Blinken volta ao Oriente Médio ainda sob sombra de invasão iminente de Rafah

Chefe da diplomacia americana faz sua 7ª viagem à região às vésperas de retomada de negociações de cessar-fogo

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Boa Vista

O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, viaja nesta segunda-feira (29) para três países do Oriente Médio: Arábia Saudita, Jordânia e Israel. Sua agenda inclui encontros com líderes árabes e participação em evento do Fórum Econômico Mundial, e os assuntos a tratar são muito semelhantes aos da visita anterior, também iniciada em Riad.

Esta é a sétima viagem do secretário de Estado americano à região desde que o Hamas atacou o território israelense no 7 de Outubro e deu início à guerra em curso. Blinken participa ainda de uma reunião do Conselho de Cooperação do Golfo, aliança de países da região que inclui Arábia Saudita, Kuwait, Bahrein, Qatar, Omã e Emirados Árabes Unidos.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, acena ao embarcar para a Arábia Saudita
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, acena ao embarcar para a Arábia Saudita - Evelyn Hockstein - 28.abr.24/Reuters

O presidente Joe Biden conversou com o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, neste domingo (28). Segundo comunicado da Casa Branca, o americano "reafirmou o seu firme compromisso com a segurança de Israel após a defesa bem-sucedida contra o ataque sem precedentes de mísseis e drones do Irã".

Os dois líderes também falaram sobre as negociações para a libertação de reféns, "juntamente com um cessar-fogo imediato em Gaza"; sobre entrega de assistência humanitária, que Biden defendeu que ocorra "em plena coordenação com as organizações humanitárias", e sobre Rafah, talvez o ponto mais sensível da conversa.

A cidade no sul da Faixa de Gaza é o último grande centro urbano livre de uma operação terrestre, mas alvo até aqui de ataques aéreos e lar temporário de centenas de milhares de civis deslocados pelo conflito.

A nota da Casa Branca diz apenas que "o presidente reiterou sua posição clara". O conselho público de Washington a Tel Aviv é que não invada Rafah sem um plano plausível para retirar esses civis e garantir a segurança dos mais de um milhão de palestinos na cidade que faz fronteira com o Egito.

O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, afirmou neste domingo que apenas os EUA poderiam impedir Israel de agir. "Nós solicitamos aos EUA que peçam a Israel para não seguir com o ataque a Rafah. Os EUA são o único país capaz de prevenir Israel de cometer este crime", afirmou Abbas, dizendo que a ofensiva iminente seria a "maior catástrofe da história do povo palestino".

A conversa de Biden e Netanyahu por telefone, portanto, serve de prefácio para a viagem de Blinken. Segundo o Departamento de Estado americano, o diplomata tenta ainda em sua viagem a Riad fazer avançar um plano mais amplo de estratégia, com foco no fim das hostilidades em Gaza, no compromisso para o estabelecimento de um Estado palestino, na normalização de relações entre Arábia Saudita e Israel, e no desenvolvimento de uma aliança de defesa regional que inclua sauditas, israelenses e parceiros árabes para fazer frente ao Irã.

Os movimentos poderiam funcionar como elemento de pressão sobre o primeiro-ministro israelense para encerrar o conflito, segundo especialistas.

"Se as posições de Netanyahu não mudarem, ele provavelmente não será capaz de entregar a normalização com a Arábia Saudita. Pode ser que uma oferta EUA-Arábia Saudita para essa normalização seja feita publicamente, para que quando os israelenses forem às urnas, possam considerar essa opção", afirmou Nimrod Goren, pesquisador sênior de assuntos israelenses do think tank Instituto do Oriente Médio, ao site Voice of America.

Blinken chega a Riad em meio à tentativa de reinício das negociações de trégua e com uma adição indigesta à tensão vigente entre os governos de Netanyahu e do presidente americano.

Há dias os EUA registram uma onda de protestos contra o apoio de Washington a Israel no país —principalmente em universidades de ponta, onde o democrata tem base de apoio importante em ano eleitoral— e preocupações com relação a ameaças antissemitas nesses atos.

Enquanto isso, Netanyahu convive com manifestações gigantes nas ruas e mesmo uma crise dentro do governo para acelerar um acordo que traga os reféns que ainda estão em poder do Hamas de volta para casa.

"Se um esboço responsável for alcançado para o retorno dos reféns com o apoio de todo o aparato de segurança —que não envolva o fim da guerra— e os ministros que lideraram o governo no 7 de Outubro o impedirem, o governo não terá o direito de continuar existindo e liderando a campanha", afirmou Benny Gantz, ex-premiê de Israel e integrante do gabinete de guerra, em recado a ministros da base de extrema direita de Netanyahu que seguem pressionando pela invasão de Rafah.

As negociações para um cessar-fogo e devolução dos sequestrados estão atualmente estagnadas. Israel enviou nova proposta ao Hamas, que confirmou o recebimento no sábado (27) e indicou que responderia nesta segunda, quando uma delegação do grupo terrorista vai ao Cairo para nova rodada de negociações, segundo afirmou uma autoridade da facção à agência de notícias Reuters.

Os dois lados têm sido irredutíveis em suas demandas, que podem ser resumidas, grosso modo, pela exigência de trégua permanente e saída do Exército de Israel de Gaza, do lado do Hamas, e um cessar-fogo temporário e devolução de todos os reféns, do lado de Israel.

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