Mais de 170 israelenses partem de São Paulo rumo a Tel Aviv para lutar na guerra

Grupo com pessoas que estavam em diversos países da América Latina viaja com apoio do serviço diplomático de Israel

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Guarulhos

Mais de 170 israelenses que estavam na América Latina embarcaram nesta sexta (13) rumo a Israel para se somar ao Exército na guerra contra o grupo terrorista Hamas e ajudar serviços de emergência. Alguns foram convocados, e outros se prontificaram a ir.

O embarque ocorreu no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, onde se reuniram homens e mulheres que estavam no Brasil ou vieram de outras nações da vizinhança.

"Quero deixar claro que nós não odiamos os palestinos", disse Jonathan, 22, que não quis dar o sobrenome e carregava uma bandeira de seu país durante o check-in no terminal 3. "Nós apenas amamos Israel", seguiu o israelense, que visitava a América Latina a turismo. Ele veio diretamente do México —sua última parada seria na Colômbia.

O grupo, formado majoritariamente por adultos de 20 a 30 anos, relatou a interrupção de seus planos para retornar ao país. Havia entre os israelenses não só reservistas do Exército como paramédicos, que regressam para ajudar em hospitais, além de outros voluntários.

Roni Harel, 31, serviu no Exército no início da vida adulta, como a maior parte dos cidadãos de seu país. No Brasil há duas semanas com o marido, também reservista, ela passava a lua de mel em Salvador. O plano de ficar mais três semanas no litoral brasileiro foi interrompido.

"Não conseguimos aproveitar. Apenas pensávamos na nossa família. Há medo, claro. Meu corpo todo está tremendo, e tive pesadelos", relatou. "Mas o único lugar em que queria estar agora é Israel."

No país, todo cidadão maior de 18 anos deve servir ao Exército se for judeu —com exceção dos ultraortodoxos— druso ou circassiano. Homens servem pouco mais de dois anos e meio, e mulheres, dois anos.

Assim, Israel tem um enorme contingente de reservistas, que são todos aqueles que fizeram o serviço obrigatório. Tel Aviv afirma que convocou 300 mil deles para se somar às fileiras.

Mas entre o grupo que se reunia no terminal 3 de Guarulhos havia também quem não vai se somar à luta armada.

Tal Hisherik, 22, também fazia turismo pela América Latina e veio da Colômbia para pegar o voo de volta para casa. Ela sonha em estudar medicina em Tel Aviv. Agora, retorna a Israel para ser voluntária em algum hospital.

Daniel Taller, 29, estava na Amazônia colombiana para um trabalho de pesquisa com indígenas locais. O objetivo era conseguir participar de projetos de ajuda humanitária na região, mas, perante a guerra, ele diz que sentiu que o lugar que mais demandava sua presença era Israel.

O paramédico volta ao país para servir "onde o designarem". "Serviços de emergência estão sobrecarregados. Além dos feridos, há crises desencadeadas pelo medo e pela ansiedade generalizados."

Taller também expressa o medo que sente pelos palestinos que estão em Gaza. Frente à iminência de uma invasão por terra do território adjacente a Israel, ele diz esperar que as ações do Exército "causem o mínimo de consequências possível para os civis".

Alguns dos presentes também tinham cidadania brasileira, como Rachel Safdid, 20, que é parte do Exército de Israel e passava férias no Brasil, onde visitava o pai. "Minha mãe e meus amigos estão em Israel. Todo israelense hoje conhece alguém que foi sequestrado, morreu ou está desaparecido", relata. "É uma mistura de muita angústia e muito alívio por poder voltar e ajudar."

A brasileira Thais Semer esteve no aeroporto para acompanhar o embarque do namorado, Henly, que ela diz ter sido convocado para lutar. Henly nasceu no Brasil, mas, com dupla cidadania, tinha ido a Israel prestar o serviço obrigatório. Agora, volta ao país.

Entre o grupo havia também crianças. Segundo Rafael Erdreich, cônsul de Israel em São Paulo, são todas parentes de reservistas. O diplomata afirmou que esse não é o primeiro voo que sai da América Latina com repatriados —ao menos outros dois já partiram de México e Peru.

Erdreich diz que é grande o volume de israelenses que voluntariamente tentam voltar ao país para ajudar na defesa, mas que a disponibilidade de voos comerciais já começou a diminuir em razão da guerra. Teria sido isso que impulsionou a iniciativa diplomática de organizar as viagens.

Muitos dos presentes relataram conhecer ao menos uma pessoa vítima desta guerra, em sua maioria aqueles que estavam presentes no festival de música atacado por membros do Hamas no último sábado (7), nos arredores da Faixa de Gaza. Foi no evento que, acredita-se, os três brasileiros até aqui vítimas da guerra morreram.

Israel tem recebido larga oferta de voluntários que querem se somar à defesa de Tel Aviv. Apenas a embaixada em Brasília estima receber de 100 a 150 emails por dia.

Foi o caso do enfermeiro Pedro Soares Ribeiro da Silva, 35, morador do Rio de Janeiro, que mandou uma mensagem para se voluntariar.

"Depois de ver as imagens que estão sendo amplamente divulgadas da invasão do Hamas, inclusive na festa rave, com sequestros de pessoas de idade e crianças, tive esse sentimento de auxiliar", diz ele.

Silva, que já foi voluntário em enchentes e desabamentos no Rio, acredita que poderia atuar tanto nessas situações de resgate quanto em emergências hospitalares e até mesmo no Exército, usando a experiência que teve no Brasil durante seu alistamento militar. "Sempre tive essa vontade de fazer algo."

A representação diplomática diz que agradece a empatia com o país neste momento, mas que, ao menos por ora, não está aceitando voluntários, sejam eles de dupla nacionalidade —brasileira e israelense— ou não. Tel Aviv está convocando apenas aqueles que já serviram ao Exército e estão inscritos como reservistas.

Colaborou Marília Miragaia, de São Paulo

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