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Egito defende inclusão do Hamas em cenário pós-guerra em Gaza, diz jornal

Propostas que não contemplam o grupo terrorista não são realistas, teria dito um funcionário do Cairo ao The New Arab

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São Paulo

Propostas que excluam o Hamas e o Jihad Islâmico da Faixa de Gaza não são realistas, e esses grupos deveriam ser incluídos no cenário político do território palestino após o fim da guerra. A declaração teria sido feita ao jornal do Qatar The New Arab por um funcionário do governo do Egito com conhecimento das negociações sobre o conflito.

A guerra, iniciada no dia 7 de outubro após um ataque do Hamas ao sul de Israel deixar cerca de 1.200 mortos, tem como principal objetivo a aniquilação da organização terrorista, conforme autoridades israelenses têm repetido à exaustão para justificar o enorme custo humanitário dos combates à população civil de Gaza, sob domínio da facção.

Palestino ao lado de corpos de familiares mortos após ataque de Israel na região do hospital Nasser, em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza - AFP

Segundo o site, esse funcionário afirma que, enquanto os Estados Unidos pressionam as partes a garantir um cenário em que o Hamas seja expulso do território palestino após a guerra, o Egito tenta emplacar uma proposta que não exclua o grupo, mas tampouco o mantenha como a força política dominante, como ocorre atualmente.

A suposta afirmação ocorre após uma proposta do Cairo ser rejeitada pelos dois grupos islâmicos nesta semana, segundo afirmaram dois funcionários da segurança do país à agência de notícias Reuters. Nela, os egípcios teriam apresentado a possibilidade de o Hamas e o Jihad Islâmico abandonarem o poder em Gaza em troca de um cessar-fogo permanente.

De acordo com essas pessoas, porém, membros das facções teriam rejeitado a ideia, o que eles negam. Os líderes do Hamas e do Jihad Islâmico têm insistido repetidamente que o futuro pós-guerra deve ser decidido pelos próprios palestinos, não por estrangeiros.

A trégua proposta pelo Egito aconteceria em várias etapas segundo os funcionários do país. Primeiro, haveria um cessar-fogo temporário de dez dias em que o Hamas libertaria todas as mulheres, crianças e idosos mantidos como reféns.

Em troca, Israel liberaria um número previamente acordado de prisioneiros palestinos dos mesmos grupos, interromperia os combates, realocaria tanques para fora de áreas povoadas e permitiria a entrega de ajuda médica, alimentos, combustível e gás de cozinha, além de permitir o retorno das pessoas ao norte de Gaza.

O cessar-fogo evoluiria até a libertação de todos os reféns sob custódia do Hamas em troca de um número acordado de prisioneiros palestinos e a interrupção de hostilidades por parte de ambos os lados.

"Há muitas ideias sendo apresentadas, e estamos lidando com elas com base no fato de que queremos um fim abrangente da agressão, e não tréguas temporárias. Estamos abertos a ideias que possam levar a isso", disse a repórteres no Líbano Osama Hamdan, membro do Hamas. Na quinta-feira (28), um representante da facção afirmou à agência de notícias AFP que uma delegação do grupo viajaria a Cairo na sexta para compartilhar suas observações acerca do plano de paz egípcio.

O grupo, ao lado do Jihad Islâmico, insiste ainda em um acordo que liberte todos os palestinos das prisões israelenses. Israel, por sua vez, tem estado aberto a outro cessar-fogo temporário, mas também rejeita as demandas pelo fim do conflito e pela retirada das forças de Gaza.

No último cessar-fogo, no fim de novembro, 105 reféns foram libertados pelo Hamas ao longo de uma semana, sendo 81 israelenses, 23 tailandeses e um filipino. Em troca, Tel Aviv libertou 210 mulheres e adolescentes palestinos.

Desde então, os bombardeios em Gaza foram retomados e deixaram grande parte da faixa em ruínas. Segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas, mais de 21 mil pessoas já morreram nos ataques desde 7 de outubro —quase 1% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza. Há ainda milhares de desaparecidos.

Praticamente todos os que sobreviveram foram expulsos das suas casas pelo menos uma vez, e muitos foram forçados a se deslocar várias vezes. Nesta quinta, por exemplo, dezenas de milhares de famílias palestinas que já haviam deixado suas residências fugiram novamente em um êxodo em massa no centro de Gaza, onde as forças israelenses atacaram áreas repletas de pessoas que saíram do norte a mando de Tel Aviv.

Mais ao sul, as forças israelenses atacaram a área ao redor do hospital al-Amal, no coração de Khan Yunis. O Crescente Vermelho Palestino, que administra o centro de saúde e tem sede nas proximidades, disse que dez palestinos foram mortos e 12 feridos em um bombardeio, o terceiro ataque na área ao redor do hospital em menos de uma hora.

Perto dali, no hospital Nasser, o principal da cidade e o maior ainda em funcionamento, mulheres e crianças gritavam enquanto mortos e feridos eram trazidos para tratamento.

Em uma cama, um menino estava imóvel enquanto os médicos tentavam reanimá-la até um dos profissionais sinalizar que ele estava morto. Ao lado dali, uma mulher segurava duas meninas que choravam, cobertas de poeira, enquanto um bebê envolto em uma mortalha branca e ensanguentada era colocado pelas pernas ao lado de outro corpo enrolado em um cobertor.

"Mais de 150 mil pessoas –crianças pequenas, mulheres grávidas, pessoas com deficiência e idosos– não têm para onde ir", disse a UNRWA, organização da ONU para refugiados palestinos e a principal entidade humanitária a operar em Gaza, numa publicação nas redes sociais condenando o que chamou de "deslocamento forçado".

"Esse momento chegou. Eu desejava que isso nunca acontecesse, mas parece que o deslocamento é uma obrigação", disse Omar, 60, ao contar ter sido forçado a se mudar com pelo menos 35 familiares.

"Estamos agora numa tenda em Deir al-Balah por causa desta brutal guerra israelense", disse ele à Reuters por telefone, recusando-se a fornecer um segundo nome por medo de represálias. "Israel está matando médicos, influenciadores, jornalistas e civis."

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