Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Hospital em Gaza ficou cheio de corpos desmembrados após explosão, diz médico

Centro de saúde bombardeado era refúgio para civis e atendia pessoas de todas as religiões

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Nidal al-Mughrabi
Gaza | Reuters

Fadel Naim, chefe de cirurgia ortopédica do hospital al-Ahli Arab, na Faixa de Gaza, havia acabado de terminar um procedimento quando ouviu uma enorme explosão.

"As pessoas correram para o departamento de cirurgia gritando: 'nos ajudem, nos ajudem'", conta ele. "O hospital estava cheio de feridos e corpos desmembrados (...). Tentamos salvar quem pudemos, mas o número era muito grande para a equipe."

A explosão desta terça-feira (17) matou centenas de palestinos e afetou uma missão diplomática do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que chegou a Israel na quarta-feira (18) para tentar acalmar a região, mas foi ignorado pelos líderes árabes que cancelaram uma cúpula de emergência.

Pessoas se reúnem em torno de corpos de palestinos mortos em ataques aéreos israelenses no hospital Ahli Arab, no centro de Gaza - Dawood Nemer - 17.out.2023/AFP

Autoridades palestinas culparam um ataque aéreo israelense pela explosão. Israel, por sua vez, disse que a explosão foi causada pelo lançamento fracassado de um foguete pelo Jihad Islâmico da Palestina, que negou a acusação.

Fundado em 1882, o Ahli Arab é o hospital mais antigo de Gaza, segundo informações de seu próprio site. O nome, em árabe, significa "hospital do povo árabe". Estima-se que, a cada ano, cerca de 45 mil pessoas sejam atendidas no local.

O médico Ibrahim Al-Naqa estava orgulhoso da entidade de 100 anos. Em uma região de conflito, o centro de saúde acolhia pessoas de todas as religiões e oferecia aos pacientes uma igreja e uma mesquita.

Na terça, porém, pessoas que buscavam abrigo da mais intensa campanha aérea em Gaza em décadas entraram no hospital para morrer. O sangue manchou as paredes e o chão de um lugar antes pacífico.

"Este lugar era um refúgio seguro para mulheres e crianças, aqueles que conseguiram escapar dos bombardeios israelenses", diz Naqa. "Sem aviso prévio, este hospital foi alvo. Não sabemos como a bomba se chama, mas vimos os resultados quando ela atingiu crianças e despedaçou seus corpos."

O número de mortos na explosão do hospital foi de longe o mais alto de qualquer incidente único em Gaza no atual conflito, e provocou protestos na Cisjordânia ocupada e em outros locais da região, incluindo na Jordânia e na Turquia.

Segundo o médico britânico-palestino Ghassan Abusittah, o hospital estava tremendo o dia todo por causa dos bombardeios. Ele disse que ouviu o som de um míssil pouco antes da explosão e, em seguida, o teto da sala de cirurgia desabou sobre ele e outros médicos. No pátio, ele podia ver corpos e membros por toda parte. Um de seus atendidos após o ataque era um homem que teve as pernas arrancadas.

Antes disso, a situação já era difícil —nos últimos dias, o bloqueio de Israel à Faixa de Gaza fez o sistema de saúde do território entrar em colapso, com médicos lutando até mesmo por recursos básicos. "Estamos exaustos. O número de pacientes só aumenta", disse Abusittah.

A explosão inflamou a região, convulsionada desde quando o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, realizou um ataque contra comunidades no sul de Israel, em 7 de outubro. Os atentados mataram pelo menos 1.300 pessoas e fizeram dezenas de reféns.

Israel, então, respondeu com os ataques aéreos mais intensos já realizados na bloqueada Faixa de Gaza e concentrou tropas e tanques em sua fronteira.

Nesta quarta, o exército de Israel divulgou supostas evidências de que um foguete palestino mal direcionado causou a explosão. O Hamas sustenta que foi um ataque aéreo israelense, enquanto o Jihad Islâmico rejeita as acusações de Tel Aviv.

Antes da explosão, pelo menos 3.000 pessoas haviam morrido em 11 dias de bombardeios israelenses, segundo autoridades de saúde em Gaza. As cenas de destruição do hospital, porém, foram chocantes mesmo para os padrões dos últimos 12 dias.

O porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, Ashraf Al-Qidra, disse que 471 palestinos foram mortos e mais de 314 ficaram feridos no hospital.

"O massacre realizado pela ocupação israelense no Hospital Batista é o massacre do século 21 e é uma continuação de seus crimes desde a Nakba de nosso povo, em 1948", disse Salama Marouf, chefe do escritório de mídia do governo do Hamas, em referência ao episódio em que palestinos foram forçados a deixar suas casas durante a guerra de 1948, durante a criação de Israel.

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