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Yu Peng

China-Brasil: amizade que vence distâncias, juntos por um futuro melhor

Evolução complexa e profunda do cenário mundial dá razões de sobra para os países aprofundarem sua parceria estratégica

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Yu Peng

Cônsul-geral da China em São Paulo

Como diplomata, estou pronto para quaisquer destinos de viagem, mas nunca imaginei que iria servir na América Latina. Mesmo já tendo ouvido sobre a beleza da Amazônia, do futebol-arte e de seu café saboroso, ainda sabia muito pouco sobre o Brasil, um país tão distante. Foi com curiosidade, assim que parti no fim de setembro para a maior cidade da América do Sul, com a missão de ser o novo cônsul-geral da China em São Paulo.

Nos últimos três meses, minha agenda tem estado sempre cheia: reuniões com membros do governo de São Paulo, eventos comerciais, visitas a empresas e à comunidade chinesa.

Desfile de Dragão Chinês, no bairro da Liberdade, em São Paulo, durante as comemorações do Ano Novo Chinês - Apu Gomes - 2.fev.2013/Folhapress

No tempo de lazer, gosto de passear por esta distinta cidade. No Monumento às Bandeiras, aprendi a história dos paulistanos, enquanto no Masp senti a atmosfera artística daqui. Fiquei maravilhado com o belo design da Sala São Paulo e pude ouvir a música divina do Coro Juvenil. Na Bienal de São Paulo, apreciei um samba improvisado e provei iguarias brasileiras, como feijoada e churrasco.

Tudo isso me fez gostar ainda mais deste país e desta cidade. Mas o que mais me marcou foi a vontade dos brasileiros de compreender melhor a China e de fortalecer sua cooperação com o Brasil.

O intercâmbio cultural se torna cada vez mais uma febre. No Dia Nacional da China, o prédio da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) foi iluminado com a bandeira chinesa, atraindo vários pedestres. No aniversário de 15 anos do Instituto Confúcio na Unesp (Universidade Estadual Paulista), o menino brasileiro Ma Feilong arrancou aplausos da plateia com seu excelente kung fu.

A secretária de Cultura do estado de São Paulo, Marília Marton, falou sobre suas ideias para as celebrações culturais no próximo ano, inclusive mencionando a novela chinesa a que estava assistindo. O reitor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), juntamente com seus colegas, conversou comigo sobre suas perspectivas de cooperação futura. Os reitores da USP (Universidade de São Paulo) e da Unesp visitaram a China, enquanto os dirigentes da Universidade de Hubei e da Universidade de Fudan visitaram o Brasil, reforçando nosso intercâmbio acadêmico.

A cooperação pragmática China-Brasil também tem avançado bastante. O vice-presidente Geraldo Alckmin, em seu discurso no CEBC (Conselho Empresarial Brasil-China), exaltou o papel da China como parceiro estratégico global. O ministro [da Casa Civil] Rui Costa, dentre outros, apresentou com exclusividade o Novo PAC às empresas chinesas. Em reuniões com o governador paulista Tarcísio de Freitas e o vice-governador Felicio Ramuth, ambos expressaram disposição em receber ainda mais investimentos chineses no país.

Em menos de dois meses, delegações comerciais de mais de dez províncias chinesas visitaram São Paulo, sendo que algumas já fecharam negócios na casa dos bilhões de dólares. O escritório da InvestSP em Xangai, a Abec (Associação Brasileira de Editores Cientificos) e o CCPIT (Conselho da China para a Promoção do Comércio Internacional) têm, inclusive, colaborado bastante para o sucesso de tais negócios.

A Fiesp enviou uma delegação de mais de cem pessoas à China para participar da CIIE (Feira Internacional de Importação e Exportação do país). A 10ª Feira Internacional de Comércio China-Brasil, por sua vez, contou com mais de 500 empresas. Atualmente, cerca de 200 empresas chinesas têm filiais em São Paulo, crescendo juntamente com o mercado brasileiro.

A sociedade brasileira também está cada vez mais inclusiva. Hoje, mais de 200 mil pessoas compõem a comunidade chinesa na capital paulista, tendo sido amplamente reconhecidas como parte da cultura local. O Dia Nacional da Imigração Chinesa no Brasil e o Dia da Cultura e Imigração Chinesa foram incluídos nos calendários federal, estadual e municipal. Os Festivais da Primavera, do Meio do Outono e do Barco-Dragão se tornaram marcas culturais populares. Tanto a ajuda durante o desastre em São Sebastião quanto o auxílio mútuo entre os países durante a pandemia estreitaram laços de solidariedade entre ambos os povos.

Há pouco tempo, participei de uma cerimônia de entrega de doações à creche Luz do Vale, em Santo André. Em agradecimento, a diretora batizou a nova sala de aula de "China", a qual foi inaugurada com a presença do vice-prefeito da cidade e de líderes da comunidade chinesa. Jamais esquecerei o sorriso das crianças ao ganharem pandas de pelúcia.

Foram três meses marcantes que me levaram a refletir sobre nossas relações bilaterais. Primeiramente, sobre as semelhanças entre nossas culturas. O sociólogo brasileiro Gilberto Freyre apelidou o Brasil de "China Tropical" em razão da vastidão e mistério comuns a ambos os países. A meu ver, quando superarmos a falta de compreensão mútua devido à distância geográfica, descobriremos que somos povos naturalmente parecidos.

Tanto chineses quanto brasileiros são acolhedores, embora os chineses sejam mais reservados e os brasileiros, mais espontâneos. Aliás, ambas as civilizações também são pacíficas e inclusivas, o que é ainda mais importante atualmente, quando o choque de civilizações tem se intensificado.

É por isso que o historiador britânico Arnold J. Toynbee acreditava que o futuro da humanidade estava no Oriente e que a civilização chinesa lideraria o mundo, ao passo que o escritor austríaco Stefan Zweig, depois de viajar ao Brasil, referiu-se a ele como o "país do futuro". Freyre, por sua vez, propôs que o Brasil se aproximasse mais da sabedoria do Oriente. À medida que aprendermos mais uns sobre os outros, acredito que possamos encontrar ainda mais convergências.

Em segundo lugar, sobre o caráter estratégico das relações China-Brasil. Como os maiores países em desenvolvimento respectivamente dos hemisférios leste e oeste, importantes mercados emergentes e membros do G20 e do Brics, a China e o Brasil têm interesses comuns e posições semelhantes em muitas agendas multilaterais, avançando juntos para promover a paz e o desenvolvimento.

A partir da atual diplomacia, as relações China-Brasil entraram em uma nova fase. Num momento em que o cenário mundial está evoluindo de forma complexa e profunda, a China e o Brasil têm razões de sobra para fortalecer a confiança estratégica mútua, aprofundar a parceria estratégica global, dando exemplo de cooperação Sul-Sul na nova era, levar adiante valores universais —como paz, desenvolvimento, equidade, justiça, democracia e liberdade— e impulsionar a construção de uma comunidade com futuro compartilhado para a humanidade.

Por fim, sobre o caráter mutuamente benéfico da cooperação China-Brasil. Nós todos sofremos muito com o colonialismo e buscamos nos desenvolver visando ao bem-estar de nossos povos. O Brasil prosperou e se desenvolveu rapidamente no século 21, ao passo que a China operou o milagre do rápido desenvolvimento econômico e da estabilidade social.

Atualmente, a China está promovendo o rejuvenescimento nacional mediante a modernização do estilo chinês e o desenvolvimento de alta qualidade, baseados no novo conceito de desenvolvimento de inovação, coordenação, sustentabilidade, abertura e compartilhamento. O governo brasileiro também está promovendo a reindustrialização do país e o Novo PAC.

Assim, a China e o Brasil têm plenas condições de alinhar suas estratégias, aprofundando a cooperação em setores onde ela já existe, acelerando-a em setores nos quais ela ainda está se desenvolvendo —como economia digital, energia limpa, agricultura inteligente e biotecnologia— e elevando a parceria econômica e comercial a novos patamares.

"Nem montanhas, nem rios podem separar os que têm uma mesma aspiração." A tecnologia, por sua vez, pode facilitar nosso intercâmbio. Agora que o Brasil está presidindo o G20 e que 2024 marcará o 50º aniversário das relações diplomáticas China-Brasil, valerá a pena esperar pela cooperação entre diversos setores de ambos os países, tanto a nível bilateral quanto multilateral.

Na cultura chinesa, valorizamos o destino, ou seja, as razões por trás dos encontros entre as pessoas. Por isso, certamente devem existir motivos maiores para a minha chegada ao "país do futuro". Por ensejo do ano novo, estou ansioso para trabalhar com todos os amigos para implementar o consenso dos chefes de Estado e aprofundar a amizade e cooperação entre a China e os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, abrindo juntos um novo capítulo das relações China-Brasil. Feliz ano novo para todos e muita paz e saúde em 2024!

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