Brasileiros seguem fora de lista para sair de Gaza; americanos são maioria

Escolha é feita pelo Egito, destino de refugiados, e Israel; embaixador diz ser teimoso

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São Paulo

O Brasil continuou fora da lista de países que podem retirar cidadãos da Faixa de Gaza para o Egito conforme acordo entre os governos israelense e egípcio, moderado pelo Qatar com coordenação dos EUA, nesta quinta-feira (2).

A relação foi passada ao embaixador do Brasil na Cisjordânia, Alessandro Candeas, durante a manhã (madrugada no Brasil). Foi autorizada a saída de pessoas do Azerbaijão, Bahrein, Bélgica, Coreia do Sul, Croácia, Estados Unidos, Grécia, Holanda, Hungria, Itália, Macedônia, México, Suíça, Sri Lanka e Chade.

Menina palestina ferida é levada por enfermeiro para ser transferida ao Egito em Rafah, na Faixa de Gaza, no primeiro dia de saída de pessoas do território sob ataque de Israel
Menina palestina ferida é levada por enfermeiro para ser transferida ao Egito em Rafah, na Faixa de Gaza, no primeiro dia de saída de pessoas do território sob ataque de Israel - Rizek Abdeljawad - 1º.nov.2023/Xinhua

Os americanos são, após pressão pessoal de Joe Biden, o principal grupo, com 400 dos 576 nomes autorizados. O presidente havia postado na véspera, quando o acordo passou a valer com a saída de ao menos 320 pessoas de Gaza, que a decisão havia acontecido após sua gestão sobre as autoridades.

O Hamas, grupo terrorista palestino cujo ataque de 7 de outubro levou à retaliação israelense sobre Gaza, que comanda desde 2007, não fez parte da discussão direta sobre esses refugiados. Eles fogem das bombas de Tel Aviv, que seguiram caindo sobre todo o território com 2,3 milhões de habitantes, objeto de uma ofensiva terrestre.

"Eu acho que nós precisamos de uma pausa. Uma pausa nos dá tempo para tirar os prisioneiros", afirmou Biden na noite de quarta (1º) ao responder a um apoiador que se disse rabino num comício de pré-campanha à reeleição. Ele se referia aos 240 reféns que o Hamas tomou, segundo Israel, há quase um mês. O grupo diz que 57 deles morreram em bombardeios de Tel Aviv.

Há 34 pessoas inscritas para repatriação pelo Itamaraty que estão em Gaza, 18 delas já na cidade fronteiriça de Rafah, que liga a faixa ao Egito, e 16, a 10 km de distância, em Khan Yunis. Dessas, 24 são brasileiras, e o restante, palestinos que querem imigrar.

O posto de trânsito de Rafah é controlado pelo Egito, mas sua abertura demanda coordenação com Israel para evitar ataques aéreos à região quando estiverem passando por lá pessoas ou caminhões com ajuda humanitária. A escolha de quem vai entrar é do governo egípcio, que aprova a lista com Israel, EUA e Qatar, mediador em contato com o Hamas. A ideia é controlar todos os indivíduos que saem.

"Todo dia é uma perspectiva. Nós somos teimosos", disse Candeas à Folha. Ele diz que a indefinição é terrível para o grupo brasileiro, que sofre com grande angústia desde que o processo de retirada começou, há quase quatro semanas.

Na quinta, os dois mais ativos membros do grupo em redes sociais se queixaram do atraso em vídeos gravados. Hasan Rabee, que está em Khan Yunis, foi mais crítico do governo brasileiro, enquanto Shahed al-Banna, em Rafah, expressou mais sua frustração e tristeza.

Segundo a reportagem ouviu no Itamaraty em Brasília, essa é uma realidade exacerbada pelo mundo integrado das redes, mas o fato é que não há certeza de quando o país conseguirá retirar seus protegidos.

Na pasta, a teoria segundo a qual Israel está deixando o Brasil em segundo plano na sua coordenação com o Egito como retaliação por sua atuação à frente do Conselho de Segurança da ONU em outubro, quando buscou resoluções que atendessem os palestinos de Gaza também, é vista mais como hipótese do que como realidade aferível.

O mesmo se pode dizer acerca da irritação, essa identificada por diplomatas, de Israel e dos EUA pela movimentação do assessor internacional de Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-chanceler Celso Amorim, que procurou conversar sobre os brasileiros com a Turquia e a Liga Árabe, adversários de Tel Aviv, e com a China, rival de Washington.

Contra essas hipóteses há o fato de que os EUA não estiveram na primeira leva de liberados, assim como aliados ocidentais de Israel como a Alemanha seguem fora. Por outro lado, a Indonésia, país que nem reconhece o Estado judeu, esteve na estreia do processo, que pode levar até duas semanas.

Apesar disso, a protelação causa frustração entre os diplomatas brasileiros. O chanceler Mauro Vieira falou várias vezes com seus pares no Egito, Israel e EUA sobre a questão de Gaza, e mesmo o presidente Lula fez o mesmo com os líderes locais.

O insucesso acaba ofuscando trunfos políticos, como a repatriação de 1.410 brasileiros de Israel e mesmo de 32 cidadãos que deixaram a Cisjordânia, sem alarde prévio, na quinta por meio de um voo da Presidência na Jordânia.

Ainda assim, a diplomacia crê que talvez haja uma boa notícia até esta sexta (3), embora isso seja apenas especulativo. O Egito estima em 500 o número de pessoas que passarão diariamente pela fronteira, de um total de talvez 7.500 estrangeiros em Gaza.

Quase todos os 81 palestinos em estado mais grave devido a ferimentos nos bombardeios já puderam sair, mas voltarão a Gaza porque o país árabe não quer um êxodo para a península do Sinai para não validar uma expulsão por Israel do território e criar mais uma crise humanitária.

Quando o grupo brasileiro passar, será recebido por uma equipe do Itamaraty do outro lado da fronteira, que o levará de ônibus para o Cairo, de onde voará para o Brasil num VC-2, versão do Embraer-190 a serviço da Presidência que já se encontra na capital egípcia.

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