Investigação revela exaltação da violência no treinamento de policiais nos EUA

Autoridade de Nova Jersey diz ter encontrado instrutores ensinando táticas racistas e LGBTfóbicas

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The New York Times

Em um seminário de treinamento da polícia em Atlantic City, em Nova Jersey, um instrutor exibiu uma foto de um macaco enquanto contava aos participantes sobre sua interação com um homem negro de 75 anos. Outro instrutor parecia zombar da comunidade LGBTQIA+: "Ele ou ela, dele, dela, ela, ele" — qualquer coisa "que você queira chamar as pessoas agora".

E Dennis Benigno, fundador do Street Cop Training (treinamento para policiais de rua, em tradução livre), que liderou o seminário e se descreve como a empresa de treinamento policial de crescimento mais rápido nos Estados Unidos, disse aos participantes que estava ansioso por férias na Colômbia cercado de cocaína, "prostitutas" e garotas pobres que "precisam fazer coisas para ganhar dinheiro".

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Dennis Benigno, ex-policial, que fundou a Street Cop Training em 2012 - Divulgação/Controladoria do Estado de Nova Jersey - via The New York Times

Quase mil policiais de todo o país ouviram Benigno e os outros instrutores durante o seminário de seis dias, que custou US$ 499 (mais de R$ 2.400, na cotação atual), em outubro de 2021, de acordo com uma investigação e imagens de vídeo divulgadas por Kevin Walsh, controlador interino de Nova Jersey.

O dinheiro dos impostos pagou grande parte da conta. "Encontramos muitos exemplos de instrutores promovendo pontos de vista e táticas que eram extremamente inadequados, ofensivos, discriminatórios, assediadores e, em alguns casos, provavelmente ilegais", disse Walsh em um comunicado.

Em um relatório, o escritório do controlador recomendou que todos os policiais de Nova Jersey que participaram do seminário fossem treinados novamente e solicitou ao Legislativo estadual que criasse regras de licenciamento para empresas privadas de treinamento.

De acordo com os vídeos obtidos por Walsh, os instrutores fizeram mais de 100 comentários discriminatórios ou assediadores. Os treinadores também ofereceram aos participantes uma lista de verificação de "fatores de suspeita razoável" a serem usados em abordagens de trânsito —dicas que o escritório do controlador concluiu serem em grande parte inconstitucionais e, se empregadas, poderiam levar à supressão de evidências.

Benigno é um ex-agente correcional que trabalhou como policial na cidade de Woodbridge, em Nova Jersey, por cerca de 10 anos, até 2015. Em um comunicado, ele contestou a ideia de que o grupo havia "defendido qualquer prática inconsistente com a polícia de qualidade".

Benigno disse que "trechos isolados, retirados de contexto de um treinamento de uma semana" e incluídos no relatório do controlador não representavam adequadamente a instrução fornecida.

Ainda assim, ele disse que a empresa impôs "padrões mais rigorosos para a linguagem coloquial e jocosa ocasionalmente usada por alguns instrutores".

Benigno também adicionou Christopher Porrino, ex-procurador-geral do estado que é presidente do departamento de litígios de um grande escritório de advocacia de Nova Jersey, à sua equipe de advogados, disse um porta-voz. Nem Porrino nem Jonathan Cohen, que representou Benigno durante a investigação, retornaram as ligações do New York Times para comentar o caso.

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