileiro, se absteve, assim como o Reino Unido.

De acordo com integrantes do governo, não há previsão de fazer um novo texto para a resolução. Sua avaliação é de que o Brasil cumpriu seu papel e deixou o ônus com aqueles que negaram a saída diplomática para a crise —no caso, os americanos.

Vieira, que embarca para Nova York ainda nesta quarta para participar de reunião do Conselho de Segurança marcada antes da guerra, voltou a comentar o veto americano em audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado. Na ocasião, ele argumentou que o episódio reforça a necessidade de uma reforma no Conselho de Segurança e da ONU como um todo.

"Nosso objetivo era encontrar uma saída. A resolução foi aprovada. Dos 15 países membros, 12, inclusive o Brasil, votaram a favor. Dois se abstiveram. E um votou contra, e, com direito de veto, não avançou. O que nos resta a fazer? Continuar insistindo, tanto pela reforma do conselho quanto da ONU, em geral. E também em fazer os outros atores, sobretudo os membros permanentes, que são grandes potências, verem que há outros países que têm uma contribuição a dar", disse Vieira, acrescentando que considerava a votação uma "vitória diplomática" do Brasil.

O senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) depois rebateu a declaração do chanceler: "O que nós temos é uma resolução vetada, e vetada por um país que é um aliado histórico e estratégico do Brasil. Sinceramente não vejo [o episódio] como uma vitória diplomática".

Vieira ainda foi duramente cobrado por senadores da oposição sobre a recusa do Brasil em considerar o Hamas uma organização terrorista. Ao responder, o ministro recorreu a uma justificativa já dada pelo governo antes, de que o país obedece historicamente a classificações da ONU nesse âmbito.

Ressaltou ainda que foi essa posição que tem permitido a Brasília manter diálogos com todos os lados envolvidos no conflito e dessa forma articular a retirada de cidadãos nacionais da zona de conflito. "Essa é a nossa posição em todo o tipo de conflito, em todas as questões", completou.

Por fim, Vieira afirmou que, apesar da derrota da resolução, o Brasil não poupará esforços para a criação de um corredor humanitário por onde população atingida pela guerra possa receber ajuda. Ele disse não ter previsão de quando a fronteira entre Gaza e Egito será aberta, mas comentou que terá nova conversa com seu homólogo egípcio para tratar do tema.

O ministro também disse que o conflito corre o risco de levar a um "transbordamento para outros países" e que os reflexos seriam "terríveis para todos, para o mundo". Vieira participou de audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado.

"Acho que esse conflito ainda será longo e que riscos existem de todos os lados. Não podia deixar de dar essa posição", concluiu.

Há um grupo de brasileiros esperando a abertura da passagem de Rafah, que liga Gaza ao Egito, para serem resgatados pelo governo brasileiro. A área, que segue sob intensos bombardeios, sofre ainda com uma crise humanitária decorrente do cerco israelense à região. O governo brasileiro enviou 40 purificadores de água e medicamentos para lá, mas aguarda a abertura de um corredor humanitário para a entrega.

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