Descrição de chapéu China Evergrande

Falência da Evergrande expõe mudança na relação da China com grandes corporações

Newsletter China, terra do meio explica fim da estratégia de Xi Jinping para resgatar empresas

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Igor Patrick
Washington

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A falência da Evergrande, principal incorporadora imobiliária da China, inaugura uma nova era no relacionamento entre o governo e as grandes corporações do país. A empresa vinha se arrastando para sobreviver a processos de credores há mais de 18 meses e deve ser liquidada após uma ordem de um tribunal em Hong Kong.

  • A Evergrande acumulava mais de US$ 328 bilhões (R$ 1,6 trilhões) em débitos e não conseguiu oferecer um plano de reestruturação que fosse aceito pelos credores.
  • Nos últimos anos, ela congelou ou abandonou totalmente as obras de dezenas de edifícios em toda a China continental.
Logo da Evergrande em prédio da empresa em Xangai, na China - Hector Retamal/Reuters

Ainda cabe recurso à decisão judicial. Se a liquidação for executada, será a maior falência de uma empresa chinesa desde a queda da Corporação Internacional de Comércio e Investimento de Guangdong (GITIC), no final da década de 1990.

Diante do saculejo na economia como um todo à época, nos anos seguintes o governo chinês passou a intervir para resgatar empresas consideradas "grandes demais para quebrar".

O modelo parece ter chegado ao fim. Desde o início da crise na Evergrande, iniciada em 2022, Pequim não fez movimentações para ajudar a companhia. A mensagem que ficou foi a de que gastar dinheiro com companhias deficitárias, mesmo que muito grandes, apenas aprofunda ineficiências e incentiva concorrentes a serem tão displicentes quanto.

Isso não significa, porém, que Xi Jinping e companhia não estejam preocupados com as consequências das decisões que levaram à derrocada da incorporadora.

A Evergrande se consolidou no mercado compensando alavancagens a juros baixos com o aumento no preço de imóveis. O comportamento foi incentivado por subsídios fiscais e legislações generosas para o setor da construção civil, responsável até aqui por quase um terço do PIB.

A economia vacilante e a queda no consumo pós-pandemia, porém, levaram a uma redução generalizada nos preços de imóveis novos, expondo assim a fragilidade da estratégia.

Por que importa: embora tenha sido a principal, a Evergrande não foi a única empresa a ter problemas no setor imobiliário chinês. Serão necessários meses, senão anos, para que o mercado local se ajuste à nova realidade, com consequências imprevisíveis para o crescimento econômico do país como um todo.

Pare para ver

“O Rei Macaco”, obra de Lin Fengmian, o pai da pintura chinesa moderna
'O Rei Macaco', obra de Lin Fengmian, o pai da pintura chinesa moderna - Reprodução

Sobre o autor: Lin nasceu na província de Cantão durante a era imperial chinesa e estudou com mestres da pintura na Alemanha e na França. Criticado e denunciado por maoístas durante a Revolução Cultural, deixou a China em 1977 com o pretexto de se reunir com a esposa francesa e a filha no Brasil, mas não viajou ao país sul-americano por falta de dinheiro. Morreu em Hong Kong, depois de ser reabilitado e reconhecido mundialmente. Leia mais sobre ele aqui (em inglês).

O que também importa

A China ampliou a pressão militar sobre Taiwan. Na sexta (26), enviou dezenas de aeronaves militares e navios de guerra para as proximidades da ilha. Segundo o Ministério da Defesa taiwanês, 33 aeronaves e 6 navios se aproximaram do território. Ao menos 13 destas aeronaves chegaram a cruzar o estreito que divide as duas regiões.

A Embaixada da China nos EUA alertou os estudantes chineses a não entrarem em território americano através do Aeroporto Internacional de Dulles, o principal terminal de Washington. O comunicado foi emitido após mesmo alunos com visto válido relatarem ser alvos de assédio e de interrogatórios por parte de agentes americanos. A embaixada afirmou que as práticas contrariam o consenso alcançado durante a cúpula entre Joe Biden e Xi Jinping em São Francisco no ano passado. Os estudantes foram aconselhados a documentar tratamentos injustos e denunciá-los "às autoridades competentes".

Os caças chineses J-10CE e os jatos europeus Eurofighter Typhoon participarão de exercícios aéreos em conjunto com o Paquistão e o Qatar. O objetivo é melhorar a interoperabilidade e o nível de treinamento conjunto entre os equipamentos. O Paquistão é uma das principais forças no mundo a utilizarem o modelo chinês, e Qatar tem ampliado o uso do jato europeu. Autoridades de defesa dos dois países disseram que os exercícios são uma oportunidade para as forças aéreas envolvidas "aprimorarem suas habilidades e táticas em um ambiente desafiador".

Fique de olho

Os EUA demandaram apoio da China para pressionar o Irã a interromper o financiamento dos rebeldes houthis, que há várias semanas impõem bloqueio a embarcações no mar Vermelho. A milícia xiita assumiu o poder no Iêmen após um golpe de Estado em 2014 e é financiada pelo regime de Teerã.

Os houthis afirmam que seus atos são uma campanha de apoio aos palestinos em Gaza em meio à Guerra Israel-Hamas. Sob essa justificativa, embarcações americanas e britânicas foram atacadas com mísseis.

Washington cobrou ajuda de Pequim na negociação, e o assunto foi pauta de um encontro entre o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, e o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, no fim de semana.

Por que importa: embora não queira desgastar sua relação com o Irã, um aliado de peso na região e membro recém-admitido do Brics, Pequim tem interesses no fim dos bloqueios e gostaria de ver a agressão houthi cessar.

  • Os militantes têm realizado ataques em rotas comerciais importantes no mar Vermelho, usadas não apenas por EUA e Reino Unido, mas pelo comércio global;
  • As declarações públicas de oficiais chineses em desabono às ações dos xiitas até agora foram brandas e cobraram que "todas as partes envolvidas não coloquem lenha na fogueira".

Resta saber se a China gastará capital diplomático para fazer o Irã suspender o financiamento e amenizar as tensões.

Para ir a fundo

  • E por falar em houthis, o Centro para Estudos Estratégicos Internacionais realiza na sexta uma palestra para discutir o papel da China no Oriente Médio. O painel de especialistas vai discutir as relações sino-iranianas em contexto com a guerra em Gaza. Inscrições aqui. (gratuito, em inglês)
  • A Embaixada da China no Brasil está promovendo um concurso cultural que vai premiar os vencedores com uma viagem para Foz do Iguaçu. Participantes devem comentar no post da missão diplomática no Instagram "como seria uma celebração perfeita do Ano-Novo chinês?". Duas pessoas serão contempladas com o prêmio, que inclui passagem aérea e hospedagem para os vencedores e acompanhantes. Leia mais aqui. (gratuito, em português)
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