Brasileiros seguem em Gaza apesar de apelo do Itamaraty

Grupo de 34 pessoas não entrou na lista desta sexta, que tinha 367 americanos e 127 britânicos

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São Paulo

Apesar das gestões feitas pelo Itamaraty na véspera, o grupo de 34 pessoas que se inscreveram para serem repatriadas ao Brasil na Faixa de Gaza seguiu nesta sexta-feira (3) no território sob bombardeio intenso de Israel.

"Ainda sem brasileiros", disse o embaixador do Brasil em Ramallah, na Cisjordânia, Alessandro Candeas. Ele trata há quase quatro semanas do processo para tentar tirar o grupo, formado na sua composição atual por 24 brasileiros, 7 palestinos buscando imigrar e 3 parentes deles.

Mulher e bebê com dupla nacionalidade palestino-americana têm documentos checados na entrada para o Egito em Rafah
Mulher e bebê com dupla nacionalidade palestino-americana têm documentos checados na entrada para o Egito em Rafah - Said Khatib - 2.nov.2023/AFP

A lista informada pelo governo do Egito tem 571 nomes de Alemanha, Estados Unidos, Itália, Indonésia, México e Reino Unido. Assim como na véspera, quando 400 nomes eram de seus cidadãos, americanos são maioria: 367. Britânicos, por sua vez, são 127 dos escolhidos.

Washington e Londres são aliados de primeira hora de Israel, mas a Indonésia, também agraciada agora, é um país de maioria muçulmana que não tem laços diplomáticos com Tel Aviv.

A frustração vem depois de o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, procurar seu colega egípcio, Sameh Shoukry na noite de quinta (2). Ambos foram colegas como embaixadores de seu país em Washington, de 2010 a 2012, e o ministro do Egito disse que iria analisar o caso nesta sexta.

Vieira já havia falado antes, por quatro vezes, com Shoukry, além de duas conversas com o homólogo israelense e uma tanto com o secretário de Estado americano quanto com seu par qatari. O processo de liberação de estrangeiros e feridos graves de Gaza começou na quarta (1º), e já atendeu quase 1.000 dos cerca de 7.000 cidadãos elegíveis a sair.

Egito, Israel, e EUA são centrais no processo de liberação, além do Qatar, país do golfo Pérsico que abriga parte da liderança do Hamas, grupo terrorista que comanda Gaza e cujo mega-ataque aos israelenses em 7 de outubro levou à guerra atual. Todos são consultados sobre os nomes a deixar o território palestino.

A saída dos estrangeiros ocorre pela passagem de Rafah, que liga as cidades homônimas em Gaza e no Egito. O Cairo comanda os portões, mas ali só é possível passar com um arranjo de segurança com Tel Aviv, que segue bombardeando a área enquanto concentra sua operação militar por terra no norte da Faixa de Gaza, a partir dos limites da capital do território.

Na quinta, as IDF (Forças de Defesa de Israel) disseram ter cercado a capital, também chamada Gaza, e iniciado combates em sua região central. Mas bombardeios seguem em Rafah, onde há 18 pessoas do grupo brasileiro, e 16, em Khan Yunis, cidade cerca de 10 km ao norte.

A situação é angustiante, como relata Candeas e os refugiados que divulgam vídeos para relatar seu cotidiano. Um deles, Hasan Rabee, espalhou na quinta uma gravação em que criticava o governo federal, apesar de o Itamaraty ter trabalhado para manter as famílias abastecidas e ter promovido a retirada de parte delas da cidade de Gaza, onde foram concentradas numa escola católica no começo da guerra.

No Itamaraty, a palavra de ordem é compreensão com a insatisfação dos brasileiros, pela tensão óbvia que a situação gera. Se e quando conseguir sair, o grupo será repatriado a partir de um voo provavelmente do Cairo, onde está parado um avião VC-2 da Presidência, uma versão de transporte de autoridades do Embraer-190.

Até aqui, 1.410 brasileiros foram retirados de Israel, e um grupo de 32 pessoas, das quais 30 eram brasileiras, da Cisjordânia, na maior operação do tipo em tempos de guerra da Força Aérea Brasileira.

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