Inabilitação de opositores na Venezuela é 'própria de regime autoritário', diz OEA

Corte de direitos humanos condena decisão da Justiça de Caracas e pede medidas para 'reconstruir a democracia'

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AFP

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) afirmou nesta quarta-feira (31) que as inabilitações de opositores na Venezuela "são próprias de regimes autoritários" e contribuem para a criação de um "ambiente de perseguição" que desencoraja o voto.

Em comunicado, o órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou uma decisão do Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela que suspendeu temporariamente as inabilitações de diversos líderes da oposição, mas manteve as de dois dos principais rivais do ditador Nicolás Maduro —Henrique Capriles e María Corina Machado.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, durante discurso na Suprema Corte de Justiça, em Caracas
O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, durante discurso na Suprema Corte de Justiça, em Caracas - Pedro Rances Mattey - 31.jan.2024/AFP

María Corina venceu no ano passado as eleições primárias da principal aliança de oposição, tendo sido a escolhida para competir no pleito nacional previsto para o segundo semestre deste ano após acordo com opositores. "Não podem fazer as eleições sem mim", disse ela, que obteve mais de 2,4 milhões de votos nas primárias, na segunda (29).

Nos últimos dias, 36 pessoas, entre civis e militares, foram detidas na Venezuela, entre elas três colaboradores de María Corina, que as autoridades vinculam a cinco "conspirações" para assassinar Maduro.

Como resposta à decisão do Supremo venezuelano de confirmar a inelegibilidade da líder da oposição, somada às prisões mais recentes, os Estados Unidos voltaram a aplicar sanções a Caracas, notadamente à empresa estatal de mineração de ouro, e prometeram não renovar o alívio ao setor de petróleo e gás do país, que vence em abril.

Washington havia retirado as restrições aplicadas ao regime Maduro em outubro. A medida foi condicionada à libertação de presos americanos e outros ligados à oposição venezuelana, além do fim das proibições eleitorais a líderes opositores.

A CIDH pede ao regime Maduro a adoção de "medidas voltadas para a reconstrução da democracia e a garantia a participação política". Decisões como a da instância judicial máxima de Caracas "contribuem para um ambiente de perseguição que desencoraja a participação cidadã nos assuntos de interesse público", prossegue o texto.

A comissão denuncia um padrão que inclui "detenções arbitrárias de dirigentes opositores e sindicalistas, projetos legislativos que restringem o funcionamento das associações civis, declarações estigmatizantes por parte de altas autoridades do Estado e atos intimidatórios".

A Justiça venezuelana "não oferece garantias de independência e imparcialidade" e "teve um papel significativo na repressão de opositores", denuncia o órgão da OEA. A acusação tem como base o fato de o Judiciário do país ter afastado do pleito "reconhecidos dirigentes da oposição", o que "anula a possibilidade de desenvolver eleições presidenciais livres, justas e competitivas".

A CIDH faz também um chamado para a adoção urgente de medidas "para restabelecer a separação e independência do Judiciário e demais Poderes".

O governo venezuelano ignora as recomendações da OEA, organização da qual saiu formalmente em 2017.

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